Em um cenário de desafios econômicos, juros elevados e limites orçamentários rígidos, o Governo Federal lançou oficialmente, nesta segunda-feira, 30 de junho, o Plano Safra da agricultura empresarial 2025/2026, com um volume total de R$ 516,2 bilhões em crédito para médios e grandes produtores. O anúncio foi feito durante cerimônia no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que destacou a importância do programa para garantir a continuidade do crescimento do setor agropecuário brasileiro, mesmo sob as amarras da política monetária atual.
O valor total representa um aumento nominal de 1,5% em relação à safra anterior, que havia disponibilizado R$ 508,6 bilhões. Embora o crescimento real, descontada a inflação do período, seja limitado, o governo destaca que houve incremento especialmente no crédito equalizado com subvenção direta do Tesouro Nacional — que passou de R$ 92,8 bilhões para R$ 113,78 bilhões, evidenciando o esforço de manter condições minimamente acessíveis para o financiamento do campo.
Juros mais altos e foco no custeio
Um dos pontos centrais do novo plano é a elevação das taxas de juros. Conforme antecipado, o aumento chega a até dois pontos percentuais. Para médios produtores, a taxa no custeio será de 10% ao ano. Já os demais produtores terão acesso a linhas de crédito com juros de até 14% ao ano. Nos financiamentos para investimentos, as alíquotas variarão entre 8,5% e 13,5%.
Segundo o ministro Carlos Fávaro, as novas taxas refletem a realidade da taxa Selic, que saiu de 10,5% para 15% no último ciclo. Ele enfatizou que o governo buscou conter ao máximo o impacto sobre os produtores. “Ninguém quer subir a taxa de juros, mas com a Selic em alta e com uma conjuntura fiscal apertada, fizemos o possível para garantir o crédito necessário. O aumento é o mínimo necessário para viabilizar o plano”, declarou.
O foco da política atual recai sobre o custeio da produção, que absorverá R$ 414,7 bilhões um crescimento em relação aos R$ 401,3 bilhões da temporada passada. Já os recursos para investimentos caíram para R$ 101,5 bilhões, refletindo o menor apetite do setor por financiamentos de longo prazo em tempos de crédito caro.
Reforço no Pronamp e ausência de linha para hortaliças e grãos básicos
Uma das expectativas do setor era a criação de uma linha específica com juros mais baixos para o cultivo de arroz, feijão e hortifrúti, o que não se concretizou. Em vez disso, o governo decidiu atender essa demanda dentro da linha do Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), que terá R$ 69,1 bilhões com juros de 10% para custeio e aumento do limite de renda bruta anual de R$ 3 milhões para R$ 3,5 milhões.
A ausência da linha dedicada foi justificada pela escassez orçamentária e pela necessidade de concentrar esforços em segmentos que oferecem maior alcance. Ainda assim, Fávaro reafirmou que todos os públicos serão contemplados por meio de linhas já existentes, adaptadas à realidade do mercado.
Impacto regional e distribuição dos recursos por culturas
Os recursos do Plano Safra 2025/2026 foram planejados para atender as especificidades regionais do agronegócio brasileiro. No Centro-Oeste, que concentra a produção de grãos e oleaginosas, como soja e milho, a prioridade continua sendo o crédito para custeio, visando garantir a aquisição de insumos, sementes e fertilizantes. Estados como Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul devem receber uma parcela significativa dos R$ 414,7 bilhões destinados a essa finalidade.
No Sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul e Paraná, a expectativa é de fortalecimento do setor de proteína animal e leite, além da continuidade dos investimentos em culturas de inverno como trigo e cevada. A região será beneficiada por linhas de crédito específicas para a modernização de instalações e renovação de pastagens.
No Nordeste, os recursos equalizados devem se concentrar na fruticultura irrigada, cana-de-açúcar e na produção de algodão, com incentivos a práticas de convivência com o semiárido. Já a região Norte receberá atenção voltada ao fomento da produção sustentável, com apoio a cadeias de valor da castanha, cacau e piscicultura.
No Sudeste, os financiamentos devem impulsionar a horticultura, o café e a produção leiteira, com linhas voltadas à energia renovável, irrigação eficiente e sustentabilidade ambiental. Minas Gerais e São Paulo, com elevada participação no agronegócio nacional, terão acesso a projetos integrados de inovação tecnológica e mecanização agrícola.
Estratégia orçamentária inovadora e divisão de recursos
Uma inovação anunciada pelo Ministério da Fazenda garantirá mais equilíbrio na aplicação dos recursos e evitará pressões excessivas sobre o orçamento. A partir de agora, haverá uma limitação de percentual dos recursos que poderão ser equalizados na primeira metade da safra: 80% para custeio e 50% para investimentos. A medida dá “folga orçamentária” ao Tesouro e evita que todo o montante seja empenhado de uma só vez, como explicou o subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais, Gilson Bittencourt.
“Distribuímos melhor o que pode ser contratado no primeiro e no segundo semestre. Isso deu uma folga em termos orçamentários e permitiu viabilizar o plano com segurança fiscal”, afirmou. O orçamento reservado para a equalização de julho a dezembro será de R$ 1,3 bilhão.
O valor total de recursos com equalização considerando pequenos, médios e grandes produtores subirá de R$ 138,2 bilhões para R$ 157,1 bilhões, segundo a estimativa oficial.
CPRs, LCAs e o papel do mercado
O volume de R$ 516,2 bilhões inclui R$ 185 bilhões que serão movimentados via Cédulas de Produto Rural (CPRs), com recursos captados por instituições financeiras por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Embora o crescimento do montante total seja modesto em termos reais, o ministro da Agricultura reforçou que houve ganho acima da inflação no crédito equalizado, o que representa um alívio aos produtores diante das incertezas econômicas.
Fiscalização e aplicação eficiente dos recursos
Fávaro destacou que haverá um acompanhamento rigoroso da aplicação dos recursos para garantir que cheguem aos destinatários certos. “O dinheiro tem que estar na hora certa, no lugar certo. Não pode faltar em regiões produtoras nem sobrar onde não há demanda. Vamos acompanhar com lupa”, alertou o ministro, referindo-se à eficiência e à responsabilidade fiscal na execução do plano.
Perspectivas para a próxima safra
Com a projeção de nova safra recorde em volume e produtividade, o governo espera que o crédito alocado gere impactos significativos na geração de renda, na manutenção do nível de empregos no campo e no abastecimento alimentar. A confiança é de que, se o clima for favorável e os insumos forem adquiridos com planejamento, a produção brasileira manterá sua competitividade nos mercados interno e externo.
A agricultura empresarial continua sendo uma das maiores engrenagens da economia brasileira, respondendo por parcela expressiva do PIB e das exportações nacionais. Em um ambiente de juros altos e instabilidade macroeconômica, a garantia de crédito e a previsibilidade nas políticas públicas são fundamentais para evitar a retração e estimular novos ciclos de produtividade.
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