Mato Grosso do Sul, 27 de abril de 2025
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Rede criminosa mira postos de combustíveis e Mato Grosso do Sul entra na rota do crime organizado

Facções usam postos para lavar dinheiro, sonegar impostos e movimentar bilhões sem chamar atenção das autoridades
PF em revenda fechada: uso de estabelecimentos para lavar dinheiro do tráfico de drogas (./Divulgação)
PF em revenda fechada: uso de estabelecimentos para lavar dinheiro do tráfico de drogas (./Divulgação)

O cheiro de gasolina esconde mais do que o combustível que move carros pelas ruas. Esconde também o rastro de milhões em dinheiro sujo que corre debaixo dos panos. Um levantamento inédito feito pela Polícia Federal colocou Mato Grosso do Sul no mapa de uma investigação nacional que revela o uso de postos de combustíveis por facções criminosas como PCC, Comando Vermelho e até milícias para lavar dinheiro, driblar impostos e financiar ações ilegais.

Ao todo, 941 postos de combustíveis são suspeitos de envolvimento com o crime organizado em 22 estados. Quatro deles estão em território sul-mato-grossense, segundo a apuração coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Os nomes dos estabelecimentos, no entanto, ainda não foram divulgados, mas o alerta já está ligado em regiões estratégicas como a fronteira com o Paraguai e a Bolívia.

O mapeamento foi puxado pelo Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, com participação da Polícia Federal, Receita Federal, Coaf e Ministério de Minas e Energia. A ideia é cortar o dinheiro na fonte, atingindo em cheio os esquemas que usam empresas de fachada, laranjas e redes de postos para dar aparência legal ao lucro vindo do tráfico, roubo de cargas e corrupção.

Mato Grosso do Sul tem uma localização privilegiada para o tráfico, sendo rota de entrada de drogas, armas e mercadorias ilegais. Por isso, se tornou terreno fértil para essa nova frente do crime. E os postos de combustíveis viraram a ferramenta perfeita. Com alto volume de transações e muito dinheiro circulando em espécie, o setor facilita a inserção de dinheiro sujo sem levantar suspeitas.

Segundo o promotor Fábio Bechara, integrante do Gaeco de São Paulo, o interesse do crime nesse setor não é de hoje. “Já nos anos 1990 havia movimentação, mas agora as estruturas estão muito mais organizadas, com envolvimento até de distribuidoras e empresas que só existem no papel”, afirmou à imprensa.

O estudo também revelou que, para o crime organizado, os lucros com o setor de combustíveis podem ser até quatro vezes maiores do que os ganhos com o tráfico de cocaína. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública calcula que o tráfico movimenta R$ 15 bilhões por ano. Já o comércio clandestino de combustíveis e lubrificantes pode alcançar R$ 61,5 bilhões anuais, com perdas de cerca de R$ 23 bilhões em impostos que deixam de ser pagos.

Por enquanto, no Mato Grosso do Sul, as investigações seguem em sigilo. Fontes da área de segurança, ouvidas de forma reservada, confirmaram que há apurações em andamento, principalmente em áreas com movimentações fora do padrão, o que pode indicar atividades suspeitas.

O ministro Ricardo Lewandowski, atual chefe do Ministério da Justiça, já sinalizou que quer unificar todas essas investigações sob um único inquérito nacional. O objetivo é acabar com as ações isoladas e enfrentar o problema como uma rede que opera em várias frentes e estados ao mesmo tempo.

Além disso, empresários que atuam de forma legal estão pressionando o governo, alegando concorrência desleal. Segundo eles, é impossível competir com postos que vendem abaixo do preço de mercado porque sonegam impostos ou abastecem veículos de fachada para retirar dinheiro em espécie.

Essa realidade não é nova por aqui. Em 2020, uma operação do Gaeco em Campo Grande já havia identificado o uso de postos para desviar e lavar dinheiro. Na época, o golpe era simples: o posto abastecia veículos fantasma, emitia notas frias e o dinheiro voltava em espécie para os cofres do grupo criminoso.

Agora, o cenário ganha escala nacional, e a bomba está prestes a estourar com força total. A missão das autoridades é clara: desmontar as engrenagens de um esquema que mistura combustível com crime, e que vai muito além dos tanques dos carros.

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