Uma investigação recente tem chamado a atenção para uma possível ligação entre o uso de antidepressivos e o agravamento da demência, doença que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Embora o estudo seja preliminar, os resultados levantaram preocupações sobre os efeitos desses medicamentos no declínio cognitivo de pacientes diagnosticados com demência, especialmente em doses mais altas de certos tipos de antidepressivos.
A pesquisa, publicada no renomado BMC Medicine, analisou os dados de saúde de 18.740 pacientes com uma média de 78 anos, todos recentemente diagnosticados com algum tipo de demência. Durante o estudo, foi constatado que aproximadamente 23% dos participantes estavam sendo tratados com antidepressivos, com 65% dessas prescrições correspondendo aos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), classe popular de medicamentos. Os resultados indicam que, ao longo de um acompanhamento médio de 4,3 anos, os pacientes que tomaram doses mais altas de ISRS apresentaram um declínio cognitivo mais acentuado.
Entre os medicamentos analisados, o escitalopram, uma das drogas mais comuns dessa classe, foi o que apresentou maior associação com o agravamento da demência, seguido pelo citalopram e a sertralina. A mirtazapina, outro antidepressivo analisado, mostrou ter um impacto menor no processo cognitivo dos pacientes. Além disso, o estudo revelou que homens que usavam antidepressivos demonstraram um declínio cognitivo mais rápido do que as mulheres.
Os antidepressivos são frequentemente prescritos a pacientes com demência para ajudar no controle de sintomas como depressão, ansiedade ou distúrbios do sono, condições que frequentemente acompanham a doença. No entanto, o estudo levantou questões sobre os efeitos a longo prazo desses medicamentos, sugerindo que os médicos devem monitorar de perto o declínio cognitivo de seus pacientes que utilizam antidepressivos.
O Dr. Richard Oakley, diretor associado de pesquisa e inovação da Alzheimer’s Society, fez questão de destacar que o estudo não concluiu de forma definitiva que os antidepressivos são a causa do agravamento da memória. Na verdade, ele sugeriu que a própria condição de demência, por si só, poderia estar contribuindo para a piora cognitiva observada nos pacientes. Para ele, mais pesquisas são necessárias para esclarecer se os medicamentos realmente aceleram o declínio cognitivo ou se a depressão, frequentemente associada à demência, é a principal responsável por esses efeitos.
A professora Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, também comentou sobre os resultados do estudo, apesar de não ter participado da pesquisa. Ela destacou que as pessoas que necessitam de antidepressivos podem ter uma forma de demência mais agressiva, ou então, a depressão em si pode influenciar de forma negativa o avanço da doença. Esse fator torna difícil determinar se os medicamentos são realmente os culpados pelo declínio cognitivo, ou se são apenas uma variável relacionada a uma condição já mais grave.
Apesar dessas cautelas, os pesquisadores liderados por Sara Garcia-Ptacek, autora principal do estudo, reforçam que são necessários mais estudos para confirmar ou refutar essas descobertas. Vale lembrar que essa não é a primeira pesquisa a sugerir um vínculo entre o uso de antidepressivos e a progressão da demência. Um estudo anterior, publicado no British Medical Journal em 2018, já havia observado uma relação semelhante.
Atualmente, no Reino Unido, cerca de 9 milhões de pessoas fazem uso de antidepressivos, com 8,7 milhões de pacientes recebendo algum tipo desses medicamentos durante o período de 2023/24. Esse número mostra a grande disseminação desses tratamentos, o que torna a discussão sobre seus impactos ainda mais relevante, principalmente quando se trata de pacientes vulneráveis, como aqueles que convivem com a demência.
Antidepressivos e o declínio cognitivo: Quais medicamentos podem agravar a demência?
O estudo revelou que certos tipos de antidepressivos podem estar associados ao agravamento do declínio cognitivo em pacientes com demência. Especificamente, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), uma das classes mais prescritas de antidepressivos, foram os mais frequentemente associados a esse efeito negativo.
Entre os ISRS analisados, os seguintes medicamentos foram identificados com maior relação ao agravamento da demência:
- Escitalopram: Este medicamento, frequentemente prescrito para o tratamento de depressão e ansiedade, foi o que mostrou maior associação com o declínio cognitivo mais rápido nos pacientes com demência.
- Citalopram: Outro ISRS que, juntamente com o escitalopram, foi relacionado a uma piora nos sintomas de demência.
- Sertralina: Também pertencente à classe dos ISRS, a sertralina foi associada ao agravamento dos sintomas cognitivos em alguns pacientes, embora a relação tenha sido um pouco menos pronunciada do que a observada com o escitalopram e o citalopram.
Por outro lado, a mirtazapina, que é um antidepressivo de uma classe diferente (não-ISRS), apresentou um impacto menor na cognição, de acordo com o estudo.
É importante ressaltar que, embora esses antidepressivos possam estar associados ao agravamento do declínio cognitivo em pacientes com demência, a relação entre o uso desses medicamentos e o desenvolvimento da demência em si não é clara. Em alguns casos, a própria depressão ou a gravidade da demência podem ser fatores que contribuem para o pioramento da cognição, e não o antidepressivo em si.
Portanto, é essencial que o uso de antidepressivos seja cuidadosamente monitorado por profissionais de saúde, especialmente em pacientes com demência ou em risco de desenvolvê-la, para garantir que os benefícios do tratamento superem os potenciais riscos.
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