Rômulo Oliveira Lúcio foi um dos 25 mortos na operação da Polícia Civil na comunidade do Jacarezinho, na última quinta-feira. Sua esposa afirmou nesta sexta que o rapaz foi executado por um agente mesmo após ter se entregado.
“Os policiais entraram dentro da casa e ele se rendeu. Ele (o policial) falou ‘perdeu’. Ele (Rômulo) já tinha se perdido. Só se rendeu. (…) Pegaram ele vivo, e ele foi executado a facadas”, declarou em entrevista.
Thaynara Paes tem 22 anos e esteve no Instituto Médico Legal (IML) para fazer o reconhecimento do corpo do marido, assim como parentes das outras vítimas. Segundo ela, Rômulo tinha 29 anos e estava em liberdade condicional.
Operação ficou violenta após morte de policial
Thaynara relatou que a operação ficou especialmente violenta após a morte do agente André Leonardo de Mello Frias, ainda nas primeiras horas da manhã. Ele foi o único policial entre os 25 óbitos.
“Eu sei que é duro a perda de um amigo deles. Mas isso não significava chegar… Depois que o policial morreu, eles chegaram com mais sangue nos olhos. Por isso que executaram todo mundo. Levaram um ou dois presos, por que executaram os demais? Ninguém estava armado mais, sem nada nas mãos. Meu marido estava sem nada, levantou as mãos para o alto e falou ‘perdi’, e os policiais mataram ele”, afirmou.
Operação policial com maior número de mortos na História do Estado, a incursão que vem sendo classificada como Chacina do Jacarezinho tirou 25 vidas – um policial e 24 pessoas cujos nomes ainda não foram revelados.
“Ouvimos muitos relatos de violação de domicílios, mortes. Muitos muros e portas cravejados de balas”, conta Maria Júlia.
A equipe da Defensoria entrou em duas casas que serviram, durante a operação, de palco para mortes. “Na primeira, a família foi tirada de casa; morreram dois rapazes na sala. A sala estava repleta de sangue. Havia até partes de corpo – que pareciam massa encefálica, mas é difícil dizer exatamente”, diz.
A segunda casa visitada foi o lar de um casal que tem uma filha de 8 anos. Um homem morreu dentro do quarto dela, que viu toda a cena. “Tinha uma poça de sangue no quarto; a cama lotada de sangue, inclusive a coberta que a menina usa. Essa menina está completamente traumatizada”, afirma a defensora.
O cenário das casas e o fato de as pessoas terem sido arrastadas já mortas de dentro delas fazem com que a Defensoria veja indícios de execução e de “desfazimento da cena do crime”.
Nesta sexta-feira, 7, corpos dos mortos chegaram ao Instituto Médico Legal (IML). Preocupado com a independência das investigações, o Ministério Público do Rio enviou um perito próprio para acompanhar os trabalhos do IML, que é ligado à Polícia Civil – mesma corporação que tocou a operação de ontem.
“O perito vai acompanhar todo o trabalho no IML e registrar, inclusive em imagens, o que for do interesse da investigação independente do MP-RJ”, informou. “A apuração criteriosa dos fatos é importante para a avaliação da adoção das medidas de responsabilização aplicáveis. Desde o conhecimento das primeiras notícias referentes à operação, o MP-RJ vem adotando todas as medidas para verificação das circunstâncias em que ocorreram as mortes.”
Batizada de Operação Exceptis, a incursão tinha como intuito prender traficantes do Comando Vermelho, facção que comanda o Jacarezinho. No saldo final, contudo, não houve nenhum preso.