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As acusações não reveladas de crimes sexuais de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia

Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, morreu há quase sete anos
Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, morreu há quase sete anos

Revelações chocantes de crimes sexuais cometidos pelo fundador da Casas Bahia, Samuel Klein, falecido em 2014, repercutiram em todo o país nesta quinta-feira (15/04). O empresário, durante décadas, comandou um suposto esquema de aliciamento de crianças e adolescentes para a prática de exploração sexual nas dependências da sede da empresa, em São Caetano do Sul (SP), além de outros locais em Santos (SP), São Vicente (SP), Guarujá (SP) e Angra dos Reis (RJ).

O filho de Klein, Saul Klein, também é investigado por estrupro de mais de 30 mulheres. Fontes ligadas ao caso afirmam que pai e filho agiam de forma semelhante.

A reportagem da Agência Pública ouviu mais de 35 fontes, entre vítimas que acusam Samuel Klein, advogados e ex-funcionários da Casas Bahia e da família, consultou processos judiciais e inquéritos policiais, dentre outros. Diante disso, o empresário teria sustentado, de 1989 a 2010, uma rotina de exploração sexual de meninas, entre 9 e 17 anos, na sede da empresa e em outros imóveis registrados em seu nome.
Além disso, o dono da famosa rede de varejo teria organizado um recrutamento de meninas para festas e orgias. Como “moeda de troca”, Klein pagava as vítimas e seus familiares e oferecia produtos das lojas.
O então segredo só foi descoberto a partir das recentes denúncias envolvendo Saul Klein, filho do patriarca. O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) investiga possíveis casos de aliciamento e estupro de várias mulheres. Dessa forma, a Agência Pública desvendou uma história silenciada por muitos anos.
Samuel Klein e o início da Casas Bahia
Nascido na Polônia em 1923, ele viveu na ocupação nazista em sua terra natal e foi levado ao campo de concentração de Majdanek aos 19 anos. Samuel conseguiu fugir do campo de concentração e, nos anos 1950, emigrou para o Brasil, onde começou a vender produtos de porta em porta empurrando uma charrete em São Caetano do Sul.
Lá, ele fundou a primeira loja da empresa, em 1952, que nas décadas seguintes se tornaria uma das maiores redes varejistas do país.
Hoje, a rede é parte do conglomerado Via Varejo, grupo que tem faturamento médio anual de R$ 30 bilhões. Klein virou nome de rua na cidade onde se estabeleceu e até hoje é visto como um dos grandes nomes do mundo dos negócios da história do Brasil.
Relatos e recrutamento
Uma das vítimas, Karina Lopes Carvalhal, de 40 anos, tinha apenas nove anos quando sofreu violência sexual, em 1989. Conforme relatou à Pública, ela soube através de suas irmãs que o empresário presenteava menores de idade que fossem à sede da empresa. Como precisava de um tênis, ela decidiu ir. “Eu não tinha um tênis pra pôr, usava o das minhas irmãs, meus dedos eram todos tortos”, disse.
Chegando ao local, Karina foi ao escritório particular de Samuel Klein e em seguida foi abusada. “Ele me cumprimentou e já passou a mão nos meus peitos. Ele dizia que moça bonita. Muito linda”, relembra. Ao ir embora, a mulher sentiu alívio e conseguiu levar para casa o tênis e uma quantia em dinheiro.
“A gente ficava contente que tinha ganhado um tênis. Não tínhamos noção dessa situação de violência”, afirmou. A vítima ainda disse que nas outras visitas, os abusos se intensificaram e se tornaram rotina. ““A segunda vez, ele já me levou pro quartinho e me abusou”. O caso de Karina se tornou complexo, porque outras mulheres de sua família também foram violentadas.
Apartamentos no edifício Universo Palace, em Santos (SP), e na Ilha Porchat, em São Vicente (SP), eram utilizados para as práticas. As casas de veraneio em Guarujá (SP) e em Angra dos Reis, além de seu imóvel no condomínio de Alphaville, em Barueri (SP), também entram na lista.
A mansão do empresário no condomínio Porto Bracuhy, em Angra dos Reis, é um dos endereços mais citados pelas mulheres que relataram os abusos.
Os relatos afirmam que os abusos eram explícitos. Klein recrutava o grupo que iria ao quarto e praticava sexo vaginal ou oral, normalmente sem uso de preservativos. “Parece que a gente tinha a obrigação de fazer [atos sexuais] porque ele tinha dado dinheiro no dia anterior”, disse uma vítima.
Uma das vítimas conta que Klein tinha preferência por virgens. “Quando ele perdia o interesse, a gente levava uma menina mais nova pra encantar mais ele, entendeu? Ele dava mais dinheiro pra gente, poderia pegar mais coisa: um armário, uma TV. Aí a gente estourava”.
Cláudia*, uma outra vítima, disse que muitos funcionários que trabalhavam para Samuel também recrutavam meninas para o filho dele. “Ele (Samuel) era pedófilo, agia como um. Gostava de meninas com o corpo menos evoluído, que era meu caso. Então ele gostou de mim. A gente tinha que ficar mentindo porque ele gostava disso”, completou.
Uma mulher, hoje com 26 anos, foi enganada por um falso anúncio de desfile de sapatos internacionais. Ao chegar no aeroporto de São Paulo, a jovem encontrou outra moça e as duas foram levadas por um motorista de Saul.
“Tive que me despir para ele, me exibir, estava atordoada, mas ele escolheu a outra moça que estava comigo naquela hora, que era essa goiana que veio no carro comigo”. Ela conta que viu Saul fazer sexo anal sem preservativo com a colega. “Ela saiu do quarto chorando, porque ele a machucou muito.”

Processos judiciais

Renata* (nome fictício), é outra vítima e entrou com ação na Justiça em busca de indenização por danos morais. Ela conta que foi estuprada quando tinha 16 anos, na casa de praia do empresário em Angra dos Reis, em outubro de 2008. A ida dela ao local foi por conta de sua colega de quarto que costumava frequentar as residências de Klein e teria recebido muitos presentes e dinheiro.
Segundo Renata*, o empresário a chamou para uma conversa em um chalé que era cercado por 12 seguranças. Chegando lá, viu um enfermeiro aplicando uma injeção de viagra no homem. Na época, Klein tinha 85 anos.

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