Christiane Brandão é primeira mulher, em cinco gerações da família, a assumir a fazenda e estar à frente da produção do queijo que, sob a administração dela, foi premiado internacionalmente.
“Para mim, isso representa uma vitória, o vencimento de uma barreira, uma quebra de paradigma”, afirmou a produtora da fazenda Maria Nunes, que faz parte da região do Queijo Serro, conhecida como “Terra do Queijo”, localizada no município de Santo Antônio do Itambé.
O queijo maturado produzido por Christiane leva o mesmo nome da propriedade: Maria Nunes. Em 2019, o produto foi premiado com medalha de prata na França. No mesmo ano, recebeu duas medalhas de prata no Mundial do Queijo do Brasil, em Araxá (MG). Outras medalhas nacionais também estão no currículo do queijo Maria Nunes.
Na fazenda, as vacas são criadas soltas, pensando no bem-estar dos animais – o que também reflete na qualidade do leite produzido e, consequentemente, do produto final.
O começo de tudo
Christine passou a cuidar de questões relacionadas à fazenda depois do falecimento do pai, há quase dez anos. Contudo, foi depois de a propriedade ser dividida que ela começou a conduzir a administração da parte que lhe cabia há cerca de cinco anos.
“Meu pai sempre trabalhou com queijo, produção de queijo, recria de gado. Então, eu mantive a tradição dele, que era a mesma dos seus pais e dos seus avós. Mas, no meu pedacinho da fazenda, eu construí tudo do zero. Comecei a trabalhar com queijo maturado e sempre estou em busca de informação e de conhecimento”, explicou.
Aos 37 anos, Christiane tem ao seu lado a filha Jady. A jovem de 20 anos segue os passos da mãe no universo do agronegócio e estuda agronomia.
“A gente tinha dificuldade em encontrar parcerias que confiassem em nós, de encontrar trabalhadores que quisessem receber ordens de mulher. Eles veem no homem o líder. Eu tive muita dificuldade, principalmente no início, quando vim retomar a história do meu pai”, disse.
Hoje, ela vê um cenário um pouco diferente, com mais mulheres trabalhando no ramo e conquistando representatividade. Mesmo assim, Christiane considera que a predominância ainda é masculina.
O queijo maturado Maria Nunes
O sonho do queijo maturado teve início lá atrás, quando ela ainda dividia a fazenda que era do pai. Mas ela, de fato, conseguiu começar a busca pela realização de seu desejo a partir do momento em que foi trabalhar em seu próprio pedaço de terra.
“Eu pude construir a minha agroindústria. Construí meu ambiente de maturação. Comecei a fazer cursos e a fazer experiências com queijo, a trazer as técnicas que aprendi e aplicar tudo que eu estava aprendendo, com intuições minhas”, afirmou.
Produtora diz que o queijo Maria Nunes tem a “pegada da Chris”
Tudo isso, segundo a produtora, possibilitou que o queijo Maria Nunes tenha toque especial: “Traz essa pegada da Chris, de criar, de experimentar”. Ela arquitetou uma rotina para cuidar do produto. Atualmente, a produção é de 12 quilos de queijo maturado por dia.
O queijo acabou dando um destaque muito grande para a produtora e também para a região, de acordo com Christiane. Graças ao prêmio conquistado na Europa, a visibilidade atingiu uma proporção internacional.
Bem-estar animal
O queijo Maria Nunes é feito com leite cru de vacas de sangue mais rústico, como as Jersey. Elas necessitam de pouco trato e se alimentam, principalmente, de capim-braquiária.
De acordo com Christiane, as vacas são criadas soltas no pasto junto com seus bezerros, que podem se alimentar do leite delas. A produtora afirmou que o bem-estar animal é uma preocupação da fazenda.
“Um animal saudável e feliz é o principal ingrediente para qualquer produto de qualidade que tenha essa origem. Aqui, elas são nossas rainhas e seus bezerrinhos são uma das nossas maiores riquezas. Eles têm o período de convivência com as mães todos os dias”, disse.
Suporte institucional
Christiane fez questão de citar entidades da região – como a Associação dos Produtores Artesanais do Queijo do Serro (APAQS), o Sindicato dos Produtores e Trabalhadores Rurais do Serro e a Cooperativa de Produtores (COOPERSERRO) – que oferecem ações de suporte para quem vive da agropecuária.
É um contexto, segundo Christiane, em que se busca apoiar e unir o segmento. “Meu sonho é contribuir para o crescimento da região e o fortalecimento da agricultura familiar, para que os produtores daqui possam, através do queijo e do seu trabalho, ter o sustento digno e de sua família”, afirmou.