Maior tragédia ambiental da história do país, o rompimento da barragem B1 da Mina de Córrego de Feijão, em Brumadinho, foi desencadeado por perfurações verticais em um ponto frágil da estrutura.
A afirmação é da Polícia Federal, apresentada nesta sexta-feira (26/2), dois anos após o desastre que causou a morte de 270 pessoas e despejou 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração sobre cursos d’água e vegetação.
Segundo o perito criminal federal Leonardo Mesquita de Souza, o procedimento foi iniciado pela Vale cinco dias antes do estouro com perfuratrizes que operam com injeção de fluidos. A pressão desses líquidos causou dissolução dos sedimentos estocados e posterior geração de ondas, que acabaram por abalar o dique.
A conclusão da perícia é diferente da hipótese levantada pela Vale até então, de que o incidente havia sido causado pelo acúmulo de rejeitos provocados pelas chuvas.
Fragilidade
Conforme o laudo, a escavação gerou a ruptura do reservatório no alteamento de número oito, a 68 metros de profundidade. A camada era formada por um material mais fino, com pouca capacidade de suportar pressão.
O delegado Luiz Augusto Pessoa Nogueira explicou que as perfurações não ameaçariam a barragem caso ela apresentasse apresentasse condições mínimas de estabilidade. Esta, no entanto, não seria a situação da estrutura em 2019.
“O motivo foi a perfuração de uma sonda mista que chegou em uma sessão da barragem que estava muito sensível ao processo de liquefação. A liquefação funciona como ondas de água que se propagam para a próxima sessão da barragem, causando um efeito dominó, que é muito rápido. O colapsamento da barragem durou 30 segundos, desde a primeira sessão que começou a se liquefazer”, detalhou o policial.
A perícia diz que a Vale abriu os orifícios a fim de identificar a composição das camadas que compunham o dique, além de instalar equipamentos que medem a pressão de líquidos – os chamados piezômetros.
Meses antes – entre outubro e novembro de 2018 -, a mineradora havia contratado uma empresa e especializada em investigação geotécnica para verificar as condições de resistência das diferentes seções da barragem. O relatório contendo a localização dos pontos frágeis do reservatório teria sido entregue à Vale, mas, segundo a PF, a companhia procedeu com as perfurações verticais antes de analisar as informações.
“É como se a pessoa fosse fazer um exame de imagem e não entregasse o resultado ao médico para análise”, comparou o delegado Nogueira.
Inquérito continua
Nogueira esclareceu que as conclusões da perícia não encerram o inquérito. Numa próxima etapa, a PF diz que pretende realizar novas diligências e deve indiciar outros envolvidos.
Procurada pela reportagem, a Vale informou que tomou conhecimento do laudo nesta sexta-feira (26/2) e pretende avaliar “o inteiro teor do documento” antes de se manifestar.
Confira a nota da empresa da íntegra:
“A Vale informa que tomou conhecimento nesta sexta-feira (26) da expedição do laudo da perícia técnica da Polícia Federal sobre as possíveis causas do rompimento da Barragem I, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). A empresa avaliará o inteiro teor do laudo e oportunamente se manifestará nos autos por intermédio de seu advogado David Rechulski.”