A segunda-feira, 28 de abril, ficou marcada como um dia decisivo para os caminhos do Brics e, principalmente, para os rumos da política internacional. Pela primeira vez desde a ampliação do bloco, os chanceleres dos países que agora compõem o novo Brics se reuniram oficialmente em uma agenda cheia de peso, diálogo e apelo por mudanças profundas na forma como o mundo se organiza politicamente. O encontro foi realizado no Rio de Janeiro e teve o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, como coordenador dos debates e principal anfitrião da rodada de conversas.
Logo na abertura, Vieira foi direto ao ponto. Reafirmou que o Brics precisa ser mais do que um grupo de países emergentes: deve se posicionar como força ativa pela paz, contra o unilateralismo, e como defensor de uma nova forma de governança global. O chanceler brasileiro reforçou que o grupo é um espaço onde os interesses de todos os membros são respeitados, e que o caminho para o desenvolvimento mundial passa por mais igualdade, menos confrontos e mais diplomacia.
Durante o primeiro dia de debates, os ministros colocaram em pauta temas delicados, mas urgentes: a crise humanitária em várias regiões do mundo, os conflitos armados que continuam se multiplicando, a falta de representatividade de países do Sul Global em órgãos de decisão internacional, e a necessidade urgente de reformar as instituições que ditam as regras da política e da economia global. Os três painéis centrais trataram desses temas com foco na reforma da governança global, reforço do multilateralismo e fortalecimento do papel dos países em desenvolvimento.
O tom mais firme ficou por conta do apelo pela paz, feito por Mauro Vieira em seu discurso. Ele lembrou que 2023 bateu um recorde trágico, com 183 conflitos armados registrados no planeta, o maior número das últimas três décadas. Para o ministro, o sofrimento humano jamais pode ser tratado como arma de guerra. E o Brics precisa se manter firme como defensor de um sistema humanitário neutro, sem interferência política ou interesses escusos.
Os exemplos das crises não faltaram: o agravamento da situação no Haiti, a guerra na Ucrânia, as tensões na África e, principalmente, o drama vivido pela população palestina em Gaza. O ministro brasileiro reforçou a posição do país a favor da solução de dois Estados e pediu a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, além da libertação dos reféns. “Não se pode admitir que ajudas humanitárias continuem sendo impedidas. O mundo precisa agir com urgência”, disse ele.
Outro destaque foi a atuação do Brasil como país-sede da reunião e, também, como presidente do Brics em 2025. Vieira participou de vários encontros bilaterais com chanceleres de países convidados e membros do grupo, como Indonésia, Rússia, Uganda, Etiópia e Tailândia. Essas conversas servem para alinhar temas de interesse mútuo e antecipar posicionamentos que podem ser levados às sessões gerais.
Essa reunião é também um passo importante na construção da Cúpula de Líderes do Brics, prevista para julho, também no Rio. A declaração conjunta que será assinada nesta quarta-feira (29) pelos ministros servirá de base para o documento final que será apresentado aos chefes de Estado do grupo.
O Brics ampliado agora reúne países que representam quase metade da população mundial e que querem mais espaço nas decisões que afetam o planeta. E a mensagem deixada no Rio de Janeiro é clara: o mundo precisa mudar e precisa ser mais justo, mais equilibrado e menos centrado em interesses de poucos. O grupo quer liderar essa transformação com diálogo, cooperação e respeito à soberania de cada nação.
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