Com a alta demanda de internações de pacientes da Covid-19 em UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) de hospitais, o uso de sedativos e bloqueadores neuromusculares, necessários para intubação de pacientes da doença, estão em falta no mercado. Diante disso, o Ministério da Saúde requisitou todo o estoque das fabricantes dos medicamentos, na última quinta-feira (18), segundo um dos principais fabricantes dos insumos no Brasil.
O laboratório Cristália, revelou em nota, que ele e mais outros fabricantes receberam do Ministério da Saúde uma requisição administrativa pelos medicamentos. “Os produtos são, Cisatracúrio, Rocurônio, Atracúrio e Midazolam. Tanto os IFAs quanto os medicamentos finais são produzidos no Complexo Industrial Farmacêutico, Farmoquímico e de Biotecnologia do Cristália instalado em Itapira, no interior de SP”.
Fornecedora de 24 dos 30 produtos usados no tratamento da doença em âmbito hospitalar, a empresa diz que quadruplicou a produção para manter o fornecimento à rede de atendimento composta por mais de quatro mil hospitais públicos e privados. E confirmou que a demanda gerada pela pandemia já afeta toda a cadeia farmacêutica.
Em entrevista, Jonas Donizette, presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, afirmou que, desde o ano passado, alerta o Ministério da Saúde sobre a possível falta de medicamentospara a intubação de pacientes graves do novo coronavírus.
“Em julho e agosto já teve esse problema. Então nós fizemos o comunicado, no ano passado, quando teve o caso. Agora, com a situação de Manaus, nós reforçamos o pedido por uma coordenação nacional. E agora, mais recentemente, há cerca de 10 dias, nós mandamos um documento mais dramático, falando que se não houver uma medida do governo nós vamos ter perdas de vidas.”, explicou.
Donizette disse ainda que as gestões municipais já estão trabalhando com uma rede de municípios que ainda possuem mais bloqueadores neuromusculares em estoque, para poderem socorrer outras cidades em situação crítica e podem ficar sem nada ainda, neste final de semana.
Em alguns hospitais particulares da capital paulista, a possível falta de insumos para intubação também preocupa. Na tarde desta sexta-feira (19), funcionários de um hospital, na Zona Sul de São Paulo, receberam o alerta para racionalizar ao máximo os sedativos, segundo conta um médico intensivista que pediu para ter a sua identidade preservada. “Está faltando porque não tem no mercado. A demanda está alta demais. No meu hospital, só tem pra mais seis dias. Está um desespero.”
Ele explicou ainda que, sem o bloqueador neuromuscular, a intubação para o tratamento da Covid-19 não é eficiente.
“A gente usa uma coisa chamada peep alta na Covid. A peep é uma pressão que usamos na ventilação mecânica no final da expiração para melhorar a oxigenação dos pacientes com lesão pulmonar. Só conseguimos usar essa pressão elevada na ventilação em pacientes que estão com os reflexos musculares inibidos, caso o contrário o organismo ‘briga’ com o ventilador e a ventilação mecânica não tem efetividade.”, explica.
Em nota, o Ministério da Saúde explica que, desde setembro de 2020, monitora medicamentos de intubação auxiliando estados e municípios a repor estoques e que a ação é ação de monitoramento do Consumo Médio Mensal é realizada pela pasta, em parceria com Conass, Conasems e Anvisa.
“Os dados recebidos de consumo médio mensal do Conass e Conasems são enviados para as indústrias com intuito de equalizar os estoques. As informações de produção e localização dos distribuidores são enviadas semanalmente às secretarias estaduais de saúde para facilitar a aquisição dos medicamentos”, diz.
O Ministério esclarece que essa ação evita que haja desabastecimento de medicamentos e que, a partir dos dados enviados pelos órgãos, a pasta realiza a distribuição para os estados com base em critérios como curva epidemiológica, cobertura menor que 15 dias, ausência de similaridade nos estoques, quantitativo de leitos, entre outros.
“A pasta já distribuiu mais de 6,1 milhões de medicamentos de intubação orotraqueal para todos os estados e Distrito Federal desde junho de 2020, conforme dados disponíveis no painel de medicamentos hospitalares na plataforma LocalizaSUS.”, diz a nota.