A luta por um pedaço de chão para plantar e viver com dignidade ganhou novos rumos em Mato Grosso do Sul. Depois de dias de mobilização e ocupação da sede do Incra em Campo Grande, trabalhadores rurais conquistaram promessas concretas: uma fazenda em Sidrolândia e mais três imóveis no estado devem ser destinados à reforma agrária. A novidade foi confirmada durante uma reunião entre representantes do governo federal e lideranças do movimento do campo.
O encontro, que terminou com data marcada para nova rodada de negociações em Brasília no dia 19 de maio, teve momentos de tensão e esperança. Os representantes do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) ouviram as reivindicações e assumiram o compromisso de iniciar os processos para destinar as áreas reivindicadas aos trabalhadores.
Terra com nome, disputa e promessa
A principal área mencionada na reunião é a fazenda Jotapar, localizada em Sidrolândia. A propriedade está em disputa judicial após ter sido arrematada em leilão por um grupo empresarial. Mesmo assim, o governo sinalizou interesse em regularizar a área para fins de reforma agrária. A fazenda, que tem grande extensão e capacidade produtiva, é vista como prioridade pelas famílias acampadas.
Além dela, outros três imóveis estão sendo preparados para incorporação ao programa. Um em Campo Grande, que será adquirido com recursos do crédito fundiário; outro em Dourados, onde a aquisição será feita com base no decreto 433/92; e um terceiro em Ponta Porã, onde será formado um cinturão verde por meio de área da União.
Compromissos no papel e olho nas necessidades
A ata da reunião registra compromissos detalhados. A superintendência regional do Incra em Mato Grosso do Sul (SR 16) fará as vistorias técnicas nos imóveis e já iniciou os trâmites administrativos e jurídicos para garantir a legalidade das aquisições. Em Dourados, os entraves judiciais foram superados, abrindo caminho para a formalização.
Mas a pauta dos trabalhadores não se limita à terra. Eles pedem também medidas urgentes para garantir sobrevivência e dignidade às famílias que já vivem nos acampamentos. Entre as demandas estão cestas básicas, lonas para cobrir os barracos, acesso ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), assistência técnica, moradia, estradas e segurança nas comunidades rurais.
MST vê avanço, mas segue vigilante
Douglas Cavaleiro, da direção estadual do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), comemorou os resultados obtidos até agora. Para ele, o avanço só foi possível graças às mobilizações recentes e à força coletiva do movimento.
“A nossa pauta foi ouvida e aceita. Eles se comprometeram a levar tudo para Brasília e apresentar diretamente ao presidente do Incra e aos ministros envolvidos. É uma vitória parcial, mas concreta”, disse Douglas.
Reunião em Brasília pode destravar recursos e acelerar entregas
A próxima etapa dessa negociação está marcada para o dia 19 de maio, em Brasília. Devem participar representantes da diretoria de obtenção de terras do Incra, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), e os ministros Paulo Teixeira, Simone Tebet e o presidente nacional do Incra, César Aldrighi. Existe ainda a possibilidade de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participe da conversa.
O objetivo principal será destravar recursos para compra de terras, tratar especificamente da situação da fazenda Jotapar e confirmar a aquisição dos outros três imóveis prometidos.
Segurança para quem luta por terra
O documento final da reunião aponta ainda para a necessidade de envolver o governador Eduardo Riedel nas tratativas. O objetivo é buscar um compromisso formal com a segurança das famílias acampadas, evitando despejos violentos e a criminalização de movimentos sociais.
Os trabalhadores querem garantias de que poderão seguir organizados e lutando por seus direitos sem sofrer perseguição ou repressão. A expectativa é de que o governador seja convidado para a reunião em Brasília, fortalecendo o diálogo entre o estado e o governo federal.
Reforma agrária volta à pauta com força
Depois de anos apagada das prioridades nacionais, a pauta da reforma agrária volta a ganhar espaço no debate político. Com ações concretas e mobilização organizada, as famílias do campo mostram que estão vivas, firmes e dispostas a seguir pressionando por seus direitos.
Enquanto a data do próximo encontro não chega, as famílias seguem nos acampamentos, esperando não só pela terra, mas também pela chance de uma vida melhor com produção, moradia e respeito.
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