A habilitação de 38 unidades industriais (entre frigoríficos e entrepostos) para exportar carne à China, na semana passada, deixou pecuaristas e avicultores otimistas. Enquanto a previsão do governo brasileiro é de agregar R$ 10 bilhões à balança comercial, os criadores de bovinos e aves esperam que esss negócios resultem em melhora nos preços e ganhos para quem está no campo.
“Avalio como uma abertura positiva, que vai ajudar o setor que está em baixa por apresentar uma oferta maior de animais em relação à demanda. Será uma válvula de escape para enfrentar esse cenário”, comenta Rafael Lima, pecuarista em Santa Rita do Pardo (MS) e vice-presidente da Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Novilho Precoce.
Ele tem um rebanho de mil vacas em reprodução, com predominância da raça Nelore e uma parte menor de cruzamento com Angus. A Associação tem uma parceria com a JBS em Campo Grande – onde está um dos frigoríficos do Estado habilitados pelo governo chinês – o que reforça a expectativa de melhora do cenário com o eventual aumento das exportações de carne para o país asiático.
“Hoje está complicado, estamos num dos patamares mais baixos. O valor da arroba brasileira está, inclusive, entre os menores do mundo. Acredito que o aumento do mercado China será benéfico nesse sentido, ajudando a escoar essa mercadoria e trazendo melhores preços”, diz. Em Mato Grosso do Sul, a arroba é negociada, atualmente, a R$ 215 à vista e R$ 217 a prazo.
Rafael enfatiza o avanço da pecuária de corte no Brasil, com destaque para as tecnologias e os investimentos dos produtores, o que contribui para a abertura de novos mercados. “Reduzimos áreas de pastagens e rebanho, mas a produção cresceu e segue em alta”, ressalta.
Animais precoces
A Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce esclarece que as novas habilitações podem aumentar a demanda por um tipo específico de animais, o chamado boi China.
“Eles demandam mais por animais precoces, é uma característica do mercado chinês. Em 2023 e já contando com esse início de ano, escoamos mais de 19 mil animais com esse perfil para a China, e com essas novas habilitações, pode haver aumento nessa demanda”, explica o superintendente da associação, Alexandre Guimarães.
Em parceria com uma das unidades industriais habilitadas, a entridade oferece serviços como o de pesagem dos animais em uma balança própria. Os bovinos têm os padrões auferidos no momento do abate, com acompanhamento de um consultor técnico. Há também serviços, como a consultoria de abate, como a escala dos animais, para o pecuarista conseguir melhores preços e bonificações.
“Com essa possibilidade, subiriam para duas o número de plantas com nossa balança habilitadas no MS para exportar ao mercado chinês, fora todo esse serviço que vem acompanhado, que também é a consultoria e a escala dos abates. Se tivermos demanda, estamos preparados”, enfatiza Rafael Gratão, presidente da Novilho Precoce MS.
Avicultores também comemoram
Os criadores de aves também estão comemorando. O produtor Alexandre Oliveira Balbino, que possui quatro granjas em Iporã (PR), onde aloja 170 mil aves, diz que as expectativas são as melhores possíveis. Ele é integrado à Plusval Agroavícola – detentora da marca Levo Alimentos -, que teve o frigorífico de Umuarama (PR) habilitado para exportar para a China.
“Recebemos a notícia com grande otimismo. O mercado China irá potencializar a produção da empresa, uma vez que ela não dependerá somente da venda interna e passará a contar com uma opção do mercado externo que é bastante favorável”, avalia Alexandre.
O avicultor ressalta que 2023 foi um ano “bastante difícil”, com instabilidade no mercado, principalmente, por causa da gripe aviária. Ele também cita o preço elevado dos insumos usados na ração dos frangos de corte. O suporte financeiro da empresa para quem está na atividade, segundo ele, foi um dos aspectos positivos.
“Essa notícia da habilitação para exportar para a China, no início de 2024, nos deixa ansiosos e com a expectativa de que poderemos pagar o financiamento que temos e ainda sobrar um dinheiro para a família. É uma corrente, todo mundo ganha”, acredita.
O avicultor Luís Fernando Sabec, também integrado à Plusval, considera a conquista de suma importância para consolidar a marca no mercado. “Essa habilitação gera segurança e condições para que possamos manter o crescimento da nossa produção”, avalia.
Sua propriedade fica em Umuarama. Tem duas granjas para 42 mil aves cada. O produtor está investindo na construção de mais quatro aviários, com capacidade para 50 mil aves cada.
“Estamos empolgados com a atividade e entusiasmados com o trabalho que a empresa vem desenvolvendo na região”, frisa. O produtor cultiva mandioca para fécula e viu na avicultura uma excelente opção para diversificação na propriedade.
“O ano passado foi desafiador, mas com o trabalho que a empresa vem fazendo, incluindo essa habilitação para venda na China, garantindo a compra da nossa produção, é um indicativo de que o cenário vai melhorar”, avalia.