A recente disparada nos preços do café, que já preocupa o bolso dos consumidores, ganhou contornos mais dramáticos no setor produtivo. Comerciantes e cooperativas em Minas Gerais, um dos maiores estados produtores de café do Brasil, estão tendo dificuldades em honrar contratos firmados nos últimos meses, acreditando que os preços do grão cairiam. No entanto, a expectativa de queda não se concretizou, e o aumento contínuo nas bolsas internacionais trouxe sérias consequências para empresas que não estavam preparadas para essa alta.
Casos de quebra de contratos começaram a surgir no estado, afetando empresas de porte significativo, como a Atlântica e Cafebras, do grupo Montesanto Tavares, além da Central do Café e da Coocem Cooperativa Central de Muzambinho, que operam em parceria. Essas empresas, que negociaram café no mercado futuro, não conseguiram cumprir seus compromissos com os produtores devido à escalada dos preços, e agora lidam com a inadimplência e o risco de falência.
A situação mais recente envolve a Central do Café e a Coocem, que interromperam suas operações há duas semanas, deixando centenas de cafeicultores sem pagamento por cerca de 380 lotes de café. Produtores das cidades de Muzambinho, Monte Belo, Nova Resende e Cabo Verde, que confiaram nas promessas das cooperativas, agora se veem sem resposta sobre o destino do café e sem garantias de pagamento. Em uma reunião tensa realizada na semana passada, o proprietário da Central do Café, Creucio Carlos de Oliveira, sugeriu vender imóveis para saldar as dívidas, mas pediu que os produtores aceitassem um valor abaixo do mercado para reduzir o impacto financeiro da crise. A proposta gerou ainda mais desconfiança, já que o valor da venda dos grãos foi mantido em sigilo.
A situação é uma extensão de um problema que já afeta outras empresas do setor. O grupo Montesanto Tavares, que controla a Atlântica e a Cafebras, entrou em crise financeira após a quebra da safra de café em 2021/22. A falta de entrega de café pelos produtores contratados forçou o grupo a comprar grãos no mercado a preços mais elevados, o que gerou uma dívida de R$ 1,4 bilhão. Com a alta contínua nos preços em 2024, o grupo viu sua crise se aprofundar. A empresa já recebeu um prazo judicial de 60 dias para renegociar com seus credores, mas os problemas financeiros continuam a assombrar o grupo.
Especialistas alertam que a situação pode se agravar ainda mais. Vicente Zotti, sócio da Pine Agronegócios, destacou que se os preços continuarem subindo, o risco de mais quebras de contratos e de problemas com o fluxo de caixa vai crescer. A alta dos preços também pode gerar um fenômeno conhecido como ‘short squeeze’, onde empresas precisam comprar contratos para fechar suas posições e acabam gerando uma reação em cadeia que afeta outras companhias do setor.
A crise é reflexo de um conjunto de fatores que inclui a liquidez das empresas, a dificuldade em obter crédito devido às altas taxas de juros e as flutuações imprevisíveis dos preços do café nas bolsas internacionais. Fernando Maximiliano, analista de café da StoneX, afirma que, com o cenário atual, as empresas enfrentam grandes desafios para manter a estabilidade financeira. Por outro lado, Ricardo Schneider, presidente do Centro de Comércio de Café de Minas Gerais (CCCMG), acredita que os casos de quebra de contrato são isolados e que a cadeia produtiva está se preparando para lidar com o risco crescente. No entanto, ele não descarta a possibilidade de uma pressão financeira intensa no setor.
Embora o mercado tenha tentado se ajustar ao aumento dos preços, a incerteza quanto ao futuro da produção e das exportações de café permanece. A indústria torrefadora também pode ser duramente atingida, pois o aumento do custo do grão pressiona as margens e pode gerar problemas de abastecimento.
Em meio a esse cenário de incerteza, os cafeicultores e comerciantes aguardam para ver se as medidas propostas pelas empresas em crise serão suficientes para estabilizar a situação ou se, em breve, outros nomes do setor terão que enfrentar o mesmo destino. A vigilância do mercado continua, com todos os olhos voltados para a movimentação dos preços e os desdobramentos dessa crise financeira inédita.
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