Mato Grosso do Sul, 25 de abril de 2025
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A polêmica em torno de ‘Ainda Estou Aqui’: Críticas e reações nas redes sociais

Com a aclamação mundial, o filme brasileiro gera discussões intensas sobre sua abordagem da ditadura militar, e quem se atreve a criticar a produção enfrenta ataques virulentos nas redes sociais
Filme atraiu mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas no Brasil e tem 'exército' de fãs
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Desde sua estreia no Festival de Veneza em 2024, o filme brasileiro Ainda Estou Aqui conquistou aplausos, reconhecimento e uma legião de fãs. Com 97% de aprovação tanto dos críticos quanto do público no Rotten Tomatoes, a produção dirigida por Walter Salles gerou um debate intenso, especialmente nas redes sociais, onde os elogios ao filme dividem espaço com críticas severas. No entanto, o que dizem aqueles que não compartilham dessa visão positiva sobre o longa?

O filme, que retrata a história de Eunice Paiva, uma mãe de cinco filhos que lida com o sequestro e assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar, tem sido amplamente elogiado por sua sensibilidade e pela performance da atriz Fernanda Torres. Em 2025, o longa competirá em três categorias no Oscar, o que só aumenta a importância da discussão sobre sua abordagem da história do Brasil. Entretanto, as críticas surgem em meio a um cenário de hostilidade nas redes sociais, onde discordâncias tornam-se alvos de ataques ferozes.

Um exemplo notório dessa reação ocorreu quando o crítico francês Jacques Mandelbaum, do Le Monde, publicou uma resenha negativa. Sua visão contrária à maioria foi recebida com uma onda de ataques virtuais, resultando em mais de 21 mil comentários ofensivos nas redes sociais do jornal em apenas dois dias. Esse episódio demonstra como a crítica ao filme gerou uma reação tão intensa, que o próprio jornal orientou seus colaboradores a não comentarem publicamente sobre a situação para evitar mais polêmicas.

Thiago Torres, influenciador conhecido pelo canal Chavoso da USP, também se tornou alvo de críticas após publicar um vídeo no qual explicava por que não gostou do filme. No vídeo, Torres argumenta que a obra se concentra excessivamente na experiência de uma família de classe média alta, enquanto ele gostaria de ver um tratamento mais amplo da violência política, que também afeta populações negras e periféricas no Brasil. “O filme não aborda a truculência da ditadura para esses grupos, o que, para mim, limita a relevância da narrativa”, comenta.

Assim que o vídeo foi postado, Torres foi inundado por uma série de ofensas. Mesmo aqueles que não assistiram ao vídeo se apressaram em criticá-lo nas redes sociais, algo que ele considera uma consequência da polarização política. “Foi um linchamento virtual. Me chamaram de inimigo do Brasil, apenas porque eu expressei minha opinião”, lamenta Torres. Para ele, a reação exagerada reflete o clima emocional e polarizado em torno do tema da ditadura militar, que ainda divide profundamente a sociedade brasileira.

A hostilidade em torno da crítica ao filme também foi discutida por Saymon Nascimento, jornalista e cinéfilo. Ele argumenta que a crítica deve ser vista como uma ferramenta para abrir horizontes e não como uma imposição de opinião única. Para ele, Ainda Estou Aqui foca demais no luto da protagonista e na esfera privada de sua família, quando poderia ter abordado a ditadura militar de uma maneira mais abrangente. “O filme não se arrisca a ser verdadeiramente político, e isso me incomoda”, afirma Nascimento.

O crítico Inácio Araújo, da Folha de S. Paulo, compartilha uma visão semelhante. Ele acredita que a delicadeza do estilo de Walter Salles acaba enfraquecendo o impacto político do filme. “O filme começa com um tema político, mas termina explorando questões familiares de forma muito suave, sem um posicionamento firme sobre o contexto histórico”, diz Araújo. Essa visão é alinhada à crítica de Jacques Mandelbaum, que considera o filme “monocórdico” e demasiado tradicional em sua abordagem.

Silvia Adoue, professora da Unesp, também questiona a visão limitada do filme sobre a ditadura militar, considerando-a uma narrativa que privilegia a classe média intelectual, muitas vezes em detrimento das experiências dos trabalhadores e camponeses, que também foram duramente reprimidos pelo regime. “A ditadura foi um evento estruturante para o Brasil, mas o filme parece apenas passar superficialmente sobre ele, restringindo a história ao sofrimento de uma classe específica”, afirma Adoue.

O que fica claro a partir dessas críticas é que, embora Ainda Estou Aqui seja uma obra importante para o debate sobre a ditadura militar, ela não está isenta de questionamentos. A obra de Walter Salles, embora aclamada por muitos, gera uma discussão profunda sobre como o Brasil escolhe contar suas próprias histórias, e quem tem o direito de narrá-las. Nesse contexto, a crítica é uma parte essencial desse debate, ajudando a contextualizar a obra e a refletir sobre o que ela representa em uma sociedade ainda marcada pela polarização política.

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