A atual conjuntura do mercado de milho no Brasil revela um panorama singular: enquanto a produção avança em ritmo satisfatório, impulsionada por condições climáticas favoráveis e ampla disponibilidade no campo, os compradores se mostram cautelosos, aguardando quedas ainda mais acentuadas nos preços, o que interfere diretamente na liquidez do mercado interno.
A colheita da safra de verão segue em curso em diversas regiões produtoras do Brasil, especialmente no Sul e no Sudeste, ao passo que a chamada “safrinha” — a segunda safra — encontra-se em estágio avançado de desenvolvimento, favorecida por um regime de chuvas dentro da normalidade e temperaturas estáveis. O bom desempenho das lavouras eleva a expectativa de uma colheita farta, contribuindo para o abastecimento interno e consolidando o Brasil como um dos principais exportadores de milho do mundo.
No entanto, esse cenário de abundância tem provocado um movimento inverso no mercado: compradores, atentos à queda constante nas cotações, têm se afastado das negociações no mercado spot, na expectativa de adquirir o cereal a preços ainda mais baixos nos próximos meses. Desde abril, a pressão sobre os preços se intensificou, motivada não apenas pela oferta robusta, mas também pela desvalorização externa da commodity e pela queda do dólar frente ao real — fatores que diminuem a competitividade do milho brasileiro no mercado internacional.
Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), até março, o mercado ainda era influenciado por uma retração de vendedores e dificuldades logísticas, o que sustentava os preços em patamares mais altos. Naquele momento, o receio de desabastecimento levou muitos compradores a aceitar valores superiores, em especial para garantir estoques antes da entrada plena da safra.
Contudo, com a normalização da logística e o avanço da produção, a tendência inverteu-se. A ampliação da oferta passou a exercer forte pressão sobre os preços, tornando o mercado menos atrativo para negociações imediatas. Essa retração, embora esperada em um ciclo de colheita abundante, levanta questões sobre a rentabilidade dos produtores, sobretudo os que não conseguiram travar preços antecipadamente ou não possuem acesso facilitado aos canais de exportação.
Apesar da retração dos preços no mercado interno, o cenário ainda carrega vantagens estratégicas para o agronegócio brasileiro. O aumento da produtividade pode compensar a queda na cotação unitária do cereal, ao passo que mercados internacionais — especialmente países asiáticos e europeus — seguem demandando milho em larga escala. A manutenção da qualidade do grão e a competitividade do preço brasileiro, mesmo com a oscilação cambial, ainda sustentam o interesse de tradings e compradores estrangeiros.
Por outro lado, o desafio logístico continua sendo um gargalo estrutural. As regiões produtoras mais afastadas dos portos enfrentam custos elevados para escoar a produção, o que pode comprometer a margem de lucro dos pequenos e médios produtores. Além disso, a pressão por preços baixos pode desestimular investimentos em tecnologia e manejo nas próximas safras, caso a desvalorização se prolongue sem que haja mecanismos de proteção mais eficazes no mercado.
Diante desse cenário, o equilíbrio entre oferta, demanda e precificação torna-se essencial para garantir a sustentabilidade do setor. A expectativa dos analistas é de que, nos próximos meses, o comportamento do câmbio e a velocidade das exportações determinem o rumo das cotações do milho, além de influenciar diretamente nas decisões dos produtores para o próximo ciclo.
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