A manhã da última quarta-feira, 2 de julho, em Campo Grande, foi marcada por mais um episódio dramático da crescente escalada de violência urbana. Em plena luz do dia, um carro foi atingido por cinco disparos de arma de fogo na Rua Prímula, no Bairro Jardim das Hortências. O ataque, executado por um homem ainda não identificado que passou de bicicleta, reacende o temor entre moradores da região e é apontado como desdobramento de uma rixa entre duas famílias envolvidas em disputas e acusações mútuas desde a morte do jovem Eryson Breno Souza Vasques, de 22 anos, conhecido como Ferrugem.
O veículo alvejado estava estacionado e vazio no momento dos disparos, mas dentro da residência encontravam-se cinco crianças, que, por sorte, não foram atingidas. O caso evidencia o grau de perigo que envolve moradores inocentes e revela um cenário de retaliação em que não há limites claros entre quem ataca, quem se defende e quem apenas sobrevive em meio ao medo.
A morte de Ferrugem e o início do confronto
A tensão entre as famílias começou a ganhar contornos mais graves após a morte de Ferrugem, ocorrida no dia 19 de junho. De acordo com a Polícia Civil, o jovem era considerado de alta periculosidade e estava foragido do sistema prisional, sendo apontado como autor de diversos crimes, entre eles dois homicídios — um deles qualificado — além de assaltos à mão armada.
Ferrugem foi morto durante uma operação da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) em uma região de mata próxima à Rua Salim Derzi, estrada de terra que conecta a BR-163 ao Bairro Moreninhas. Conforme relatado pelos policiais, ele teria reagido à abordagem apontando uma pistola para a equipe, o que resultou na resposta letal.
Ao lado dele estava um amigo, que sobreviveu e chegou a gravar um vídeo pedindo socorro após presenciar a morte do comparsa. Desde então, segundo relatos de moradores e familiares, os dois grupos envolvidos passaram a trocar acusações, ameaças e, como agora se confirma, ações armadas.
Disparos como forma de recado
A jovem de 24 anos, cuja mãe é proprietária do veículo atingido, acredita que o atentado tem relação direta com a morte do cunhado. “É um recado. Eles estão ameaçando essa família. Um pouco que eu venho aqui e já fazem isso no carro da minha mãe. Não é um lugar seguro. Isso é intimidação”, desabafou. A jovem, que preferiu não se identificar, afirmou ainda que o ataque foi uma retaliação orquestrada por pessoas ligadas ao comparsa de Ferrugem, cuja casa também teria sido alvejada na semana anterior.
Ela nega qualquer envolvimento em atos de represália e acusa os rivais de impedi-los até de viver o luto. “Não faz nem 15 dias que o guri morreu. A família está em luto. Vocês sabem o que é enterrar um irmão? E mesmo assim acusam eles de fazer esse tipo de coisa, ameaçam, vêm em retaliação. Isso tudo é mentira. Nem o luto deles eles estão podendo viver”, afirmou.
Histórico de violência e clima de medo
A disputa entre os grupos já havia apresentado sinais anteriores de violência extrema. Em dezembro de 2023, um casal, familiares de Ferrugem, foi alvo de disparos ao chegar em casa em uma motocicleta com um bebê de apenas um ano de idade. O homem que carregava a criança foi atingido nas costas e o bebê foi baleado na perna. A jovem entrevistada também atribui esse atentado a pessoas ligadas ao amigo de Ferrugem.
Diante do agravamento da situação, ela afirma ter registrado ao menos quatro boletins de ocorrência para notificar as ameaças que sua família vem recebendo. O mais recente ataque levou equipes da Polícia Militar, Polícia Civil e Perícia Criminal ao local dos disparos, na tentativa de apurar responsabilidades e conter a escalada de agressões que ameaça transformar o bairro em um campo de batalha entre famílias.
A fragilidade do cotidiano e o apelo por segurança
Moradores do Jardim das Hortências vivem agora um cotidiano marcado pela incerteza e pelo medo. Crianças que deveriam brincar na rua permanecem trancadas em casa; vizinhos evitam falar sobre os conflitos por receio de represálias, e mães se perguntam se é seguro sair para trabalhar. A violência deixou de ser um fato isolado para se tornar uma realidade que impõe limites à liberdade e à dignidade das famílias.
A comunidade cobra das autoridades uma resposta mais enérgica, com investigação célere e presença constante das forças de segurança na região. Enquanto isso, episódios como o que ocorreu na manhã de quarta-feira são a manifestação mais cruel da ausência de paz em um ambiente onde o Estado precisa reocupar seu espaço para restabelecer a ordem e proteger os inocentes.
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