O que parecia ser só mais uma operação de rotina acabou revelando um esquema engenhoso e perigoso de contrabando de pneus em Campo Grande. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal e a Receita Federal colocaram em prática duas operações de peso, batizadas de Bad Tires e Tatu Bola, que atingiram em cheio centros automotivos suspeitos de comercializar pneus de origem ilegal. O método usado pelos contrabandistas virou assunto entre os agentes: a chamada “bola de pneus”.
A tática é simples, mas extremamente arriscada. Consiste em colocar um pneu dentro do outro, formando até cinco camadas, o que facilita o transporte de uma quantidade muito maior por viagem. Apesar de novos, os pneus chegam com deformações e ondulações, o que compromete a segurança de quem usa e até de quem está por perto. É o tipo de economia que sai caro quando o assunto é segurança no trânsito.
As investigações apontam que os pneus vêm da China, entram no Brasil pela fronteira com o Paraguai e atravessam Mato Grosso do Sul até chegar às mãos de transportadores locais. O destino final são revendedoras em Campo Grande, onde os produtos são vendidos como se fossem legalizados. Segundo o organograma apresentado pela Receita, tudo funciona como um circuito bem amarrado, com cada etapa alimentando a próxima.
A operação dessa quarta-feira cumpriu 17 mandados de busca e apreensão. Foram 16 alvos em Campo Grande e um em Bonito. Entre os investigados estão oito centros automotivos, além de residências de empresários ligados diretamente ao esquema. A força-tarefa mobilizou 22 auditores-fiscais e analistas tributários, além de 66 policiais federais.
Um dos endereços vistoriados foi o Autocenter do Pai, uma borracharia localizada no Bairro Cabreúva. No local, o gerente Ivo Pereira, de 42 anos, fez questão de se pronunciar. Ele afirma que a loja apenas compra pneus de terceiros e revende no balcão. “A gente não busca isso aí não. A gente só compra aqui e revende. As pessoas passam diariamente e vendem. Campo Grande inteiro tem isso. O pessoal passa de loja em loja e vai vendendo. De forma nenhuma é contrabando”, declarou.

Essa já é a segunda grande ação desse tipo em menos de seis meses. Em novembro do ano passado, a operação Wrong Tires já tinha colocado o dedo na ferida. Na época, foram apreendidos cerca de 6 mil pneus ilegais em cinco mandados de busca. O novo desdobramento das investigações começou após a prisão em flagrante de dois motoristas carregando um grande volume de pneus que seriam entregues nos centros automotivos da Capital.
Além do risco claro à segurança no trânsito, o esquema também causa prejuízos graves ao meio ambiente. Os pneus entram no país sem qualquer controle, sem atender à legislação ambiental e sem o devido descarte quando perdem a validade. Para completar, o impacto na economia nacional é forte: os produtos ilegais não pagam impostos, não cumprem normas trabalhistas nem previdenciárias, e ainda concorrem de forma desleal com os produtos legalizados.
Quem compra pode até achar que está fazendo um bom negócio, pagando menos. Mas por trás desse preço baixo existe um sistema que dribla a lei, coloca vidas em risco e mina a indústria nacional. A Receita e a PF prometem continuar de olho para desmanchar o restante da rede, que ainda pode estar ativa em outras regiões do Estado.
Campo Grande, que já tinha virado rota para o contrabando de eletrônicos e bebidas, agora entra também no mapa do comércio ilegal de pneus. E com as investigações avançando, a expectativa é de que mais nomes sejam revelados nos próximos dias. Por enquanto, os envolvidos seguem sendo ouvidos e podem responder por crimes de descaminho, associação criminosa, e até crime ambiental.
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