Mato Grosso do Sul, 8 de maio de 2025
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Quase 60 milhões de brasileiros vivem em cidades com desenvolvimento baixo ou crítico

Mesmo com avanços, levantamento mostra que desigualdade ainda marca a realidade de quase metade dos municípios brasileiros
Dez anos antes, número chegava a 103,8 milhões -  Imagem  -  Jonne Roriz
Dez anos antes, número chegava a 103,8 milhões - Imagem - Jonne Roriz

Era para ser um país só, mas os números mostram que o Brasil ainda vive como se fossem dois. Enquanto cidades como Águas de São Pedro, Maringá e São Caetano do Sul apresentam indicadores próximos da excelência em desenvolvimento humano, outras localidades do Norte e Nordeste ainda enfrentam dificuldades estruturais tão profundas que parecem estar paradas no tempo. Um estudo divulgado pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) nesta quinta-feira mostra que, mesmo com avanços, quase 60 milhões de brasileiros ainda vivem em cidades com desenvolvimento considerado baixo ou crítico.

A pesquisa é baseada no IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal), que avalia as condições de vida nas cidades brasileiras a partir de três pilares: saúde, educação e geração de emprego e renda. Em 2023, 47,3% dos municípios estavam com IFDM abaixo do aceitável. Isso representa 2.638 cidades onde a qualidade de vida da população é marcada por escolas precárias, saúde básica falha e empregos escassos. Quase metade dos brasileiros vive nesses locais.

Mesmo com esse cenário preocupante, a pesquisa mostra que o Brasil melhorou. Em 2013, a situação era ainda mais grave: 77,4% das cidades estavam nas faixas mais baixas do índice, somando mais de 103 milhões de habitantes vivendo em condições precárias. Ou seja, em dez anos, quase 47 milhões de brasileiros passaram a morar em cidades com melhores condições de vida. A média nacional do IFDM saiu de 0,4674 para 0,6067, o que representa um crescimento de 29,8%.

O grande destaque da década foi a área da educação. Com um avanço de 52,1%, esse foi o indicador que mais contribuiu para o crescimento do índice. Mesmo assim, ainda existem 55 municípios que regrediram no período analisado, mostrando que o desenvolvimento não é uniforme. A desigualdade continua sendo a maior barreira.

Segundo o economista-chefe da Firjan, Jonathas Goulart, o atraso nas cidades com índice mais baixo é tão grande que, mantendo o ritmo atual de crescimento, só vão alcançar o patamar das cidades mais desenvolvidas em 2046. “Estamos falando de uma defasagem de 23 anos. São dois Brasis vivendo sob a mesma bandeira, mas em realidades completamente diferentes”, afirma Goulart.

A maior parte dos municípios com baixo ou crítico desenvolvimento está localizada nas regiões Norte e Nordeste. Nessas áreas, a pobreza estrutural, o abandono governamental e a falta de investimentos crônicos dificultam qualquer tipo de avanço rápido. No Amapá, por exemplo, todos os municípios estão nessa situação. Maranhão, Pará e Bahia também aparecem com índices alarmantes, com mais de 70% dos municípios em situação de alerta.

Do outro lado, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam uma realidade muito mais confortável. Em São Paulo, por exemplo, só 0,3% dos municípios estão com desenvolvimento baixo ou crítico. Já o Rio de Janeiro, mesmo sendo uma das maiores economias do país, apresenta um dado preocupante: quase 32% dos seus municípios ainda não saíram das faixas mais baixas do índice.

A lista dos melhores IFDMs é dominada por cidades paulistas e paranaenses. Águas de São Pedro lidera o ranking com um índice de 0,8932. A cidade é pequena, com menos de quatro mil habitantes, e tem a economia voltada para o turismo. Em segundo lugar vem São Caetano do Sul (SP), e em terceiro, Curitiba (PR), a capital melhor posicionada.

As outras cidades no topo do ranking são Maringá, Americana, Toledo, Marechal Cândido Rondon, São José do Rio Preto, Francisco Beltrão e Indaiatuba. Essas cidades investem pesado em saúde, educação e geração de empregos, atraindo indústrias, universidades e melhorias na qualidade de vida.

Na outra ponta, os dez piores municípios estão todos no Norte e Nordeste. Ipixuna (AM), Jenipapo dos Vieiras (MA), Uiramutã (RR) e Jutaí (AM) são exemplos de cidades onde os problemas são tão antigos quanto complexos. Falta saneamento básico, o acesso à saúde é limitado e as escolas ainda enfrentam problemas estruturais e falta de professores qualificados.

Entre as capitais, a situação também é contrastante. Curitiba, São Paulo, Vitória, Campo Grande e Belo Horizonte aparecem com bons índices. Já Macapá, Boa Vista, Belém, Salvador e Manaus ainda sofrem para melhorar seus indicadores. Em especial, Florianópolis foi a única capital que apresentou piora no IFDM nos últimos dez anos. Já Fortaleza e Maceió foram as que mais evoluíram.

O IFDM tem uma metodologia própria, diferente do IDH da ONU. A Firjan avalia mais de perto aspectos que impactam diretamente a vida cotidiana, como a qualidade da educação infantil, o abandono escolar, o acesso à atenção básica na saúde, a cobertura vacinal e até internações que poderiam ser evitadas com ações simples de prevenção.

A análise detalhada do IFDM revela um retrato claro do Brasil de hoje: um país dividido entre o progresso de uns e o atraso de muitos. Avançamos, é verdade. Mas a velocidade do progresso ainda é desigual. Para milhões de brasileiros, viver em uma cidade com bom desenvolvimento ainda é um sonho distante. E para mudar esse cenário, será preciso muito mais que boas intenções. Será necessário investimento real, políticas públicas eficientes e vontade política de encarar de frente as desigualdades que nos separam.

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