Por décadas, o futebol sul-mato-grossense viveu entre altos e baixos, mas o declínio que se acentuou desde os anos 70 até 2025 é, para muitos, um reflexo de má gestão, escândalos e a falta de investimento em infraestrutura. Este panorama traça as principais causas da decadência, os escândalos que abalaram a confiança de torcedores e os desafios enfrentados pela nova diretoria da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS).
Os Anos de Glória e a Fragmentação
Nos anos 70, com a divisão do estado do Mato Grosso e a criação de Mato Grosso do Sul em 1977, o futebol local herdou uma estrutura já fragilizada. Clubes como Operário, Comercial e Ubiratan tinham forte tradição e chegaram a brilhar em competições nacionais, como o Operário, semifinalista do Campeonato Brasileiro de 1977. No entanto, a falta de planejamento estratégico para consolidar o futebol no novo estado foi o primeiro sinal de alerta.
Enquanto estados vizinhos como Goiás e Mato Grosso começaram a se estruturar e integrar melhor seus clubes ao cenário nacional, Mato Grosso do Sul viu seus times perderem espaço. A ausência de categorias de base fortes, a desvalorização dos campeonatos estaduais e a falta de patrocínios robustos criaram um ciclo de estagnação.
Time do Comercial de 1973 venceu o Santos de Pelé. Foto: Divulgação.
Principais Causas da Decadência
- Má gestão e corrupção: Ao longo das décadas, a FFMS foi alvo de repetidas denúncias de má administração. Dirigentes priorizaram interesses pessoais, o que resultou em desconfiança e afastamento de investidores.
- Infraestrutura precária: Estádios como o Morenão, em Campo Grande, que já foi palco de grandes partidas, foram abandonados à própria sorte. Sem manutenção adequada, tornaram-se símbolos do descaso.
- Falta de apoio público e privado: Sem incentivos governamentais ou grandes empresas dispostas a financiar clubes, o futebol sul-mato-grossense perdeu competitividade.
- Êxodo de talentos: Jovens promessas optaram por se transferir para outros estados ou abandonar o esporte por falta de estrutura local.
- Baixa visibilidade e organização: O estadual foi perdendo relevância, com jogos mal divulgados, baixo público e nível técnico inferior ao de outros estados.
Escândalos Marcantes
Entre os episódios mais emblemáticos, destacam-se:
Desvios de recursos públicos: Em 2010, uma investigação revelou que verbas destinadas ao desenvolvimento do futebol foram desviadas para fins particulares por dirigentes.
Manipulação de resultados: Em 2016, clubes e árbitros foram acusados de combinar resultados no campeonato estadual.
Abandono de estádios: O Morenão, principal estádio do estado, tornou-se alvo de denúncias ambientais e de segurança, sendo interditado várias vezes desde os anos 2000.
O Papel da Nova Diretoria da FFMS
Com a posse de uma nova diretoria em 2024, torcedores e clubes voltaram a ter esperança. Entre as propostas da nova gestão estão:
Reforma e modernização dos estádios: O Morenão está no centro do plano de revitalização, com promessa de ser reinaugurado em 2026.
Apoio às categorias de base: Investir na formação de jovens atletas para evitar o êxodo de talentos.
Parcerias públicas e privadas: Atrair patrocinadores e criar incentivos fiscais para empresas que apoiem o futebol local.
Transparência e governança: A nova gestão promete auditorias independentes e maior participação dos clubes na tomada de decisões.
O Estádio Morenão: Palco da Mini Copa de 1972 em Campo Grande
O Estádio Pedro Pedrossian, conhecido como Morenão, consolidou-se como um dos mais emblemáticos espaços esportivos do Brasil, especialmente em 1972, quando sediou partidas históricas da Mini Copa. Localizado em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, o Morenão foi palco de um dos momentos mais marcantes do futebol regional e nacional, atraindo atenção de torcedores e da mídia.
