No Brasil de 2025, onde celulares estão cada vez mais inteligentes e a inteligência artificial já chegou até nos serviços do dia a dia, uma realidade dura permanece escondida atrás das telas: milhões de brasileiros não conseguem ler e interpretar sequer uma frase curta ou resolver uma conta de subtração. Isso mesmo. Segundo uma pesquisa recém-divulgada, três em cada dez brasileiros de 15 a 64 anos são analfabetos funcionais.
O dado vem do mais recente Indicador de Alfabetismo Funcional, o Inaf, divulgado nesta segunda-feira, dia 5. Depois de seis anos sem atualização, a pesquisa voltou a ser feita e revelou que 29% da população adulta e jovem ainda não consegue lidar com informações básicas de leitura e matemática, o mesmo índice de 2018. O estudo entrevistou mais de 2.500 pessoas em todo o país e classificou o nível de alfabetização dos brasileiros a partir de testes práticos.
E o cenário é ainda mais preocupante entre os jovens. Em 2018, 14% dos brasileiros entre 15 e 29 anos estavam na condição de analfabetos funcionais. Agora, esse número subiu para 16%. Um aumento que, segundo os pesquisadores, pode ter sido causado pela pandemia de Covid-19, quando milhares de estudantes ficaram sem aulas presenciais e muitos não conseguiram acompanhar os conteúdos pela internet.
De acordo com o levantamento, o analfabetismo funcional é dividido em dois níveis: o “analfabeto puro”, que não sabe ler nem escrever, e o nível “rudimentar”, onde a pessoa sabe decifrar letras, mas não entende o que está lendo. Juntos, eles formam esse grupo de 29% da população. Na outra ponta, apenas 10% da população atingiu o nível mais alto, o chamado “proficiente”, que significa total domínio da leitura, da escrita e das operações matemáticas.
Outro dado que chama atenção é que o problema não está restrito apenas às camadas mais pobres ou menos escolarizadas. Mesmo entre os brasileiros com ensino superior completo, 12% ainda são considerados analfabetos funcionais. Isso mostra que o problema vai além de apenas colocar mais pessoas na escola. É uma questão de qualidade no ensino.
Para o educador Roberto Catelli, da Ação Educativa, uma das organizações que coordenam o Inaf, essa situação é grave. Segundo ele, a falta de domínio da leitura e escrita limita a vida das pessoas em vários aspectos: no acesso a direitos, na inserção no mercado de trabalho e até na hora de tomar decisões do dia a dia, como entender um contrato, um aviso de saúde ou uma instrução bancária.
O levantamento mostra ainda um retrato das desigualdades no país. Entre pessoas brancas, 28% são analfabetas funcionais. Já entre pessoas negras, esse número sobe para 30%. A situação piora entre indígenas e pessoas amarelas, com 47% nesta condição. E quando se fala em alfabetização consolidada, o abismo se aprofunda: 41% dos brancos estão nesse nível mais alto, enquanto apenas 31% dos negros e 19% dos indígenas e amarelos conseguem chegar lá.
Nas palavras de Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú, é urgente acelerar o ritmo das mudanças. Para ela, o Brasil precisa de políticas públicas ousadas, tanto na educação quanto na redução das desigualdades sociais. “Vivemos em um mundo cada vez mais digital, tecnológico, veloz. Não dá para aceitar que 30% da nossa população siga excluída por falta de acesso a um aprendizado básico e adequado”, afirma.
Entre os trabalhadores, a situação também é crítica. O estudo aponta que 27% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho são analfabetos funcionais. Ou seja, mesmo com carteira assinada ou serviço fixo, essas pessoas têm dificuldade para entender instruções simples, fazer cálculos ou ler informações essenciais para o dia a dia profissional.
A pesquisa também trouxe, pela primeira vez, dados sobre alfabetismo digital. Em um tempo em que tudo acontece por aplicativos, códigos e plataformas, não saber usar ferramentas básicas da internet ou compreender mensagens digitais se tornou uma nova forma de exclusão.
Diante disso tudo, o que o Inaf mostra é que o Brasil precisa, urgentemente, de um projeto sério, contínuo e inclusivo para garantir educação de qualidade desde o começo da vida escolar até a vida adulta. E não basta investir apenas em livros ou escolas. É preciso olhar para a realidade das famílias, o acesso à tecnologia, a alimentação, o transporte e todo o contexto que influencia o aprendizado.
Educação não pode ser promessa de campanha. Precisa ser prioridade de governo. Porque enquanto milhões de brasileiros seguirem sem conseguir ler uma placa, um bilhete de ônibus ou a bula de um remédio, estaremos falhando como sociedade.
Brasil Precisa Ler Melhor #Alfabetismo É Direito #Jovens Fora Da Escola #Leitura É Transformação #Mais Educação Já #Educação Para Todos #Sem Leitura Sem Futuro #Brasil Desigual #Educação De Qualidade #Contra O Analfabetismo #Investir Em Educação #Educação Muda Vidas