Na vibrante cidade de Nilópolis, onde o batuque do surdo embala corações e o samba é herança de berço, a comunidade da Beija-Flor vive um momento de intensa emoção e recomeço. Após cinco décadas dando voz à azul e branco na Marquês de Sapucaí, o intérprete Neguinho da Beija-Flor prepara sua saída do carro de som, abrindo caminho para uma nova geração. A despedida não acontece em silêncio, mas ao som de um projeto grandioso e inovador: o reality show “A Voz do Carnaval”, que promete resgatar a alma do samba e dar continuidade à saga de uma das escolas mais vitoriosas do carnaval carioca.
O anúncio da produção, que é fruto da parceria entre a Beija-Flor de Nilópolis, o Grupo Globo, o AfroReggae e a Formata, representa muito mais do que a busca por um novo intérprete. É um ato de reverência à trajetória de Neguinho da Beija-Flor, símbolo de resistência, talento e amor ao samba, cuja voz se tornou parte inseparável da história do carnaval. O programa será exibido no canal Multishow a partir de setembro, com direção artística de Jorge Espírito Santo e apresentação do ator Samuel de Assis, também destaque da escola na avenida.
As gravações tiveram início no dia 5 de junho, na quadra da escola, onde as paredes guardam ecos de sambas imortais entoados por Neguinho. Ali, sob a luz dos refletores e o olhar atento de jurados renomados, oito candidatos subirão ao palco em busca da honra de assumir um microfone que é, ao mesmo tempo, cetro e espada.
A competição terá quatro episódios, com dois eliminados por semana até a grande final. O júri será formado por nomes de peso da música brasileira e do samba: além do próprio Neguinho, estarão presentes Pinah, Belo, Xande de Pilares, Teresa Cristina e Dudu Nobre. A proposta vai além da competição vocal: trata-se de um mergulho na cultura, nos valores e na essência da Beija-Flor, que aposta em talentos nascidos e criados dentro da própria comunidade, assim como fez ao escolher sua atual rainha de bateria, Lorena Raissa, em 2023.
Entre os oito aspirantes ao trono musical, apenas uma mulher: Jéssica Martin, de 36 anos. Os demais concorrentes são: Nego Lindo, um dos mais experientes na disputa; Carlos Inho, ex-integrante do grupo 100%; Felipe Silva, jovem promessa da nova geração; Nino, que já compôs o carro de som da Beija-Flor; Thiago Acacio, atualmente cantor de apoio na Imperatriz Leopoldinense; Ronaldo Junior, ex-ritmista da Beija-Flor, e Lucas Gringo, o mais jovem dos participantes, com apenas 25 anos.
O projeto tem a assinatura de Gabriel David, jovem empresário e atual diretor de marketing da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa). Noivo da atriz Giovanna Lancellotti, Gabriel é herdeiro do legado de seu pai, Anísio Abraão David, patrono histórico da agremiação. A produção executiva está nas mãos de nomes consagrados como José Júnior, Daniela Busoli e Leonardo Lessa Lopes.
A escolha de um reality para suceder Neguinho não é apenas uma jogada midiática. É uma maneira de democratizar o processo, dar visibilidade à força artística periférica e construir um rito de passagem coletivo, à altura do intérprete que se consagrou como um dos maiores do país. Nascido Luiz Antonio Feliciano Marcondes, Neguinho iniciou sua carreira ainda nos anos 1960. Em 1976, estreou oficialmente como intérprete da Beija-Flor. A partir daí, transformou-se na alma sonora da escola e no símbolo maior de sua identidade artística.
Ao longo de sua carreira, Neguinho foi campeão do Grupo Especial do Rio de Janeiro em treze ocasiões: 1976, 1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2018 e 2024. Sua voz ecoou nas maiores vitórias da Beija-Flor, muitas delas sob o enredo de Laíla e a batuta de Joãosinho Trinta, eternizando sambas que atravessaram gerações. Entre os marcos, estão “Sonhar com rei dá leão” (1976), “A criação do mundo na tradição nagô” (1978), “Ratos e urubus, larguem minha fantasia” (1989), “Áfricas – do berço real à corte brasiliana” (2001) e “Macabro – O ritual do horror” (2024), consagrando o último título de sua era.
Agora, aos 75 anos, o artista opta por se dedicar a novos projetos e preservar sua saúde. Sua saída, no entanto, é também uma celebração da longevidade e da fidelidade à escola que ajudou a transformar em potência. Não à toa, a Beija-Flor escolheu eternizar esse momento com um espetáculo à altura de sua história: um reality que será não apenas um show de talentos, mas um documentário vivo sobre a alma do carnaval.
“A Voz do Carnaval” é a chance de reafirmar que, em Nilópolis, samba é sinônimo de família, memória e futuro. É a ponte entre o que foi e o que está por vir. Neguinho deixa o microfone principal, mas sua voz seguirá viva nos ecos da Sapucaí e no coração de cada componente da azul e branco.
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