O universo do samba foi surpreendido nesta semana com o anúncio oficial do retorno de Iza ao posto de rainha de bateria da Imperatriz Leopoldinense, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro. A notícia repercutiu intensamente não apenas por seu teor simbólico e cultural, mas também pelo histórico conturbado da cantora com a agremiação. Após dois anos de afastamento, marcados por controvérsias e ausências, Iza se reposiciona diante de sua comunidade com um discurso conciliador e uma proposta de envolvimento mais profundo com os projetos da escola.
A decisão de reabrir as portas para a artista partiu da atual gestão da Imperatriz, liderada por Cátia Drumond e seu filho, João Drumond, vice-presidente da escola e figura crescente na cena carnavalesca carioca. Segundo João, a reintegração de Iza se deu após a própria cantora procurar a escola de Ramos, bairro onde nasceu e foi criada, demonstrando interesse genuíno em colaborar com a instituição, especialmente nos projetos sociais desenvolvidos junto à comunidade local.
“Com o cargo de rainha de bateria vago após a saída de Maria Mariá, ela nos procurou. Não foi exatamente pedindo para voltar como rainha, mas deixando claro que queria ajudar de alguma forma. Notamos sinceridade e disposição. Entendemos que sua presença poderia ser importante, não só fisicamente na quadra e na avenida, mas também em outros aspectos da vida da escola. Ela se ofereceu para ser madrinha dos projetos sociais e disse que vive um momento mais calmo, com a agenda mais livre e mais tempo no Rio de Janeiro”, declarou João Drumond em entrevista ao Setor Sul Podcast.
A história de Iza com a Imperatriz, no entanto, não começou de maneira tranquila. Quando ocupou o cargo entre 2020 e 2022, a cantora enfrentou críticas por ausência nos ensaios e em eventos importantes da escola. O afastamento foi tornado público por meio de um comunicado oficial que citava justamente a falta de comprometimento. Hoje, com mais maturidade, ela parece determinada a reescrever essa trajetória e firmar um novo vínculo com sua escola de origem.
O primeiro passo já foi dado. No Domingo de Páscoa, durante um evento na quadra da Imperatriz, Iza foi recebida com entusiasmo e mostrou que está disposta a abraçar novamente o samba no pé. Cercada por admiradores e componentes da escola, distribuiu sorrisos, posou para fotos e reiterou seu comprometimento com o carnaval de 2026.
A saída de Maria Mariá, que abriu espaço para o retorno da cantora, também se deu de forma amigável. De acordo com João Drumond, a própria ex-rainha avaliou que era o momento de assumir outras funções na escola, como o trabalho com a ala mirim, o que se mostrava incompatível com a exigência do cargo de rainha de bateria, que demanda intensa exposição e dedicação.
Outras musas também estiveram no centro de polêmicas recentes na Imperatriz. Rafa Kalimann foi dispensada às vésperas do carnaval deste ano após faltar a um ensaio técnico, enquanto Carmen Mondego, presença tradicional de Ramos, foi inicialmente afastada por não comparecer ao desfile comemorativo do terceiro lugar da escola. A ausência, justificada por um compromisso profissional no Rio Grande do Sul, gerou ampla repercussão negativa, e a escola acabou revendo sua decisão.
O retorno de Iza à Imperatriz surge em um momento de reconfiguração de sua própria trajetória artística. Nascida Isabela Cristina Correia de Lima Lima, a cantora despontou nacionalmente em 2016 após ganhar destaque no YouTube com covers potentes de sucessos internacionais. Em 2017, lançou o álbum “Dona de mim”, que a consolidou como uma das vozes femininas mais relevantes da música pop brasileira, mesclando R&B, reggae e elementos da música negra com letras de afirmação pessoal e crítica social.
Seu nome passou a figurar entre as principais premiações do país, recebendo indicações ao Grammy Latino, Prêmio Multishow e MTV Miaw. Iza também assumiu papeis de apresentadora na televisão, como jurada do programa “The Voice Brasil”, e se tornou símbolo de representatividade para mulheres negras no cenário artístico nacional.
No entanto, sua carreira não foi imune a polêmicas. Em 2023, enfrentou uma separação pública do produtor musical Sérgio Santos, com quem esteve casada por quatro anos. O divórcio, apesar de tratado com discrição, reverberou entre fãs e na mídia. Ainda em 2023, Iza anunciou o cancelamento de uma turnê por questões pessoais e profissionais, o que alimentou especulações sobre dificuldades nos bastidores.
Apesar dos tropeços, a artista tem conseguido se reposicionar com firmeza. Em 2024, lançou novas faixas autorais, retomou a agenda de shows e participou de festivais de música pelo país. O retorno à Imperatriz parece marcar não apenas um resgate de suas raízes, mas também uma fase de reencontro consigo mesma e com seu papel como figura pública engajada.
Ao voltar ao posto de rainha de bateria, Iza não apenas se reconecta com o carnaval, mas também se reconcilia com sua comunidade de origem, em Ramos, que a viu crescer. Seu compromisso com os projetos sociais da escola pode representar um novo capítulo em sua história com a agremiação e com o samba carioca, carregado de simbolismo, expectativa e, sobretudo, responsabilidade.
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