A confirmação do primeiro foco de gripe aviária no Brasil acendeu o alerta em diversos setores da economia, especialmente na agroindústria avícola, que responde por uma parcela significativa da produção e exportação de proteínas do país. No entanto, ao contrário do que se poderia esperar em meio a um cenário que mistura riscos sanitários e tensões comerciais, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, adotou um tom cauteloso, mas sereno, ao afirmar que o Brasil não deve enfrentar oscilações relevantes nos preços das carnes de frango e ovos nos próximos meses.
A declaração foi feita na tarde desta segunda-feira, 19 de maio, em entrevista coletiva concedida em Brasília, na qual o ministro reforçou a confiança na solidez da cadeia produtiva e na capacidade de resposta do setor às adversidades sanitárias. Segundo ele, a experiência acumulada em eventos anteriores, como o surto da doença de Newcastle registrado em 2024 no Rio Grande do Sul, mostrou que, mesmo diante de incidentes sanitários, o mercado se comportou com relativa estabilidade.
“Não se deve comemorar crise, de ter oferta e baixar preço da carne”, alertou Fávaro. “A experiência adquirida no caso do Newcastle é que os preços não baixaram tanto”, ponderou o ministro, destacando que o momento exige responsabilidade e monitoramento, mas sem pânico.
A preocupação principal gira em torno da suspensão temporária das exportações de produtos avícolas brasileiros para cerca de vinte países, uma medida que, embora preventiva e protocolar, impacta o fluxo comercial. No entanto, Fávaro destacou que o Brasil conta com um mercado interno robusto, responsável por absorver cerca de 70% da produção total de carnes de frango e ovos, o que confere ao setor uma espécie de blindagem natural contra choques externos.
“Acredito na estabilidade de preço, até porque 70% da produção já fica no mercado interno. Não há impacto tão grande como se fosse fechar 100% do mercado brasileiro”, explicou o ministro. Segundo ele, o excedente decorrente da suspensão dos embarques para determinados destinos pode ser redirecionado a outros mercados ainda abertos ou utilizado para abastecer a própria demanda doméstica.
A gripe aviária, causada por diferentes subtipos do vírus Influenza, tem sido uma preocupação constante para a avicultura global. Embora o Brasil permanecesse livre de casos da forma altamente patogênica da doença até este ano, a descoberta do primeiro foco exigiu a adoção imediata de protocolos sanitários rigorosos, como o isolamento da área afetada, a desinfecção de instalações e a suspensão de vendas oriundas da zona de contenção.
Fávaro minimizou o impacto do embargo, estimando que os bloqueios comerciais devem ser gradualmente revertidos antes mesmo dos 28 dias previstos como ciclo sanitário padrão para o vírus. “Achamos que vamos conseguir segurar dentro do raio e ter a volta gradativa à normalidade”, afirmou. Ele também reforçou que os serviços de defesa agropecuária nacionais estão atuando com eficiência e celeridade para conter a disseminação do vírus, o que pode acelerar o restabelecimento da confiança internacional na sanidade do plantel brasileiro.
Apesar da gravidade potencial da gripe aviária, o ministro destacou que o episódio está sendo tratado com total transparência junto aos parceiros comerciais, que acompanham os desdobramentos com atenção, mas também com conhecimento da seriedade do sistema sanitário brasileiro. Nesse sentido, a expectativa do governo é de que a retomada das exportações ocorra de forma segmentada, à medida que os países forem reavaliando as condições técnicas da zona afetada e as ações de mitigação implementadas.
No campo econômico, a fala de Fávaro foi acompanhada de avaliações cautelosas por parte de analistas do agronegócio e especialistas em comércio internacional. Embora a suspensão de exportações represente, de fato, um revés momentâneo, a estrutura descentralizada da produção avícola nacional, somada à diversidade de destinos internacionais e à presença majoritária no mercado interno, oferece margem para amortecer os efeitos da crise sanitária.
Por outro lado, o episódio também reascende o debate sobre a necessidade de reforçar ainda mais a biosseguridade nas granjas, os investimentos em vigilância epidemiológica e a construção de acordos bilaterais com cláusulas sanitárias mais claras, que evitem sanções genéricas a partir de casos isolados e pontuais.
Com o inverno se aproximando e as doenças respiratórias mais propensas a se espalharem entre os animais, o Ministério da Agricultura promete manter a vigilância reforçada em todas as regiões do país, especialmente nas fronteiras, rotas migratórias de aves silvestres e polos de alta densidade produtiva. Ao mesmo tempo, os produtores, cooperativas e frigoríficos intensificam medidas preventivas e campanhas de orientação entre os trabalhadores rurais, numa mobilização coletiva pela manutenção da credibilidade do setor.
Enquanto isso, os consumidores podem respirar aliviados. Não há, até o momento, qualquer indício de desabastecimento ou aumento significativo nos preços das carnes de aves e ovos. Ao contrário, os próximos dias podem até registrar leves oscilações negativas nos preços ao consumidor, devido ao redirecionamento de lotes originalmente destinados à exportação. Mas, segundo Fávaro, esse movimento deve ser pontual e não implica uma mudança estrutural no mercado.
O episódio, embora pontual, é emblemático. Ele testa, mais uma vez, a resiliência do agronegócio brasileiro diante dos desafios sanitários e evidencia a necessidade de aliar crescimento econômico com responsabilidade sanitária. A gripe aviária é uma ameaça, mas o Brasil, ao que tudo indica, está preparado para enfrentá-la com equilíbrio e transparência.
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