A tensão que há anos permeia o Território Indígena de Barra Velha, localizado no município de Porto Seguro, extremo sul da Bahia, ganhou novos contornos nesta quarta-feira, 2 de julho de 2025. Em uma ação coordenada, a Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança Pública apreenderam um arsenal que vinha sendo mantido de forma clandestina na região. O material bélico, composto por pistolas com numeração raspada, centenas de munições e acessórios de uso tático, foi localizado durante patrulhamento de rotina, realizado no contexto de uma série de operações articuladas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O Território de Barra Velha abriga comunidades indígenas pertencentes ao povo Pataxó, cujas terras tradicionais vêm sendo, há décadas, alvo de disputas territoriais e ocupações irregulares, muitas vezes marcadas por violência. De acordo com os órgãos de segurança, a apreensão do arsenal representa mais do que uma medida repressiva. Ela é parte de uma política voltada para a mediação de conflitos, prevenção da violência e proteção dos direitos dos povos originários.
Durante a ação, quatro pessoas foram abordadas pelos agentes: dois adultos e dois adolescentes, todos portando itens considerados de alto potencial ofensivo. Com os indivíduos foram encontradas duas pistolas com numeração suprimida — uma calibre 9 mm e outra calibre .380 além de 198 munições calibre 9 mm, 135 munições calibre .380, 23 munições calibre .44, 27 munições deflagradas calibre 5.56, e outras unidades isoladas de calibres diversos, incluindo munições de espingarda calibre 12, .22 e .32. Também foram apreendidos carregadores alongados com capacidade ampliada, coldre e uma balaclava camuflada, indícios claros de preparação para uso estratégico ou clandestino.
O grupo foi imediatamente conduzido à Delegacia da Polícia Federal em Porto Seguro, onde os adultos foram autuados por porte ilegal de arma de fogo e outros crimes correlatos. Os adolescentes foram encaminhados ao juizado competente, respeitando os trâmites previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. A origem das armas, a procedência das munições e eventuais conexões com facções criminosas que atuam na Bahia e em estados vizinhos são agora alvos de investigação detalhada.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, em nota divulgada após a operação, destacou o esforço do governo federal em manter a ordem e assegurar os direitos das comunidades indígenas em áreas de alta sensibilidade. “Não há desenvolvimento possível sem paz nos territórios tradicionais. A defesa dos povos originários é responsabilidade de Estado, e todas as forças sob nossa coordenação estão comprometidas com a integridade das comunidades e o cumprimento da lei”, declarou.
A ação é parte de um conjunto de iniciativas que visam fortalecer a presença do Estado em áreas de conflito, em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, a Polícia Militar e a Polícia Civil do estado. Essas operações de campo foram intensificadas nos últimos meses, diante do agravamento das tensões entre comunidades indígenas e grupos que insistem na ocupação e exploração econômica de terras demarcadas ou em processo de demarcação.
O Território de Barra Velha é um dos mais antigos reconhecidos na Bahia como de ocupação tradicional indígena. Contudo, ao longo das últimas décadas, passou a conviver com a pressão de grileiros, fazendeiros e, em alguns casos, milícias armadas, o que impôs à comunidade Pataxó um cotidiano de insegurança. Relatórios de entidades ligadas aos direitos humanos e ao Ministério dos Povos Indígenas já haviam alertado para a presença de armamento pesado e para o aumento da violência local.
Ainda de acordo com a Polícia Federal, esta operação representa um avanço concreto no plano de retomada da ordem e de combate ao crime organizado em zonas rurais. A expectativa é de que outras ações similares sejam realizadas nos próximos dias, como parte do plano estratégico nacional de enfrentamento à criminalidade em áreas indígenas.
A presença da Força Nacional, que vem atuando em cooperação direta com os órgãos estaduais e federais desde o início de 2025, tem sido fundamental para a contenção de episódios violentos e para a manutenção de rotas de patrulhamento constante. Além disso, o Ministério da Justiça reafirmou que está em curso o envio de recursos adicionais e o reforço do efetivo em áreas consideradas de risco elevado.
Enquanto as investigações avançam, as comunidades locais permanecem em alerta, mas agora com respaldo mais visível das instituições de segurança. Para os indígenas de Barra Velha, a retirada de armas ilegais representa, ao menos por ora, um alívio diante da permanente tensão que ronda o território. Para as autoridades federais, trata-se de um recado direto àqueles que insistem em transformar territórios protegidos em zonas de conflito.
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