Em um dos episódios mais marcantes da história recente do Sport Club Corinthians Paulista, Augusto Melo foi oficialmente afastado da presidência do clube após decisão do Conselho Deliberativo, em votação realizada na noite desta segunda-feira, 26 de maio, no tradicional Parque São Jorge, em São Paulo. Por ampla maioria, 176 conselheiros votaram favoravelmente ao impeachment, enquanto 57 manifestaram apoio à permanência do dirigente no cargo. Houve ainda um voto em branco e uma abstenção do conselheiro Romeu Tuma Jr., que, na qualidade de presidente do Conselho Deliberativo, conduziu os trabalhos da sessão.
Com a decisão, Augusto Melo deixa a presidência de forma imediata, sendo substituído interinamente pelo primeiro vice-presidente, Osmar Stábile, conforme determina o estatuto do clube. A próxima e decisiva etapa do processo será a convocação, por parte de Romeu Tuma Jr., de uma assembleia-geral de sócios, que deverá ocorrer no prazo de até cinco dias. Caberá aos associados do Corinthians, em votação direta, referendar ou rejeitar a destituição definitiva de Augusto Melo do mais alto posto diretivo da instituição alvinegra.
O pedido de impeachment, apresentado por conselheiros opositores, teve como base uma extensa investigação conduzida pela Comissão de Ética do Corinthians. A apuração revelou indícios de irregularidades no contrato firmado com a casa de apostas Vai de Bet, uma das principais patrocinadoras do clube. As suspeitas ganharam ainda mais gravidade após a Polícia Civil do Estado de São Paulo, no final de abril, indiciar Augusto Melo pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado. Segundo o inquérito, teriam ocorrido repasses financeiros do Corinthians a empresas de fachada, conhecidas como “laranjas”, que desviaram recursos para contas vinculadas a organizações criminosas.
Além das acusações criminais, o Conselho Deliberativo também considerou como determinante, para o afastamento, a forma como Augusto Melo conduziu a administração financeira do Corinthians em seu primeiro ano de mandato. Segundo parecer apresentado, o ex-presidente teria incorrido em gestão temerária, deixando de apresentar os balanços financeiros auditados, obrigatórios conforme as normas estatutárias do clube. Tal conduta culminou na reprovação das contas referentes ao exercício de 2024 e no agravamento da já combalida situação econômica da entidade, cuja dívida consolidada ultrapassou a marca de R$ 2,5 bilhões.
A votação desta segunda-feira foi o desfecho de um processo político-institucional que se arrastou por meses e que esteve cercado de tensões e reviravoltas. Esta foi, na verdade, a terceira tentativa do Conselho Deliberativo de votar o afastamento de Augusto Melo. A primeira tentativa, ocorrida em dezembro de 2024, acabou frustrada após o então presidente obter uma liminar na Justiça que suspendeu temporariamente a sessão.
Em janeiro de 2025, uma nova tentativa foi realizada, marcada por episódios de confusão nas dependências do Parque São Jorge, o que levou ao encerramento da reunião antes da votação. Na ocasião, os conselheiros conseguiram aprovar apenas o rito de admissibilidade, que autorizava a sequência do processo de impeachment. O presidente do Conselho, Romeu Tuma Jr., adiou a nova deliberação por mais de quatro meses, alegando questões relacionadas à segurança dos conselheiros e do público presente. Na prática, entretanto, o adiamento coincidiu com o avanço das investigações da Polícia Civil sobre o caso envolvendo a patrocinadora Vai de Bet.
A ascensão e a queda de Augusto Melo ocorreram em um intervalo de tempo relativamente curto. No fim de 2023, ele conquistou a presidência do Corinthians com uma vitória expressiva nas urnas, obtendo 66,2% dos votos válidos, frente aos 33,8% alcançados por André Luiz Oliveira, representante da tradicional chapa Renovação e Transparência, que comandou o clube por 16 anos consecutivos, entre 2007 e 2023.
Além da vitória pessoal, Augusto Melo também foi responsável por eleger a maior parte dos conselheiros aliados, o que lhe garantiu, inicialmente, ampla base de apoio no Conselho Deliberativo. Das 200 vagas em disputa, quatro chapas ligadas à sua candidatura foram eleitas, superando as quatro ligadas à oposição.
Entretanto, os primeiros meses de sua gestão foram marcados por sucessivos episódios que fragilizaram sua posição política e deterioraram sua relação com parte significativa da torcida corintiana. O contrato com a patrocinadora Vai de Bet, que inicialmente fora celebrado como um importante alívio financeiro para o clube, acabou por se tornar o epicentro das denúncias que resultaram no afastamento do dirigente.
Além das acusações de irregularidades administrativas e financeiras, a crise corintiana se aprofundou com a reprovação das contas de 2024 e o consequente agravamento da dívida, que atingiu patamares alarmantes. O reflexo da gestão conturbada também foi sentido no departamento de futebol. Durante o ano passado, diversos jogadores deixaram o clube por meio de ações judiciais motivadas por atrasos salariais e inadimplências contratuais, como os casos de Gustavo Mosquito e Arthur Souza.
O ápice da crise financeira se deu no final da temporada de 2024, quando a Federação Internacional de Futebol (FIFA) aplicou um transfer ban ao Corinthians, impedindo o clube de registrar novos atletas. A punição só foi revertida em janeiro de 2025, após a diretoria firmar um acordo com o zagueiro paraguaio Balbuena, que cobrava valores em aberto.
Apesar dos inúmeros desafios fora de campo, o desempenho esportivo do Corinthians oscilou. O início da gestão foi marcado por campanhas abaixo das expectativas no Campeonato Paulista e no Campeonato Brasileiro, com o clube lutando contra o rebaixamento em ambas as competições. O alento veio no final de 2024, com a surpreendente contratação do atacante Memphis Depay, destaque da seleção holandesa, que contribuiu decisivamente para que o Corinthians conquistasse uma vaga na Pré-Libertadores.
Em 2025, o clube iniciou a temporada de forma promissora, conquistando o título do Campeonato Paulista, após uma vitória expressiva sobre o rival Palmeiras na decisão, encerrando assim um jejum de seis anos sem títulos de expressão. Contudo, nem mesmo o sucesso esportivo foi suficiente para conter a crise institucional que culminou na destituição de Augusto Melo.
Agora, com a realização iminente da assembleia-geral de sócios, o Corinthians vive um momento de expectativa e de redefinição de rumos. A decisão final sobre a permanência ou o afastamento definitivo de Augusto Melo está, pela primeira vez na história do clube, nas mãos de seus associados, em um processo que promete marcar definitivamente a trajetória política da instituição alvinegra.
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