A Mini Copa de 1972: Um Evento Memorável
Realizada como parte das comemorações do sesquicentenário da independência do Brasil, a Mini Copa reuniu seleções de diversos países e proporcionou jogos de alto nível. O Morenão, recentemente inaugurado à época, destacou-se como um dos principais palcos do torneio. A estrutura moderna e a capacidade para receber mais de 45 mil pessoas foram determinantes para colocar Campo Grande na rota do futebol internacional.
Durante a competição, o estádio recebeu partidas que encantaram o público local, trazendo à cidade um clima de festa e celebração. A atmosfera nas arquibancadas era contagiante, com torcedores vibrando a cada lance, enquanto jogadores de seleções renomadas exibiam seu talento em um torneio que serviu como vitrine para o futebol mundial.
O Papel do Morenão na História do Futebol
A participação do Morenão na Mini Copa de 1972 marcou o início de uma era de grandes eventos esportivos em Campo Grande. Desde então, o estádio passou a ser um símbolo da paixão pelo futebol e da capacidade da região de receber competições de relevância internacional.
Essa experiência também teve um impacto significativo no desenvolvimento do esporte local. A oportunidade de ver de perto seleções estrangeiras e jogadores de alto nível inspirou uma geração de jovens atletas e consolidou o futebol como uma das principais expressões culturais de Mato Grosso do Sul.
Legado e Tradição
Mais de cinco décadas após sediar a Mini Copa, o Morenão continua a ser um dos principais estádios do Centro-Oeste. Suas arquibancadas já testemunharam grandes clássicos, conquistas e momentos inesquecíveis do futebol brasileiro. O torneio de 1972 permanece vivo na memória dos torcedores e na história do esporte, reafirmando a importância do Morenão como palco de grandes realizações.
Hoje, o estádio segue recebendo jogos, eventos e competições que reforçam seu papel como um dos mais importantes centros esportivos da região, mantendo viva a tradição iniciada naquele histórico ano de 1972.
Os Estádios: Símbolos de Abandono
O Estádio Morenão, que já recebeu partidas históricas, hoje luta contra o abandono e a decadência estrutural. O Estádio Jacques da Luz, no bairro Moreninhas, segue o mesmo caminho, com gramado deteriorado e arquibancadas vazias. A revitalização dessas arenas é considerada essencial para resgatar o interesse do público e dos investidores.
A Voz dos Torcedores
Os torcedores, cansados de promessas vazias, esperam que a nova gestão cumpra com suas propostas. “O futebol sul-mato-grossense já foi motivo de orgulho, mas hoje é sinônimo de frustração. Queremos ver nossos times competindo de igual para igual com os grandes do Brasil novamente”, comenta João da Silva, torcedor do Operário.
Um Futuro em Reconstrução
A trajetória do futebol sul-mato-grossense reflete um descaso histórico, mas o momento atual sinaliza uma oportunidade de reconstrução. Se a nova diretoria conseguir implementar suas promessas, a chama da paixão pelo esporte pode voltar a iluminar os estádios do estado. Até lá, o desafio é reconquistar a confiança de clubes, torcedores e investidores para devolver ao futebol sul-mato-grossense o prestígio que outrora teve.
Os Grandes Clubes do Futebol Sul-Mato-Grossense e Suas Conquistas
O futebol sul-mato-grossense teve períodos marcantes, principalmente entre as décadas de 1970 e 1990, quando clubes como Operário, Comercial, Ubiratan, entre outros, conquistaram títulos e fizeram campanhas relevantes em competições nacionais. Porém, o declínio do cenário estadual também afetou o brilho desses clubes.
- Operário Futebol Clube (Galo)
Fundado em 1938, o Operário é o maior símbolo do futebol sul-mato-grossense.
Principais Conquistas e Resultados:
Campeonato Brasileiro de 1977: Foi o ponto alto da história do clube. O Operário chegou às semifinais da competição nacional, derrotando equipes tradicionais como São Paulo e Palmeiras. A campanha terminou com uma derrota para o São Paulo, mas consolidou o Galo como uma força emergente no cenário brasileiro.
