A violência doméstica é um problema grave e silencioso que afeta milhares de mulheres e crianças em todo o Brasil. Em Mato Grosso do Sul, um projeto pioneiro tem sido fundamental para romper esse ciclo de sofrimento e oferecer acolhimento às vítimas: a Sala Lilás. Desenvolvido pelo Governo do Estado em parceria com os municípios, o projeto já está presente em 48 cidades e continua em expansão, com o objetivo de alcançar 76 dos 79 municípios do estado.
Um Refúgio Dentro das Delegacias
A Sala Lilás é um espaço especial dentro das delegacias, criado para receber vítimas de violência doméstica e sexual de forma humanizada. O ambiente foi projetado para garantir privacidade, conforto e um atendimento mais acolhedor às mulheres que chegam muitas vezes machucadas, fragilizadas e receosas de denunciar seus agressores.
De acordo com a delegada Christiane Grossi, idealizadora do projeto, a necessidade de um espaço reservado surgiu da percepção de que muitas vítimas se sentiam constrangidas ao procurar ajuda em delegacias convencionais. “Elas muitas vezes chegavam feridas e com vergonha de se expor. A Sala Lilás é um refúgio onde encontram acolhimento e apoio integral”, explica.
Ao dar entrada na delegacia, a vítima é imediatamente direcionada para a Sala Lilás, onde passa por todo o processo de atendimento. O primeiro passo é o registro do boletim de ocorrência, seguido da requisição de exame de corpo de delito e, quando necessário, do pedido de medidas protetivas contra o agressor. O atendimento também envolve a atuação de assistentes sociais e psicólogos, que auxiliam a mulher a encontrar abrigo temporário, suporte emocional e até mesmo oportunidades de reinserção no mercado de trabalho.
“Muitas vítimas têm dependência financeira do agressor e acham que não conseguem sair dessa situação. Nosso papel é mostrar que existem caminhos e que elas não estão sozinhas”, reforça Grossi.
Estrutura Pensada para as Vítimas e Seus Filhos
A Sala Lilás conta com dois ambientes principais: um cartório, onde o escrivão formaliza a denúncia, e um espaço especialmente preparado para mulheres que chegam acompanhadas de seus filhos. Esse segundo ambiente tem brinquedos, sofás e um banheiro com trocador, garantindo um local seguro e acolhedor para as crianças enquanto suas mães prestam depoimento.
“A segurança e o bem-estar das vítimas e de seus filhos são prioridades. Criamos um ambiente onde elas podem se sentir protegidas para contar suas histórias e buscar justiça sem medo”, enfatiza a delegada.

Delegada Gabriela Vanini na sala lilás em Dourados (Foto: Saul Schramm)
Impacto e Crescimento do Projeto
O impacto da Sala Lilás tem sido notável. Toda vez que uma unidade é inaugurada, o número de registros de violência doméstica na cidade aumenta significativamente. Mas isso não significa que a violência cresceu — pelo contrário, indica que mais mulheres estão se sentindo seguras para denunciar, sabendo que encontrarão apoio e proteção.
A primeira Sala Lilás foi inaugurada em novembro de 2017 e, nesta semana, a 48ª unidade será entregue na cidade de Itaquiraí. Entre os municípios que já contam com o projeto estão: Dourados, Ponta Porã, Naviraí, Sidrolândia, Maracaju, Bonito, Costa Rica, Iguatemi, Bodoquena, Nova Andradina, Sonora, entre outros.
O delegado Iago Adonis Ismerim Soares dos Santos, responsável pela unidade de Bodoquena, destaca a transformação que o projeto trouxe para a cidade. “O atendimento às vítimas mudou completamente. Hoje, conseguimos oferecer apoio psicológico, jurídico e assistencial de maneira integrada, evitando que elas voltem para o agressor por falta de alternativas”, afirma.
Outro aspecto essencial do projeto é a capacitação dos servidores para lidar com os casos de violência doméstica. “Não basta apenas oferecer um espaço adequado. É fundamental que os profissionais estejam preparados para ouvir, acolher e agir da melhor maneira possível”, complementa Adonis.
Dourados: Um Exemplo de Atendimento Humanizado
Em Dourados, a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, a delegada Gabriela Vanini lidera um trabalho de excelência na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário). Ela relata que, desde a inauguração da Sala Lilás no município, o atendimento às vítimas tem sido mais ágil e eficaz.
“Antes, muitas mulheres chegavam à delegacia assustadas, com medo de serem desacreditadas. Hoje, sabemos que podemos oferecer um acolhimento digno, onde elas são tratadas com respeito e empatia”, afirma Vanini. Segundo a delegada, muitas vítimas chegam com crianças, e o ambiente da Sala Lilás ajuda a tornar esse momento menos traumático. “Enquanto a mãe recebe atendimento, a criança brinca e se sente protegida”, acrescenta.
A delegada também ressalta a importância da denúncia para interromper o ciclo de violência. “O feminicídio geralmente é o estágio final de uma escalada de agressões. Em muitos casos, vizinhos e familiares relatam que ouviram discussões e brigas, mas ninguém denunciou antes. É fundamental que a sociedade se envolva e denuncie pelo Disque 100 ou pelo telefone 190, em casos de emergência.”
Um Projeto Que Salva Vidas
A Sala Lilás não é apenas um espaço físico, mas um projeto transformador e essencial no combate à violência contra mulheres e crianças. Sua expansão para cada vez mais cidades é um passo importante para romper o ciclo da violência e dar uma nova chance para milhares de vítimas.
A mensagem deixada pela delegada Christiane Grossi resume bem o impacto do projeto: “Quando uma mulher percebe que tem apoio, que não está sozinha e que pode recomeçar, ela ganha forças para mudar sua história. E é isso que estamos fazendo com a Sala Lilás: dando novas oportunidades e salvando vidas.”
Se você ou alguém que conhece está em situação de violência, denuncie. A Sala Lilás está pronta para acolher, proteger e transformar vidas.
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