O Governo de Mato Grosso do Sul decidiu colocar dinheiro onde o problema começa: na base do SUS, onde tudo acontece primeiro, onde o povo procura ajuda antes que a doença piore. Com o anúncio de um investimento de R$ 36 milhões, a promessa é reestruturar a Atenção Primária à Saúde em todos os municípios do estado, reforçando as Unidades de Saúde da Família com novos equipamentos e mais suporte para os profissionais que lidam diariamente com a realidade de quem mais precisa.
A medida faz parte do chamado Programa Estadual Reestrutura APS, oficializado em janeiro deste ano, e tem como foco resolver velhos gargalos da atenção básica: consultórios sem ventilação, mesas enferrujadas, balanças desreguladas e falta de privacidade para exames. Cada unidade vai receber R$ 30 mil de uma só vez, valor que já começou a ser usado para comprar itens como ar-condicionado, mesa ginecológica, biombo, detector fetal e balança portátil.
A ação contempla ainda investimentos maiores em áreas específicas. São mais de R$ 19 milhões destinados para reforçar as equipes da Estratégia Saúde da Família e outros R$ 16 milhões para modernizar o atendimento odontológico com novos equipamentos. A ideia é garantir atendimento de qualidade desde o primeiro contato do paciente com o sistema de saúde, algo que está longe de ser realidade em boa parte do estado.
Onze municípios já estão na frente, com equipamentos novos em uso, entre eles Anastácio, Aparecida do Taboado, Aquidauana, Cassilândia, Iguatemi e Mundo Novo. Os demais seguem esbarrando na burocracia dos processos licitatórios, que muitas vezes tornam o caminho entre a verba liberada e o equipamento instalado mais longo do que deveria ser.
Para não deixar ninguém de fora, o Governo prorrogou por mais um ano o prazo para que todas as prefeituras possam concluir as compras. A medida, apesar de necessária, também levanta uma dúvida: se é difícil gastar o dinheiro, o problema é só falta de recursos?
A fala do gerente de Gestão da Atenção Primária da SES, Bruno Reis, reforça a importância da ação. “Esse investimento é fundamental para garantir melhores condições de trabalho às equipes e, principalmente, para oferecer um atendimento mais qualificado à população”, afirmou. Mas quem vive o dia a dia das unidades sabe que a questão não se resume a aparelhos novos.
O SUS na prática ainda é sobrecarregado, com poucos profissionais, filas intermináveis, pacientes desistindo de procurar atendimento por já saberem que não vão conseguir resolver o problema. Equipamento novo não faz exame sozinho. Ar-condicionado não compensa a falta de médicos. Mesa ginecológica moderna não funciona se a unidade sequer tem profissional capacitado para usá-la.
Médicos, enfermeiros e agentes comunitários continuam cobrando mais valorização, condições dignas de trabalho e estabilidade para exercer suas funções. E a população, que paga impostos e acredita no SUS, continua esperando um atendimento digno, sem precisar acordar de madrugada para tentar uma senha, ou esperar semanas por uma consulta de rotina.
O esforço do Governo do Estado é um passo importante. Mas reforçar a base do sistema exige mais que compras pontuais. É preciso política de longo prazo, continuidade, fiscalização séria e um olhar constante sobre quem mais depende do sistema público para viver com dignidade. O investimento é válido, mas só será eficaz se acompanhado de ações que toquem na ferida da saúde pública: a desigualdade de acesso, a falta de planejamento e o abandono de quem está nas periferias.
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