O desembolso de crédito rural por instituições financeiras recuou 25% entre julho e outubro deste ano na comparação com o mesmo período de 2023. Em quatro meses, o valor liberado no Plano Safra 2024/25 é R$ 50 bilhões menor do que no primeiro quadrimestre do ciclo anterior. Foram liberados R$ 151,4 bilhões em financiamentos aos produtores contra R$ 201,2 bilhões no Plano Safra 2023/24.
Foram desembolsados R$ 95,4 bilhões para custeio, R$ 32,6 bilhões para investimento, R$ 13,5 bilhões para comercialização e R$ 9,8 bilhões para industrialização, segundo dados extraídos em 8 de novembro do sistema do Banco Central e compilados pelo Valor. As informações podem mudar conforme o dia de acesso.
O subsecretário de Política Agrícola do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, disse em audiência pública na semana passada que é preciso esperar cerca de 45 dias para que o sistema do BC mostre um retrato fiel do desempenho do crédito rural. Muitas operações já contratadas pelos produtores ainda não aparecem nos relatórios públicos, pois ainda não houve liberação de recursos, o que ocorre no prazo indicado, segundo ele.
Mesmo assim, o subsecretário concordou que o ritmo está menor nesta safra, mas em torno de 14% ou 15%. Ele ressaltou o impacto do clima na produção e no planejamento de agricultores, a redução dos custos dos insumos e até o abandono de áreas marginais que seriam cultivadas como razões que justificam o recuo na busca por determinados empréstimos.
Ele afirmou que o recuo nos desembolsos é mais expressivo entre os grandes produtores, mas que parte dessa diferença no montante de recursos tem sido acessada via emissão de Cédulas de Produto Rural (CPR) pelos bancos. Médios produtores aumentaram a busca por crédito e pequenos mantiveram o ritmo, disse.
“O que reduziu foram as operações com taxa livre de crédito rural, e parte foi compensada em CPRs bancárias, passou também pelo crivo de análise de risco dos bancos. O comparativo que se coloca usa dados do recurso liberado. Quando analisamos o dado do recurso contratado para ser liberado nos próximos dias, os números estão com queda de 14% a 15%”, disse Bittencourt na ocasião.
De julho a setembro, por exemplo, os financiamentos por meio de CPRs bancárias cresceram 58,8% na comparação com o mesmo período de 2023, saindo de R$ 65,8 bilhões para R$ 104,5 bilhões. Esse movimento mais que compensou a queda de 20,1% no desembolso de crédito rural pelas linhas tradicionais, com ou sem subvenção do governo, naquele período.
Ao somar os valores das linhas e das CPRs, o governo argumenta que o montante acessado pelos produtores nos bancos e cooperativas financeiras no Plano Safra cresceu 2,4% até setembro, para R$ 236,1 bilhões liberados. O movimento continuou em outubro, mas os dados ainda não estão fechados.
Em junho, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, defendeu a inclusão dos recursos ofertados via CPRs bancárias na divulgação do Plano Safra 2024/25, o que não ocorria até então. A medida inflou o total disponível no sistema financeiro nesta safra. A Pasta defende que os bancos são obrigados a aplicar determinados recursos em financiamentos via CPRs, como parte do dinheiro captado com Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), o que justificaria o cálculo.
No setor produtivo, lideranças relataram escassez de recursos, o que obriga os produtores a migrarem para o barter com indústrias e tradings, operação mais cara.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário disse que já foram liberados mais de R$ 29,5 bilhões para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) até outubro, 4% a mais que no mesmo período de 2023 número um pouco maior que o do BC. A maior parte dos recursos (R$ 17,3 bilhões) foi para a região Sul, mas o Nordeste concentra o maior número de contratos (323,4 mil).
Balanço do ministério mostrou aumento de 176% na destinação de crédito de custeio para a produção de feijão (R$ 188 milhões) e incrementos nos desembolsos para cultivo de outros alimentos básicos, como cebola, batata, repolho e cenoura.