Mato Grosso do Sul, 14 de maio de 2025
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Gilberto Gil e o reconhecimento acadêmico de sua revolução cultural

UFRGS concede título de Doutor Honoris Causa ao artista e ex-ministro que transformou a política cultural brasileira
No ano de 2003, Gilberto Gil assumiu o Ministério da Cultura, a convite de Lula, então presidente da República
No ano de 2003, Gilberto Gil assumiu o Ministério da Cultura, a convite de Lula, então presidente da República

Gilberto Gil, um dos maiores nomes da música brasileira e ícone de múltiplas dimensões na vida pública do país, recebeu em abril de 2025 o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O reconhecimento, de caráter acadêmico e simbólico, não se deu apenas por sua brilhante trajetória artística, mas sobretudo por sua profunda atuação como Ministro da Cultura, entre os anos de 2003 e 2008, quando imprimiu uma nova lógica à formulação e implementação das políticas culturais no Brasil.

A concessão do título, proposta pelo professor Jean Segata ainda em 2022, teve como principal base a tese de doutorado “Ministério com cultura: gestão Gilberto Gil”, defendida pela pesquisadora que posteriormente viria a contribuir diretamente com as ações do ministério. A proposta precede, inclusive, a eleição de Gilberto Gil para a Academia Brasileira de Letras (ABL), o que demonstra que o mérito da honraria repousa especialmente na dimensão política e institucional de sua atuação à frente da pasta.

Ao assumir o Ministério da Cultura, a convite do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Gil rompeu paradigmas até então inalterados. Foi o primeiro artista a ocupar esse posto, que tradicionalmente fora destinado a economistas, administradores ou acadêmicos. Sua chegada representou um deslocamento na concepção de cultura como campo de ação do Estado. Em vez de restringir a cultura às belas-artes ou aos setores consagrados, Gil ampliou o horizonte: passou a incluir os saberes e fazeres populares, a diversidade étnico-racial, a pluralidade sexual e de gênero, a cultura das periferias e as expressões tecnológicas do século XXI.

Essa virada, que passou a considerar as dimensões antropológica e simbólica da cultura como legítimas expressões de identidade e cidadania, foi responsável pela gênese de instrumentos institucionais que hoje se tornaram pilares das políticas públicas culturais brasileiras. Sob sua liderança, foram criados ou reformulados programas e estruturas como o Sistema Nacional de Cultura, o Cultura Viva e seus Pontos de Cultura, a reconfiguração da Lei Rouanet, o Plano Nacional de Cultura e o Vale-Cultura.

Gilberto Gil não foi apenas um ministro, mas um agente político de transformação. Sua gestão abriu canais de diálogo permanentes com movimentos sociais, coletivos artísticos, lideranças indígenas, comunidades quilombolas, entidades LGBT, organizações de base e representantes da cultura digital. Sua postura acolhedora e reflexiva consolidou a cultura como um direito, e não um privilégio.

Para quem trabalhou diretamente com ele, como é o caso da pesquisadora que defendeu a tese e colaborou com o ministério entre 2005 e 2009, sua presença à frente da pasta era marcada por escuta ativa, sensibilidade estética e pragmatismo político. Gilberto Gil compreendia o papel da cultura como instrumento de emancipação e transformação social e buscava ancorar essa visão na estrutura do Estado.

O reconhecimento da UFRGS ao conferir-lhe o título de Doutor Honoris Causa coroa não apenas sua biografia, mas solidifica sua passagem pelo ministério como um dos momentos mais relevantes da política cultural do país. A iniciativa surgiu a partir de uma entrevista concedida por Gil em 2020, em que discutia as motivações, os desafios e os aprendizados de sua atuação como gestor público. A partir desse diálogo, nasceu a semente da homenagem que agora se materializa.

A célebre frase de Gilberto Gil, dita ainda nos anos 1990, ressoa com particular força neste momento de celebração e memória: “O povo sabe o que quer. Mas o povo também quer o que não sabe.” Sua trajetória como ministro foi, em grande medida, dedicada a despertar esse querer adormecido no coração das comunidades brasileiras, reconhecendo que a cultura pulsa muito além dos palcos e dos museus, nas ruas, nas feiras, nos terreiros, nas escolas e nos corpos que resistem.

A entrega do título de Doutor Honoris Causa pela UFRGS a Gilberto Gil não apenas honra um homem, mas também resgata uma era em que o Brasil ousou pensar a cultura como fundamento da democracia.

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