O dólar à vista encerrou a quinta-feira com baixa expressiva frente ao real, cotado a R$ 5,666, numa retração de 0,51% em relação ao dia anterior. A desvalorização da moeda norte-americana ocorreu em meio a um movimento global de alívio nos mercados financeiros, após a decisão da Corte de Comércio Internacional dos Estados Unidos que bloqueou a maior parte das tarifas comerciais impostas pelo governo do presidente Donald Trump.
Durante o pregão, o dólar chegou a atingir a mínima de R$ 5,64, acompanhando a trajetória descendente da divisa em escala mundial. Este comportamento foi impulsionado pela percepção de enfraquecimento da política tarifária de Trump, que havia elevado impostos sobre importações de diversos países desde o início de abril, sob a justificativa de proteção à segurança econômica norte-americana.
A decisão judicial norte-americana, tomada por um colegiado sediado em Manhattan, invalidou todas as ordens tarifárias emitidas com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional. Os juízes sustentaram que a Constituição dos Estados Unidos confere exclusivamente ao Congresso a competência para regular o comércio internacional, não podendo ser suplantada por atos executivos fundamentados em poderes emergenciais.
Com isso, mercados ao redor do mundo demonstraram alívio, dissipando temores de uma escalada inflacionária global e de recessão em diversas economias. O índice do dólar, que mede a força da moeda frente a uma cesta de seis divisas principais, recuou 0,75%, atingindo o patamar de 99,640 pontos.
A Casa Branca, por sua vez, anunciou que recorrerá da decisão. De acordo com o assessor de comércio Peter Navarro, o governo Trump buscará alternativas jurídicas para manter as tarifas como pilar central de sua política comercial. Contudo, analistas apontam que as opções são limitadas e que a Suprema Corte poderá ser a instância derradeira da disputa.
No mercado doméstico, o ambiente de negócios também foi influenciado pela persistente indefinição em torno do aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Apesar de o tema não ter direcionado o câmbio de forma determinante nesta sessão, agentes financeiros mantiveram a atenção voltada às negociações em Brasília.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou que não há, neste momento, alternativa ao decreto que majorou o IOF como forma de garantir o cumprimento das metas fiscais deste ano. Entretanto, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, declarou em sua conta na rede social X que o “clima é para derrubada” da medida, e que a equipe econômica terá dez dias para apresentar uma proposta alternativa.
No âmbito das estatísticas econômicas norte-americanas, os dados divulgados nesta quinta-feira reforçaram a resiliência da maior economia do mundo. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos registrou contração anualizada de 0,2% no primeiro trimestre, resultado levemente melhor do que a retração de 0,3% inicialmente estimada. A inflação, medida pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE), e o volume de pedidos de auxílio-desemprego também corroboraram a percepção de estabilidade econômica, aumentando as apostas de que o Federal Reserve manterá a política monetária inalterada por um período prolongado.
Ainda assim, paira sobre o cenário internacional uma atmosfera de cautela em relação à sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos, diante do impasse político sobre o teto da dívida federal e das incertezas quanto aos próximos passos da política comercial.
No Brasil, além das discussões sobre o IOF, o mercado repercutiu positivamente a nova queda na taxa de desemprego, que recuou para 6,6% no trimestre encerrado em abril, abaixo dos 7% registrados no trimestre anterior e dos 7,5% do mesmo período de 2024. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio real do trabalhador brasileiro alcançou R$ 3.426, o que representa uma alta de 3,2% em relação ao ano anterior.
No fechamento do pregão, o dólar futuro para junho, negociado na B3 e considerado o mais líquido, cedia 0,39%, sendo cotado a R$ 5,6700 às 17h03.
Nas operações de câmbio turismo, a moeda foi vendida a R$ 5,849, enquanto a compra foi registrada a R$ 5,669. No mercado comercial, as taxas de compra e venda se mantiveram alinhadas ao fechamento à vista, ambas em R$ 5,666.
Segundo especialistas, o apetite por risco deve prevalecer no curto prazo, especialmente diante da perspectiva de atenuação das tensões comerciais internacionais e da percepção de que o governo brasileiro buscará alternativas negociadas para as medidas fiscais. No entanto, o cenário permanece volátil e sujeito a reviravoltas, tanto no campo jurídico norte-americano quanto nas articulações políticas em Brasília.
O economista Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora, sintetizou o sentimento predominante no mercado ao afirmar que “o apetite por risco tomou conta do jogo” após a decisão judicial nos Estados Unidos. No entanto, ele também alertou para os desafios que persistem, especialmente no que diz respeito à manutenção da estabilidade fiscal em ambos os países.
A cena cambial, portanto, continua marcada por uma combinação de fatores externos e internos, cuja evolução poderá definir a trajetória da moeda norte-americana nas próximas semanas.
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