O advogado e influenciador João Neto, de 47 anos, foi preso em flagrante na última segunda-feira (14), em Maceió, capital de Alagoas, após ser acusado de agredir fisicamente a própria namorada dentro do apartamento onde os dois moravam. A Justiça decretou, já no dia seguinte (15), a conversão da prisão em preventiva, mantendo o agressor atrás das grades enquanto o caso é investigado.
O episódio gerou forte comoção e indignação pública não apenas pelo ato violento em si, mas também pelas declarações absurdas feitas por João Neto dias antes do crime, em um podcast onde falou abertamente que “existem motivos para um homem bater em uma mulher”. A fala foi gravada e viralizou após a prisão, provocando revolta em todo o país.
João Neto pregava violência e citava Jesus para justificar agressões
Durante o programa gravado no dia 5 de abril, João Neto, que conta com mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, declarou abertamente que, na opinião dele, se uma mulher agredir um homem, ela estaria dando “motivo” para levar outro tapa. “Homem só tem um motivo para bater em mulher: se ela bater primeiro. Quem não quer apanhar, não bate”, afirmou.
A fala causou ainda mais espanto quando ele citou Jesus Cristo como exemplo, mas distorceu completamente a mensagem cristã. “Jesus que tomou um tapa na cara e deu o outro lado para bater. Eu não, irmão. Eu não tenho essa capacidade de perdoar. Se der na minha cara, vai tomar um bocado também”, disse ele, sem hesitar, enquanto o apresentador da entrevista dava risadas, tornando o momento ainda mais revoltante.
Entenda como ocorreu a agressão
Segundo o boletim de ocorrência registrado na Central de Flagrantes, a vítima contou à polícia que foi derrubada por um empurrão dentro do apartamento do casal. Ao cair, ela bateu o queixo no chão e sofreu um ferimento grave na cabeça, com sangramento intenso. A versão foi confirmada por imagens das câmeras de segurança do prédio.
Nos vídeos, é possível ver a mulher no hall do edifício, com sangue escorrendo da cabeça, enquanto João Neto tenta conter o ferimento com um pano. A sequência das imagens também mostra o advogado pedindo a uma funcionária que limpasse o sangue do chão, numa tentativa evidente de esconder os rastros da violência. Depois, ele saiu com a vítima em direção ao hospital, sem acionar o socorro médico oficial.
A mulher foi levada para atendimento hospitalar e, mesmo machucada, compareceu à delegacia para formalizar a denúncia. A polícia agiu rapidamente e localizou João Neto nas imediações do hospital. Ele foi detido ainda na noite de segunda-feira e permanece preso, agora à disposição da Justiça. A delegacia especializada em crimes contra a mulher instaurou inquérito e deve ouvir testemunhas, além de analisar imagens e documentos.
Repercussão nas redes e indignação coletiva
As redes sociais foram tomadas por mensagens de repúdio. Seguidores do influenciador passaram a cobrar punição rigorosa e criticaram a postura de João Neto, que sempre se apresentou como defensor da lei, mas teve comportamento oposto fora das câmeras. A hipocrisia do discurso e a frieza nas ações chocaram até mesmo pessoas que acompanhavam o trabalho dele há anos.
A defesa de João Neto se manifestou de forma breve nas redes, dizendo que “tomou ciência das reportagens” e que “o caso será devidamente esclarecido na audiência de custódia”. Ainda não houve novo pronunciamento oficial.
A importância da Lei Maria da Penha
Este caso evidencia, mais uma vez, a importância da Lei Maria da Penha como instrumento de proteção às mulheres em situação de violência. A agressão sofrida pela namorada de João Neto entra em uma triste estatística que cresce a cada ano no Brasil. Mesmo com leis mais duras, o machismo e a cultura de dominação masculina ainda encontram espaço, inclusive em figuras públicas que deveriam dar exemplo.
O uso da religião para justificar atitudes agressivas também levanta um alerta. Não se pode tolerar o uso distorcido de ensinamentos religiosos para reforçar comportamentos violentos e machistas. O respeito, o diálogo e a empatia devem prevalecer em qualquer relação humana.
A Justiça segue com as investigações e, diante das provas, João Neto pode responder por lesão corporal grave e violência doméstica com base na Lei Maria da Penha. O caso ainda poderá ser agravado por eventual tentativa de ocultação de provas, dada a tentativa de limpar o local do crime antes da chegada das autoridades.
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