A pecuária bovina brasileira, uma das mais importantes atividades econômicas do país, enfrenta um cenário desafiador em 2025. O aumento dos custos de produção, impulsionado pela alta do dólar e pela redução na oferta de animais jovens para reposição, deve impactar toda a cadeia produtiva, desde o pecuarista até o consumidor final. Este panorama reflete uma série de fatores econômicos, climáticos e mercadológicos que tornam a produção de carne mais cara e menos previsível.
O Peso da Reposição e da Valorização do Bezerro
De acordo com o indicador Esalq/BM&FBovespa, o preço médio do bezerro em Mato Grosso do Sul encerrou 2024 com alta acumulada de 27,45%, atingindo R$ 2.643,23. Este aumento expressivo é resultado de uma oferta restrita de animais jovens, situação que pressiona principalmente os produtores que atuam na etapa final da cadeia produtiva, a engorda.
“Essa restrição de animais para a reposição, desde a recria até a engorda, impacta fortemente os custos de produção como um todo. O bezerro é o insumo mais caro para o pecuarista que faz confinamento, e qualquer variação no preço tem um efeito direto na rentabilidade”, explica Paulo Dias, diretor da Ponta Agro, empresa especializada em gestão de informações no setor agropecuário.
A oferta limitada de bezerros é reflexo de um descarte intenso de fêmeas nos últimos dois anos. Segundo dados do IBGE, o percentual de fêmeas abatidas em 2024 foi maior do que o registrado em 2022, indicando que muitos pecuaristas optaram por reduzir o rebanho ou maximizar ganhos imediatos, comprometendo a produção futura.
Dólar Alto e o Impacto no Custo de Insumos
Outro fator que complica a equação dos custos de produção é o câmbio. O dólar em alta aumenta a competitividade das exportações brasileiras de grãos, como milho e soja, que são fundamentais para a alimentação animal. Com isso, a disponibilidade de grãos no mercado interno diminui, pressionando os preços.
“Mesmo com a safra recorde de grãos em 2024, o mercado interno ainda enfrenta dificuldades. A alta do dólar reduz a oferta interna, encarece os insumos e limita o poder de compra dos pecuaristas, especialmente daqueles que dependem de sistemas de engorda intensiva”, avalia Fernando Iglesias, analista de proteína animal da consultoria Safras & Mercado.
Reflexos na Rentabilidade dos Pecuaristas
Apesar dos desafios, a pecuária bovina ainda oferece margens de lucro razoáveis para produtores eficientes. De acordo com estimativas da Ponta Agro, o custo total da arroba bovina em 2024 foi de R$ 224,09 no Centro-Oeste e R$ 211,28 no Sudeste. Esses valores garantiram um lucro médio de mais de R$ 810 por cabeça no Sudeste e R$ 560 no Centro-Oeste.
No entanto, a previsão para 2025 é de que a alta no custo da reposição reduza essas margens. “O grande desafio agora é manter a eficiência no manejo, otimizando recursos e minimizando perdas. A tecnologia e o planejamento estratégico serão cruciais para garantir a sustentabilidade da atividade”, observa Dias.
O Mercado Consumidor e o Papel dos Frigoríficos
A demanda por carne bovina no mercado interno pode ser afetada pelo aumento dos preços. “O consumidor brasileiro já enfrenta um orçamento apertado, e a alta no preço da carne pode reduzir o consumo. Isso é algo que nos preocupa, pois o mercado interno ainda é uma base importante para o setor”, afirma José Roberto Almeida, diretor comercial de um grande frigorífico no Centro-Oeste.
Por outro lado, o mercado externo continua aquecido, com a carne bovina brasileira registrando exportações recordes em 2024. “A demanda internacional é uma oportunidade, mas também gera um desafio: precisamos atender o mercado externo sem desabastecer o interno ou encarecer ainda mais o produto para o consumidor brasileiro”, avalia Almeida.
Estratégias para Enfrentar os Desafios
Produtores e frigoríficos têm adotado estratégias para enfrentar os desafios de 2025. Entre as principais iniciativas estão o uso de tecnologias de manejo de precisão, que permitem monitorar o desempenho dos animais e otimizar o uso de insumos, e a diversificação de mercados, com foco em produtos premium e nichos de alta rentabilidade.
Para Maria Antônia Vieira, que trabalha com confinamento no Sudeste, a gestão eficiente é a chave para superar as dificuldades. “Estamos investindo em tecnologia para melhorar a produtividade e reduzir desperdícios. Além disso, buscamos parceiros para garantir a compra antecipada de insumos e minimizar o impacto da volatilidade do câmbio”, conta.
Impacto no Consumidor Final
Com custos mais altos para produção, é esperado que o preço da carne no varejo também suba. Segundo Fernando Iglesias, a menor oferta de animais prontos para abate e a demanda internacional firme devem pressionar os preços ao longo de 2025. “O consumidor brasileiro pode esperar uma carne mais cara, especialmente nos cortes mais nobres. Isso deve levar muitas famílias a buscar alternativas mais acessíveis, como frango e suínos”, prevê.
Perspectivas para o Setor
Embora 2025 apresente desafios significativos, o setor pecuário brasileiro continua sendo um dos mais competitivos do mundo. A combinação de tecnologia, eficiência produtiva e demanda internacional coloca o Brasil em uma posição de destaque no mercado global.
No entanto, especialistas alertam para a necessidade de um planejamento estratégico mais amplo, que inclua políticas públicas voltadas para a sustentabilidade e o fortalecimento do mercado interno. “Precisamos de ações coordenadas para garantir que o Brasil continue sendo um líder global em produção de carne, sem sacrificar o consumo doméstico ou a sustentabilidade do setor”, conclui Dias.
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