Campeonato Sul-Mato-Grossense: O Operário é o maior vencedor do estadual, com mais de 10 títulos conquistados.
Participação Internacional: Apesar de não ter disputado competições internacionais, o destaque no Brasileiro de 1977 atraiu atenção internacional, com amistosos contra equipes da América do Sul.
- Esporte Clube Comercial (Colorado)
Fundado em 1943, o Comercial é o maior rival do Operário e tem uma rica história no estado.
Principais Conquistas e Resultados:
Campeonato Brasileiro Série B (Campeonato Nacional de Clubes – 1982): O Comercial fez uma campanha respeitável na segunda divisão, chegando às fases decisivas.
Campeonato Sul-Mato-Grossense: O clube soma diversas conquistas, sendo um dos mais vencedores do estado.
Disputa da Série A: Nos anos 70 e início dos 80, o Colorado também participou da elite nacional, embora sem repetir o brilho do Operário.
Copa do Brasil: Participou em diversas edições, mas com campanhas limitadas a fases iniciais.
- Ubiratan Esporte Clube (Leão da Fronteira)
Com sede em Dourados, o Ubiratan é um dos principais representantes do interior do estado. Fundado em 1947, o clube foi protagonista em competições estaduais e teve destaque nacional.
Principais Conquistas e Resultados:
Campeão do Sul-Mato-Grossense: Títulos expressivos na década de 1990, especialmente em 1998, quando o time viveu seu auge.
Participação Nacional: Disputou a Série C do Campeonato Brasileiro, representando bem o estado.
Referência no Interior: Foi o primeiro clube do interior a vencer o estadual e sempre teve torcidas fieis na região de Dourados.
- Corumbaense Futebol Clube (Carijó da Avenida)
O tradicional clube de Corumbá, fundado em 1914, é um dos mais antigos do estado e teve momentos de destaque, especialmente no cenário estadual.
Principais Conquistas e Resultados:
Campeão Sul-Mato-Grossense 1984 e 2017: O título de 1984 foi um marco histórico, mostrando a força do interior. Em 2017, o clube voltou ao topo após um longo jejum, reacendendo a paixão local.
Participação Nacional: Fez campanhas na Copa do Brasil, enfrentando adversários de maior expressão e trazendo visibilidade ao estado.
- Sete de Setembro Esporte Clube
Outro representante de Dourados, o Sete de Setembro, fundado em 1994, é um clube mais recente, mas que conquistou espaço.
Principais Conquistas e Resultados:
Campeão Sul-Mato-Grossense 2016: Um título que colocou o clube no mapa do futebol do estado.
Copa do Brasil: Participou da competição em 2017, enfrentando o Sport Recife, em um confronto que atraiu olhares para o futebol de Dourados.
- Outros Clubes de Destaque
Coxim Atlético Clube: Representou bem a região norte do estado em competições estaduais.
Naviraiense: Foi campeão estadual em 2009 e participou da Copa do Brasil, enfrentando grandes times como o Santos.
Águia Negra: Representante de Rio Brilhante, conquistou títulos estaduais e teve participações frequentes na Série D e Copa do Brasil.
O Cenário Atual
Embora esses clubes tenham vivido momentos de glória, muitos enfrentam dificuldades financeiras e estruturais. A falta de investimento e gestão comprometida fez com que o futebol do estado perdesse espaço no cenário nacional. O Operário, por exemplo, luta para se reerguer e retomar sua posição de destaque, enquanto Comercial e Ubiratan enfrentam desafios para manter suas operações básicas.
A nova diretoria da FFMS tem pela frente a tarefa de resgatar o orgulho desses clubes e colocar Mato Grosso do Sul de volta no mapa do futebol brasileiro. Para muitos, isso passa por valorizar o estadual, investir na base e revitalizar estádios como o Morenão e o Douradão, ícones das épocas de ouro do futebol sul-mato-grossense.