O Ministério da Saúde voltou a recomendar a vacinação contra a covid-19 para adolescentes entre 12 e 17 anos sem comorbidades. A decisão acontece seis dias depois de a pasta do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) orientar a suspensão da imunização para este público, medida que recebeu críticas de autoridades da Saúde, especialistas e governadores e prefeitos.
“Os benefícios superam eventuais riscos”, disse o secretário-executivo do ministério, Rodrigo Cruz, hoje à noite, ao justificar o recuo da Saúde. Ainda assim, a pasta pede que sejam priorizados adolescentes com comorbidades e jovens que cumprem penas privativas de liberdade.
Segundo Cruz, a orientação para suspender a vacina decorreu de dois fatos. O primeiro foi a morte de uma adolescente em São Bernardo do Campo (SP) sete dias depois de receber o imunizante. Na semana passada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já havia informado que o óbito provavelmente não tinha relação com a vacina da Pfizer e, por isso, recomendou que os adolescentes sem comorbidades fossem vacinados. Hoje, a Anvisa confirmou que a morte da jovem decorreu de uma doença autoimune rara e grave.
O segundo motivo alegado foi o de que havia na “base de dados alguns adolescentes vacinados com imunizantes não autorizados para o grupo”, explicou o secretário Cruz. Do total de pessoas entre 12 e 17 anos e registrados no sistema do Ministério, apenas 0,7% foram imunizados com outra vacina diferente da Pfizer. Antes da decisão da Saúde na semana passada, vários estados e municípios já vacinavam adolescentes sem doenças preexistentes.
Ainda na coletiva, Cruz disse que o presidente Jair Bolsonaro que com frequência declara que ainda não se vacinou está ciente da nova posição da Saúde: “Óbvio que ministro sempre conversa com o presidente sobre todas as decisões, nada é feito à revelia do ministro ou do presidente, ele tem conhecimento do que foi apresentado aqui hoje”.
No entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, gerou dúvidas sobre a imunização da faixa etária, e um funcionário da pasta lançou suspeita de que a vacina da Pfizer, única liberada pela Anvisa para adolescentes, teria causado a morte da jovem em São Paulo.
Rapidamente a Anvisa esclareceu que a adolescente não foi a óbito por conta da dose Pfizer e manteve a recomendação para a vacinação dos jovens de 12 a 17 anos. Vários estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Santa Catarina e Amazonas, mantiveram a vacinação, apesar da recomendação contrária da Saúde.
A carta do Ministério veio no meio de falta de estoque de AstraZeneca em alguns estados, além de lotes retornados da CoronaVac. Ontem, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal Ricardo) Lewandowski determinou que os próprios estados e municípios devem decidir se vão ou não vacinar os jovens, seguindo evidências científicas.
Entidades recomendam vacinação
O CNS (Conselho Nacional de Saúde) também pediu ao Ministério da Saúde que mantivesse a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos no PNI (Plano Nacional de Imunização). O CNS é uma instância colegiada e permanente do SUS (Sistema Único de Saúde), integrante da estrutura organizacional do Ministério da Saúde.
O órgão é responsável por fiscalizar e deliberar ações da pasta, além de aprovar o orçamento da Saúde e acompanhar a sua execução. Na semana passada, a Anvisa seguiu recomendando a vacinação para os jovens sem comorbidades.
A posição está de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), que reconhece ser necessário imunizar essa faixa etária para controlar a pandemia, desde que grupos de maior risco já tenham sido contemplados. Ela orienta também aplicação da Pfizer.
Diversos órgãos e sociedades médicas já reforçaram que a vacinação é, sim, segura para pessoas com 12 anos ou mais. Inclusive, diversos países estão vacinando seus adolescentes e crianças, como os EUA, a França e a Alemanha.