O cenário diplomático da América Central ganhou um novo contorno, com o Panamá decidindo dar um passo atrás na parceria com a China, ao cancelar sua participação na ambiciosa iniciativa da “Nova Rota da Seda”, também conhecida como Cinturão e Rota. Esta mudança vem após fortes pressões dos Estados Unidos, em especial do presidente Donald Trump e do senador Marco Rubio, que tentam reduzir a crescente influência econômica de Pequim no Canal do Panamá, ponto estratégico de intercâmbio global.
O Canal do Panamá, gerido pela Autoridade do Canal desde 1999, serve como uma das rotas mais importantes para o comércio mundial. No entanto, Washington vê com preocupações o fato de a China, por meio de uma empresa de Hong Kong, ter controle sobre portos situados nas duas extremidades da via. Tal controle é considerado um ponto sensível, já que por ali transita 5% do comércio marítimo global e 40% do tráfego de contêineres que se destinam aos Estados Unidos.
A presença da China nas duas extremidades do canal – por meio da operação portuária realizada pela empresa Hutchison Whampoa – não é de hoje, mas tem se tornado cada vez mais um ponto de fricção nas relações entre Washington e Pequim. Para os Estados Unidos, a perspectiva de um gigante asiático com influência na principal via de transporte entre os oceanos Atlântico e Pacífico é uma ameaça geopolítica. A administração Trump, que retornou à Casa Branca no início de 2025, intensificou suas críticas e ações para tentar reduzir o peso chinês na região.
O porta-voz da diplomacia chinesa, Lin Jian, expressou pesar pela decisão do Panamá e pediu que o país reconsiderasse suas relações com Pequim, ressaltando que as interferências externas não deveriam influenciar as escolhas bilaterais entre as duas nações. Em suas palavras, o Panamá deveria olhar para os “interesses a longo prazo” e o bem-estar das duas economias, e não ceder a pressões externas.
“Nos últimos anos, a relação entre China e Panamá tem se desenvolvido de forma ampla, com grande potencial para ambos os países”, afirmou Lin Jian em uma entrevista coletiva. Para o governo chinês, o fechamento de portas para a iniciativa da Nova Rota da Seda poderia significar um retrocesso no estreitamento de laços entre as duas economias. Pequim, que já investiu bilhões em infraestrutura e projetos no país centro-americano, agora observa com cautela o impacto que a decisão de afastamento pode ter para o futuro.
A pressão de Trump é clara: desde que assumiu a presidência novamente, ele tem sido implacável em sua tentativa de diminuir a presença chinesa no país centro-americano, criticando tarifas e até sugerindo o uso da força para garantir o controle total da via interoceânica. Em um encontro recente, o ex-presidente americano foi enfático ao afirmar que as tarifas cobradas de navios americanos que atravessam o canal são excessivas e que o país deveria repensar as condições de acesso, considerando as circunstâncias geopolíticas da região.
A visita de Marco Rubio ao Panamá nesta semana foi o último movimento nesta estratégia. O senador republicano, conhecido por suas posições agressivas contra o crescimento da influência chinesa na América Latina, também foi responsável por pressionar as autoridades panamenhas a reconsiderar qualquer tipo de acordo econômico com a China. Após as conversas, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, anunciou que o país se retiraria da “Iniciativa Cinturão e Rota”, com um período de transição de 90 dias.
“Eu não sei o que motivou essa decisão de assinar com a China na época”, afirmou Mulino, questionando o que a parceria trouxe de positivo para o Panamá. Esse questionamento reflete a crescente dúvida sobre os benefícios tangíveis da parceria, especialmente quando comparado à pressão que vem de Washington. Embora as negociações iniciais com a China visassem trazer investimentos em infraestrutura e novos projetos para o país, a percepção de que a parceria não trouxe os frutos esperados começa a ganhar força entre a classe política do Panamá.

Para a China, a acusação de que os Estados Unidos estão aplicando uma “mentalidade de Guerra Fria” é clara. Pequim vê na retórica de Washington uma tentativa de semear divisões e impedir que os países da América Latina se aproximem de seu maior parceiro comercial. Em um comunicado oficial, o governo chinês afirmou que as declarações de Rubio apenas servem para criar atritos desnecessários e interferir nos assuntos internos da China. “Essa postura beligerante dos Estados Unidos não reflete a realidade das relações globais e só serve para enfraquecer os laços de amizade e cooperação entre países soberanos”, disse o Ministério das Relações Exteriores chinês.
A decisão do Panamá também reflete um movimento mais amplo de países da América Latina que, em algum momento, se aproximaram da China por meio de sua “Nova Rota da Seda”, mas agora começam a reavaliar essa relação à medida que a pressão dos Estados Unidos aumenta. O Chile e o Brasil, por exemplo, têm sido alvos da disputa entre Washington e Pequim, e ambos os países têm buscado equilibrar suas parcerias econômicas com as duas superpotências.
Essa disputa no Panamá não é um caso isolado. Nos últimos dias, os Estados Unidos anunciaram sanções contra uma rede internacional que supostamente facilitava o transporte de petróleo iraniano para a China, acusando o regime de Teerã de financiar suas atividades militares, incluindo o apoio a grupos terroristas como Hamas e Hezbollah. As sanções reforçam a estratégia dos EUA de tentar conter a influência chinesa no cenário global, especialmente em países que possuem laços comerciais com Pequim.
Além disso, a crescente competitividade entre os dois países por investimentos e mercados na América Latina não mostra sinais de abrandamento. Enquanto os Estados Unidos tentam barrar a expansão da China com pressões econômicas e políticas, Pequim aposta em acordos de longo prazo e no fortalecimento de sua presença através da diplomacia. A luta pelo controle da região vai além do Panamá e segue sendo uma das principais questões da política internacional contemporânea.
Este embate diplomático tem tudo para se intensificar, já que a competição por influência na América Latina parece estar longe de uma resolução. A China segue buscando expandir sua rede de parcerias, enquanto os Estados Unidos tentam barrar a crescente presença econômica de seu principal rival. Para o Panamá, o futuro das relações com as duas potências será, sem dúvida, um ponto de virada que exigirá uma escolha cuidadosa entre os benefícios imediatos e os interesses estratégicos de longo prazo.
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