Um dos suspeitos ouvidos pela Polícia Federal na operação que investiga o planejamento de ataques terroristas contra judeus no Brasil teve encontros com um dos “chefes” do Hezbollah durante uma viagem ao Líbano.
Durante as conversas em Beirute, o “chefe” teria questionado se ele havia sido informado no Brasil qual seria o trabalho, que “não era uma atividade limpa” e que “a gente precisava ser capaz de matar e sequestrar”. A organização tentava recrutá-lo.
Ainda segundo o depoimento, o suspeito respondeu que não era capaz de praticar esses atos.
Alvo de busca e apreensão na operação da PF, o brasileiro descreve o modus operandi da organização para tentar recrutar novos membros.
Ele conta que recebeu dinheiro de um contato no bairro Brás em São Paulo para viajar a Beirute, que as orientações para a viagem vinham por WhatsApp de um celular paraguaio e que ficou em dois hotéis na capital libanesa com tudo pago pelos criminosos.
Segundo o relato dele, para encontrar o “chefe”, seguia de carro até um beco atrás de um campo de futebol, onde havia vários carros, e entrava depois num outro veículo com cortinas pretas.
Era recebido então por homens armados num prédio e ia para uma sala de entrevistas.
Para não ter risco de identificar o tradutor, que falava português, era obrigado a colocar a cabeça entre as pernas e o tradutor se escondia atrás de um biombo.
Em sua primeira conversa com o “chefe”, foram quase cinco horas de palestra num quadro branco onde ele ensinava “instruções para a vida”.
Em um segundo encontro, foi sugerido que ele comprasse um táxi para espionar os passageiros o que, segundo ele, também se negou a fazer.
Ao se despedir do “chefe”, o brasileiro conta que recebeu um abraço, mas foi informado que, se os traísse, sofreria consequências muito graves.
No depoimento, ele afirma que não deu detalhes para ninguém e compreendeu que era uma organização terrorista que tentava recrutá-lo e que, já no Brasil, concluiu que se tratava do Hezbollah.