O desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como “igreja de ouro”, no Centro Histórico de Salvador, na tarde desta quarta-feira (5), deixou pelo menos uma vítima fatal e seis feridos, segundo informações do Corpo de Bombeiros.
A vítima fatal foi identificada como Giulia Panchoni Righetto, de 26 anos, turista de São Paulo que visitava a igreja acompanhada de amigas. Giulia desembarcou na cidade de um navio ancorado no Porto de Salvador e estava dentro do templo no momento do desabamento. Entre os feridos, há turistas e moradores locais que estavam no interior da igreja no momento da tragédia.
Turistas descrevem momentos de pânico
Turistas que estavam no local no momento do desabamento relataram cenas de terror e desespero. Luiz Farias, visitante de Belo Horizonte, contou que estava admirando o interior da igreja quando ouviu um estalo alto vindo do teto.
“Foi assustador. De repente, ouvimos um barulho muito forte, como se algo estivesse rachando, e em questão de segundos, parte do teto veio abaixo. Houve gritos, correria, poeira por toda parte. Algumas pessoas caíram no chão tentando correr, e quando olhamos para trás, vimos que uma parte da estrutura desabou bem onde alguns turistas estavam”, relatou Luiz, ainda abalado com a cena.
Outra turista, Camila Andrade, do Rio de Janeiro, disse que tudo aconteceu muito rápido. “Tirávamos fotos do altar quando ouvimos um barulho estranho, como se algo estivesse se desprendendo. Em menos de dez segundos, a madeira começou a despencar. Tentamos correr, mas não deu tempo para todos. Foi horrível ver as pessoas sendo atingidas e não poder fazer nada. A Giulia estava bem perto de nós, e quando olhamos novamente, ela já estava no chão, soterrada pelos destroços”, contou Camila, emocionada.
Patrimônio histórico em risco
A Igreja de São Francisco de Assis, considerada uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, já apresentava sinais evidentes de desgaste. Internamente revestido de ouro e tombado como patrimônio material do Brasil, o templo fundado no século XVIII enfrentava problemas estruturais há anos.
Imagens registradas em 2023 já mostravam o teto desgastado, pinturas descascadas, pilastras comprometidas e pisos desnivelados, tornando o espaço perigoso, especialmente para visitantes com mobilidade reduzida. Um dos pátios da igreja chegou a ser interditado no mesmo ano, devido ao risco de queda do pináculo direito, uma estrutura de 1,5 tonelada que foi removida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Mesmo com alertas e reformas pontuais, como a reestruturação dos painéis lusitanos promovida pelo governo federal em 2023, a manutenção do restante da igreja não foi realizada, resultando na tragédia.
Autoridades pedem investigação
O padre Lázaro Muniz afirmou que ninguém havia identificado sinais de que a estrutura estava prestes a ceder. “A grande surpresa é que ninguém nunca percebeu que pudesse chegar a esse ponto. Não tínhamos nenhum indício recente que apontasse para a possibilidade de um desabamento. Por isso, é essencial que haja uma investigação séria”, declarou o religioso.
Diante da tragédia, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, lamentou a morte da turista e cobrou providências urgentes para a preservação do patrimônio histórico. “Precisamos garantir a segurança de nossos visitantes e moradores. A Igreja de São Francisco de Assis é um ícone da nossa cultura, mas não podemos permitir que a negligência custe vidas. Estamos exigindo uma apuração rigorosa e medidas concretas para evitar novos acidentes”, afirmou o governador.
O Ministério Público da Bahia informou que abrirá um inquérito para investigar possíveis falhas na conservação da igreja e responsabilidades pela tragédia. “Se houve negligência, seja por parte de gestores públicos ou entidades responsáveis pela manutenção, os culpados precisarão responder na Justiça”, declarou o promotor Ricardo Oliveira.

Altar da Igreja de São Francisco, a ‘igreja de ouro’, em Salvador, antes do desabamento — Foto: Fábio Marconi/Divulgação PMS
Revolta entre moradores e turistas
A tragédia causou indignação entre moradores de Salvador e visitantes, que denunciam o abandono de monumentos históricos na cidade. Carlos Santana, guia turístico que trabalha na região do Pelourinho, afirmou que há anos alerta sobre os riscos de desabamento em prédios históricos.
“Nós que trabalhamos aqui diariamente sempre notamos o descaso com a manutenção dessas igrejas e casarões. Quantas vezes já avisamos que o teto da São Francisco estava deteriorado? Só tomam providências depois que acontece uma tragédia”, desabafou Carlos.
A arquiteta e restauradora Cecília Duarte, especialista em patrimônio histórico, reforçou a necessidade de ações preventivas para evitar novos desastres. “Muitas dessas igrejas foram construídas há séculos e necessitam de uma manutenção cuidadosa e constante. O IPHAN, os governos estadual e federal e a própria Arquidiocese precisam trabalhar juntos para garantir a preservação desses espaços. Não podemos esperar que novas vidas sejam perdidas para agir”, alertou Cecília.
Conclusão
O desabamento do teto da Igreja de São Francisco de Assis expôs não apenas a vulnerabilidade do patrimônio histórico de Salvador, mas também a falta de investimentos consistentes em sua preservação. A tragédia reforça a necessidade de medidas urgentes para garantir a segurança de turistas e moradores, além da conservação de um dos mais importantes templos barrocos do país.
A comoção nacional e as cobranças por justiça devem servir de alerta para que o descaso com o patrimônio histórico não continue sendo tratado com negligência. Enquanto isso, familiares e amigos de Giulia Righetto lamentam uma perda irreparável, que poderia ter sido evitada com um olhar mais atento das autoridades.
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