Mato Grosso do Sul, 25 de abril de 2025
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Quando a educação muda tudo: universidade abre portas e transforma o futuro de indígenas

UEMS garante cotas em todos os cursos, inspira superações e fortalece a identidade dos povos originários no Mato Grosso do Sul
Imagem - UEMS/Divulgação
Imagem - UEMS/Divulgação

No coração do Mato Grosso do Sul, onde a tradição indígena pulsa forte e a luta por direitos é constante, a educação tem feito um papel muito maior do que ensinar. Ela tem servido de ponte. Ponte para sonhos, para conquistas, para mudanças reais. E a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, a UEMS, vem sendo protagonista de uma revolução silenciosa que está mexendo com a vida de muita gente.

Foi ali, entre livros e dificuldades, que histórias como a de Tonico Benites e Leosmar Antonio começaram a tomar outro rumo. Ambos indígenas, ambos de origem simples, ambos com tudo para não conseguirem. Mas conseguiram. Por causa de uma porta aberta chamada UEMS.

A universidade foi a primeira do Brasil a criar cotas para indígenas em todos os seus cursos de graduação. Isso aconteceu em 2002, antes de muita discussão sobre inclusão virar pauta nacional. Com uma lei estadual que garante essa reserva de vagas, a UEMS fez história e segue escrevendo capítulos de superação e cidadania.

De cortador de cana a doutor na Europa

Tonico Benites nasceu em 1971, numa pequena aldeia do interior sul-mato-grossense. Até o 5º ano ele estudou por lá. Depois, como muitos da sua comunidade, foi trabalhar no corte de cana. Aos 21 anos, voltou os olhos pra educação e, com muito esforço, concluiu o supletivo, virou professor na própria aldeia, na escola improvisada feita de sapé. Era tudo ao mesmo tempo: professor, diretor, merendeiro e vigia. A estrutura era quase nenhuma, mas a vontade era enorme.

A caminhada seguiu com o ingresso na UEMS. E dali ele não parou mais. Se formou, fez mestrado, doutorado, pós-doutorado. Passou pela França e pela Alemanha levando consigo o nome da universidade que lhe abriu as portas. Hoje, é professor universitário e um dos principais nomes da luta por educação indígena no Brasil. E o mais bonito é que ele viu sua aldeia crescer junto: de 300 para mil moradores, e uma escola que agora atende mais de 400 alunos até o Ensino Médio.

Do internato à ONU: a caminhada de Leosmar

Já Leosmar Antonio, da etnia Terena, também teve sua história transformada a partir de um comercial da UEMS. Ele estudava em internato da Fundação Bradesco e terminou o Ensino Médio em escola urbana. Quando viu que a universidade oferecia cotas para indígenas e cursos voltados à sustentabilidade, decidiu tentar. Passou em Ciências Biológicas e mudou pra Dourados sozinho, sem conhecer ninguém. Trabalhou como servente até conseguir o Vale Universidade.

Durante a graduação, mergulhou nos estudos e projetos ligados aos saberes tradicionais. Chegou a trabalhar com a Embrapa, pesquisando como melhorar a produção agrícola em sua aldeia. Virou professor, fez mestrado, doutorado na Fiocruz, e depois foi parar no PNUD da ONU.

Em 2023, um convite inesperado chegou: assumir cargo no Ministério dos Povos Indígenas, em Brasília. Ele foi, e desde então trabalha como coordenador-geral de Promoção do Bem Viver Indígena. Entre suas tarefas está reativar políticas públicas que tinham sido engavetadas, como a PNGATI, uma política fundamental para gestão de terras indígenas.

Uma universidade com compromisso real

A UEMS não ficou só na promessa. Em 2024, a universidade já contava com 615 indígenas matriculados nos cursos de graduação. Mais de 90% desses alunos fazem aulas presenciais. Outros cursam de forma remota, mas todos têm algo em comum: a oportunidade que a instituição ofereceu.

Os primeiros cursos voltados exclusivamente para indígenas começaram lá em 2002, com turmas em Aquidauana, para os Terena, e em Amambai, para Guarani e Kaiowá. Depois veio o curso de Pedagogia Intercultural, e mais recentemente a criação de cursos em Agroecologia Intercultural, inclusive voltados para indígenas em situação de privação de liberdade.

O trabalho da UEMS virou referência no país inteiro. A universidade mostra que quando há vontade política e sensibilidade social, as coisas mudam. E mudam de verdade. É mais do que dar diploma. É sobre garantir futuro, respeito, identidade, voz.

Educação que transforma de verdade

As histórias de Tonico, Leosmar e tantos outros indígenas que passaram pela UEMS são provas vivas de que políticas de inclusão não são esmola, nem favor. São direitos. São investimentos no que o Brasil tem de mais valioso: seu povo.

Hoje, essas lideranças indígenas multiplicam o conhecimento nas suas comunidades, influenciam políticas públicas, ensinam, cuidam da terra, fortalecem suas culturas e mostram que quando se planta oportunidade, o fruto é transformação.

Essa não é só a história de uma universidade. É a história de um Brasil que pode, sim, dar certo.

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