A realização do II Encontro Estadual das Equipes de Consultórios na Rua, nos dias 26 e 27 de junho de 2025, em Campo Grande, marcou um novo capítulo no fortalecimento das ações de saúde pública voltadas à população em situação de rua em Mato Grosso do Sul. Passados mais de dez anos desde a primeira edição, o evento reuniu as cinco equipes em atuação no estado duas na capital, além das cidades de Corumbá, Ponta Porã e Três Lagoas e foi promovido pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), por meio da Gerência de Equidade em Saúde.
Com uma programação plural, intensa e sensível, o encontro consolidou a importância dos Consultórios na Rua como estratégia fundamental da Atenção Primária à Saúde (APS), reconhecendo sua atuação diária em contextos desafiadores, mas de extrema necessidade. O evento contou com a presença de profissionais da saúde, gestores públicos, acadêmicos, defensores de direitos e representantes de movimentos sociais, todos unidos pela urgência de garantir dignidade, acesso e pertencimento àqueles que vivem à margem das estruturas formais da sociedade.
A conferência de abertura teve como tema “A clínica na rua: especificidades e desafios da APS com a população em situação de rua”, conduzida pelo psicólogo e sanitarista Marcelo Pedra, da Fiocruz Brasília. Em sua fala, Pedra destacou o papel dos Consultórios na Rua como dispositivos que constroem vínculos a partir da escuta, da empatia e da permanência nos territórios. Ele ressaltou que a clínica praticada nas ruas desafia os moldes tradicionais do cuidado, pois reconhece o espaço urbano como ambiente legítimo de atuação e transformação social.
Outro momento marcante foi a participação de Vanilson Torres, representante do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR). Em sua intervenção, Vanilson criticou práticas higienistas ainda presentes em algumas abordagens institucionais, defendeu a rua como espaço de cidadania e reafirmou a importância do controle social na formulação das políticas públicas.
A programação seguiu com a contribuição da sanitarista Iasmin Oliveira, técnica da Política de Promoção da Equidade em Saúde do Rio Grande do Sul. Iasmin apresentou a experiência de Porto Alegre e o funcionamento do CIAMP-Rua Estadual, Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua. O modelo gaúcho, considerado referência nacional, serviu como inspiração para o fortalecimento da articulação intersetorial no Mato Grosso do Sul.
No segundo dia, as equipes participaram da oficina baseada na metodologia da Matriz FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças). O exercício coletivo de escuta e sistematização resultará no “Caderno da Rua”, documento que subsidiará decisões da gestão estadual, com base nas experiências concretas e nos desafios enfrentados cotidianamente pelas equipes em campo.
A sanitarista Lesly Lidiane Ledesma Abastoflor, da SES, destacou o protagonismo do Mato Grosso do Sul na formulação da nova Política Nacional de Atenção à Saúde da População em Situação de Rua, que está em vias de ser publicada pelo governo federal. Ela também celebrou a recente publicação do decreto que institui o CIAMP-Rua Estadual. “Este encontro reforça nosso compromisso com a saúde integral e com o fortalecimento das equipes que atuam nos territórios. Mato Grosso do Sul tem se destacado na construção de políticas de equidade, e a SES tem papel central nesse processo”, afirmou.
A realização do II Encontro simboliza mais do que um espaço técnico de capacitação. Ele representa o reconhecimento da rua como cenário legítimo de cuidado, a valorização das equipes que enfrentam a invisibilidade e o sofrimento cotidiano de uma população vulnerabilizada, e o compromisso do Estado em transformar a lógica da exclusão em políticas de inclusão.
Com base em princípios como a universalidade, integralidade, intersetorialidade e equidade, os Consultórios na Rua continuam a escrever, no asfalto quente e nos becos esquecidos das cidades, uma nova história de saúde pública: mais próxima, mais humana, mais justa.
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