O que era para ser apenas mais uma noite de missa tradicional no coração de Campo Grande acabou se transformando num episódio polêmico que mistura fé, desinformação e tensão. No último domingo, 4 de maio, um padre de 31 anos, conhecido na comunidade católica local, foi à delegacia após afirmar ter sido ameaçado por um homem que se apresentou como integrante da Maçonaria. A confusão teria começado ainda dentro da igreja, durante a homilia, quando o sacerdote citou a maçonaria entre os “inimigos da fé”, numa referência a discursos antigos atribuídos ao papa Pio XII.
Segundo o boletim registrado na delegacia, após a celebração, o homem se aproximou do padre para contestar a fala, apontando que era injusto e até perigoso propagar ideias sem conhecimento de causa. O fiel teria dito que a maçonaria é constantemente alvo de mitos e calúnias, como a absurda ideia de que seus membros “comem crianças”. Ele se identificou como maçom, destacou que se sentiu ofendido pelas palavras do padre e o alertou de que estava mexendo com algo que desconhecia.
O clima ficou ainda mais pesado quando o padre, que sofre de hipertensão e mal de Parkinson, se sentiu mal e precisou se afastar para beber água. O homem então deixou o local. Mais tarde, já na delegacia, o sacerdote recebeu a informação de que o mesmo homem teria voltado à igreja com mais duas pessoas e estaria circulando em um carro, supostamente à procura dele, o que levou a um novo estado de nervosismo.
Apesar da tensão, o episódio levantou uma questão importante: até que ponto é aceitável usar o púlpito para propagar discursos baseados em concepções ultrapassadas, especialmente sobre instituições das quais se conhece pouco ou nada?
A Maçonaria é uma organização discreta, com raízes históricas profundas em diversos países, incluindo o Brasil. Composta por pessoas de diferentes religiões, etnias e profissões, a maçonaria atua principalmente em ações sociais, beneficentes e de desenvolvimento moral e intelectual de seus membros. Diferente do que muitos acreditam, ela não é uma seita, tampouco adota práticas ocultas. Seus princípios básicos são liberdade, igualdade e fraternidade valores que também são exaltados por diversas correntes cristãs.
Ao incluir a maçonaria em um rol de “inimigos da fé”, sem qualquer embasamento atual, o padre reacendeu preconceitos do século passado e revelou uma falha grave: a falta de diálogo entre instituições religiosas e outras correntes filosóficas. A própria Igreja Católica, especialmente sob o papado de Francisco, promoveu uma visão mais aberta, ecumênica e voltada ao entendimento entre diferentes pensamentos.
A postura do padre, portanto, não reflete necessariamente a posição oficial da Igreja, mas sim uma leitura pessoal, possivelmente baseada em documentos antigos e descontextualizados. Não é raro que líderes religiosos falem sobre temas dos quais não têm vivência prática. No caso da maçonaria, isso fica ainda mais claro. O próprio padre admitiu jamais ter entrado em um templo maçônico ou conversado com maçons em profundidade.
Por outro lado, também é importante lembrar que respostas hostis, mesmo diante de discursos equivocados, não ajudam a resolver o problema. O confronto que aconteceu na porta da igreja apenas elevou o nível de tensão. Nenhuma ameaça ou intimidação justifica qualquer ponto de vista. O caminho do diálogo sempre deve prevalecer.
Agora, cabe às autoridades esclarecerem os fatos e garantir a segurança de todos os envolvidos. Enquanto isso, fica o alerta: é preciso mais cuidado com as palavras ditas diante de uma comunidade de fé, especialmente quando se tratam de temas sensíveis que envolvem outras instituições, crenças e filosofias. O respeito e o conhecimento mútuo são o único caminho para uma convivência mais justa e harmoniosa.
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