A troca de comando do Ministério de Minas e Energia, com a escolha de Adolfo Sachsida para substituir Bento Albuquerque, pode levar a mudanças na diretoria da Petrobras. O presidente da empresa, José Mauro Ferreira Coelho, homem de confiança de Bento, está sob pressão e passa por uma fritura no governo, apenas um mês depois de assumir o cargo.
Duas fontes do alto escalão da equipe do presidente Jair Bolsonaro, ouvidas pelo Estadão sob a condição de anonimato, não descartam, inclusive, a possibilidade de ele ser trocado. Sachsida também deve promover mudanças mais profundas em áreas-chave do Ministério de Minas e Energia.
Bento foi demitido após a Petrobras ter aumentado o preço do óleo diesel nesta semana, dias depois de o presidente pedir ao ex-ministro e a Coelho que não aumentassem o preço durante uma transmissão nas redes sociais.
Ao escolher Sachsida, ex-secretário do ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro cobrou mudanças na postura da empresa. O presidente não se conforma que a petroleira tenha um lucro bilionário e não possa dar uma “trégua” nos reajustes durante a guerra da Rússia com a Ucrânia, período de alta volatilidade dos preços internacionais. Bolsonaro quer que as movimentações sejam feitas em espaço de tempo maior.
Coelho é o terceiro presidente da Petrobras no governo Bolsonaro e foi escolha de Bento depois que dois nomes foram descartados – Adriano Pires e Rodolfo Landim – por conflitos de interesse com a indústria de óleo e gás. Foi Bento que fez a negociação e bancou o nome de Coelho depois de barrar a indicação de Caio Paes de Andrade, secretário especial de desburocratização do Ministério da Economia para a presidência da Petrobras, mesmo depois de o nome dele ter sido aceito por Bolsonaro.
Colega de equipe do novo ministro de Minas e Energia e descartado por Bento, Caio voltou a figurar na lista de nomes para a diretoria da Petrobras.
Com o preço alto dos combustíveis e de energia elétrica ameaçando sua reeleição, Bolsonaro vem demonstrando insatisfação em relação à gestão de Coelho à frente da Petrobras. Disse esta semana que a petroleira está “gordíssima, obesa”, em referência ao lucro da estatal de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre do ano. “Petrobras, você é Brasil! Ou quem está aí dentro não pensa no seu país? O povo está sofrendo bastante com o preço do combustível”, disse Bolsonaro a jornalistas após discursar em uma feira agropecuária em Maringá (PR).
A União é o maior acionista da empresa, ou seja, recebe a maior parte dos dividendos da estatal, que vão direto para o caixa do governo. A governança da estatal tem sido uma barreira a impedir uma mudança na política de reajustes de paridade internacional.