O mercado de commodities agrícolas reagiu com cautela e apreensão ao recente anúncio de um acordo provisório entre Estados Unidos e China, que estabelece a suspensão temporária das tarifas aplicadas mutuamente sobre produtos estratégicos, entre eles a soja. Essa reconfiguração do cenário comercial internacional provocou uma reação imediata nas cotações do grão no Brasil, que vinha sendo favorecido pelo impasse entre as duas potências. A reversão de expectativas gerou desvalorização no preço da soja em diversas regiões produtoras, afetando diretamente os produtores nacionais que, até então, vinham desfrutando de alta demanda chinesa.
Segundo dados divulgados pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep), o preço médio da saca de 60 quilos no estado caiu para R$ 116,76, representando uma baixa de 0,54%. O recuo, embora tecnicamente modesto, sinaliza o início de um novo ciclo de incertezas para o setor, que vinha se beneficiando de uma demanda chinesa aquecida e crescente, em função da guerra tarifária mantida nos últimos meses entre Washington e Pequim.
A guerra tarifária e o momento de virada
Desde o início do ano, as vendas de soja brasileira para o mercado chinês alcançaram patamares expressivos, justamente porque o grão norte-americano, penalizado com tarifas superiores a 100%, tornara-se menos atrativo para os importadores asiáticos. O Brasil, segundo maior exportador mundial, aproveitou a conjuntura e viu suas exportações dispararem.
Contudo, com o anúncio do acordo provisório entre os governos dos Estados Unidos e da China, a lógica do mercado sofreu uma reversão súbita. Mesmo que a safra americana ainda esteja em fase de plantio, o simples gesto de reaproximação entre as potências foi suficiente para esfriar o apetite chinês pela soja brasileira.
A desaceleração é visível. Os prêmios de exportação praticados no Porto de Paranaguá, referência para o comércio do grão, foram ajustados para baixo. Nesta segunda-feira, 12 de maio, os lotes com entrega prevista para julho foram cotados a US$ 0,55 por bushel, evidenciando a redução na atratividade das operações.
Mercado internacional e estabilidade em Chicago
Na Bolsa de Chicago, o principal termômetro global para as commodities agrícolas, o movimento foi de contenção. Os contratos com vencimento em julho apresentaram variação leve de 0,12%, encerrando o pregão a US$ 10,7250 por bushel. O comportamento do mercado demonstra que o acordo comercial foi recebido com cautela, sinalizando que investidores ainda aguardam desdobramentos mais concretos para reavaliar estratégias de médio prazo.

Cenário nacional sob pressão
Enquanto isso, nos campos do Brasil, o impacto se traduz em preços mais contidos e margens apertadas. Levantamento da Scot Consultoria revela que a saca de soja está sendo comercializada por R$ 120,50 em Luís Eduardo Magalhães (Bahia), R$ 118 em Rio Verde (Goiás), R$ 114 em Balsas (Maranhão), R$ 123 no Triângulo Mineiro e R$ 119,50 em Dourados (Mato Grosso do Sul). Já nos terminais portuários, o grão foi cotado a R$ 133 em Santos (São Paulo) e R$ 135 em Rio Grande (Rio Grande do Sul).
Este novo cenário coloca os produtores brasileiros diante de uma necessidade de adaptação. Embora a demanda interna permaneça sólida, o peso do mercado externo na formação dos preços torna inevitável o acompanhamento atento da política internacional. Além disso, a possibilidade de maior competitividade da soja americana pode levar compradores asiáticos a renegociar contratos ou diversificar fornecedores.
O que esperar nos próximos meses
Analistas apontam que o comportamento do mercado nos próximos meses dependerá do cumprimento do acordo entre Estados Unidos e China, da evolução do plantio norte-americano e da estabilidade dos fluxos logísticos globais. Caso a trégua seja prorrogada ou evolua para um pacto definitivo, o Brasil poderá enfrentar uma retração prolongada na exportação do grão.
Em contrapartida, se houver algum retrocesso nas negociações ou adversidades climáticas nos campos dos Estados Unidos, o produto brasileiro poderá recuperar competitividade. Neste jogo de forças, os agricultores seguem atentos, colhendo os frutos de uma safra promissora, mas incerta em seus desdobramentos econômicos.
A nova geopolítica da soja, como se desenha a partir de agora, exigirá não apenas técnica e produtividade no campo, mas também sensibilidade e estratégia nas decisões comerciais. Num mundo onde acordos políticos impactam diretamente a vida de produtores rurais, a estabilidade do mercado passa a depender de algo além do clima e da terra: a diplomacia.
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