O ano de 2024 marcou uma inflexão significativa na história recente do desmatamento no Brasil. De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento (RAD), divulgado nesta quarta-feira pelo Mapbiomas, cinco dos seis biomas brasileiros apresentaram redução na perda de vegetação nativa, totalizando uma queda de 32,4% em relação ao ano de 2023. Ainda assim, o país enfrentou desafios que revelam um cenário desigual, sobretudo com o crescimento do desmatamento na Mata Atlântica e a liderança do Cerrado como o bioma mais atingido.
O Pantanal e o Pampa lideraram a redução proporcional das áreas desmatadas, com quedas de 58,6% e 42,1%, respectivamente. O Cerrado, apesar da expressiva redução de 41,2%, manteve o título de região mais desmatada, perdendo mais de 652 mil hectares de vegetação nativa. A Amazônia registrou uma queda de 16,8%, enquanto a Caatinga teve redução de 13,4%. A Mata Atlântica, por sua vez, destoou dos demais ao apresentar um crescimento de 2% na destruição de sua cobertura vegetal.
A estabilidade negativa da Mata Atlântica, segundo o coordenador-geral do Mapbiomas, Tasso Azevedo, está relacionada à ocorrência de eventos climáticos extremos que contribuíram para a perda da vegetação nativa, mascarando a tendência geral de queda. “Se não tivessem ocorrido os desmatamentos provocados por eventos extremos, a redução total teria sido ainda maior, cerca de 20% adicional”, afirmou.
Em termos absolutos, o Brasil desmatou 1.242.079 hectares em 2024, com um total de 60.983 alertas registrados. A média diária foi de 3.403 hectares, o equivalente a 141,8 hectares por hora. O dia 21 de junho foi o mais crítico, com 3.542 hectares devastados em apenas 24 horas.
Três fatores principais foram apontados como razões para a redução nacional: a elaboração de planos de enfrentamento ao desmatamento para todos os biomas, o aumento da atuação dos estados em embargos e autuações e a utilização de dados de desmatamento na concessão de crédito rural.
Entretanto, o desmatamento continua altamente concentrado: 89% da perda ocorreu nos biomas Amazônia e Cerrado. A formação savânica respondeu por 52,4% do total desmatado, seguida das formações florestais, com 43,7%.
A região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia) teve uma queda de 13%, enquanto o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 42% do total nacional. Nessa última região, o desmatamento no Cerrado representou 75% da perda de vegetação nativa.
Os estados do Maranhão, Pará e Tocantins lideraram o desmatamento em 2024, com 17,6%, 12,6% e 12,3% do total nacional, respectivamente. Em contrapartida, estados como Goiás, Paraná e Espírito Santo conseguiram reduções superiores a 60%. Já o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e o Acre registraram os maiores crescimentos.
Segundo a pesquisadora Natália Crusco, os desmatamentos no Rio Grande do Sul estiveram concentrados na Mata Atlântica, fortemente afetada por eventos climáticos extremos entre abril e maio, resultando na perda de 2.805,8 hectares.
Em 2024, 54% dos municípios brasileiros apresentaram pelo menos um caso de desmatamento validado. No Piauí, os municípios de Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal lideraram os aumentos proporcionais.
As terras indígenas também apresentaram avanço positivo, com redução de 24% na perda de vegetação. Foram 15.938 hectares atingidos, o equivalente a 1,3% do total nacional. A Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra (MA) foi a mais afetada, com aumento de 125% em relação a 2023.
Nas unidades de conservação, a perda de vegetação caiu 42,5%, somando 57.930 hectares. A Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (PA), na Amazônia, liderou entre as UCs, com 6.413 hectares desmatados.
Quanto à legalidade, 43% do desmatamento registrado teve algum tipo de autorização, sendo o Cerrado o bioma com maior proporção de área suprimida legalmente (66%). Na Amazônia, esse índice foi de apenas 14%.
O estado do Maranhão, apesar de liderar o desmatamento proporcional, apresentou as maiores dificuldades de transparência, segundo Marcondes Coelho, do Instituto Centro de Vida. O estado forneceu dados incompletos ou restritos, impedindo o uso pleno das informações.
Em análise histórica, o Brasil desmatou quase 10 milhões de hectares entre 2019 e 2024, sendo 67% na Amazônia Legal. Mais de 97% das perdas foram motivadas por pressões da agropecuária.
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