Mato Grosso do Sul, 22 de abril de 2025
Campo Grande/MS
Fuente de datos meteorológicos: clima en Campo Grande a 30 días

Adriane Lopes recua de aumento milionário após pressão popular e reação dos Servidores Municipais

Tentativa de elevar salário para R$ 35 mil gerou revolta entre trabalhadores e moradores da periferia, e Adriane Lopes volta atrás propondo escalonamento
Prefeita Adriane Lopes (PP) de Campo Grande
Prefeita Adriane Lopes (PP) de Campo Grande

Promessa de aumento gerou revolta, expôs privilégios da elite política e fez ecoar a voz da periferia contra o descaso com quem realmente sustenta a cidade.

Era pra ser mais uma manobra silenciosa, mas virou um escândalo barulhento. A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, decidiu recuar da proposta que previa aumentar o próprio salário em 67%, passando de R$ 21,2 mil para R$ 35.462,27. O projeto, que já estava na pauta da Câmara Municipal para ser votado nesta terça-feira, foi retirado após forte pressão popular, críticas de servidores e revolta nas ruas — especialmente nas regiões mais carentes da cidade.

A revolta não veio à toa. Enquanto o alto escalão do poder busca engordar os próprios vencimentos, os servidores municipais seguem enfrentando anos de arrocho salarial, acúmulo de funções e falta de condições de trabalho. Professores, agentes de saúde, trabalhadores da limpeza urbana, assistentes sociais e técnicos administrativos denunciam o descaso da prefeitura com quem está na linha de frente.

“Como pode querer R$ 35 mil de salário se a gente tá há anos sem reajuste real?”, questiona Maria Aparecida, professora da rede municipal há 18 anos. “A escola onde eu trabalho tá cheia de infiltração, falta material básico e nem sempre tem merenda. Enquanto isso, eles vivem em gabinete com ar-condicionado e querem aumento milionário.”

Para os agentes de saúde, que caminham de casa em casa em bairros muitas vezes esquecidos pelo poder público, a situação é ainda mais revoltante. “A gente tá todo dia enfrentando sol, chuva, e ganhando pouco mais de um salário mínimo com gratificação. E a prefeita vem com esse papo de que falta dinheiro só quando mexe com o dela?”, dispara Marcos Vinícius, agente de endemias do bairro Tiradentes.

A proposta de aumento também teve impacto direto nas conversas nas feiras, nos pontos de ônibus e nas esquinas dos bairros mais humildes de Campo Grande. “Aqui no Rita Vieira, a gente vive no escuro. As luzes dos postes estão queimadas faz meses, e ninguém vem trocar. Tem rua aqui que quando chove vira atoleiro, ninguém passa. E a mulher quer ganhar mais que juiz? Tá achando que Campo Grande é cidade de primeiro mundo?”, reclamou Dona Elza, moradora há mais de 30 anos do bairro.

No Jardim Noroeste, um dos bairros com maior índice de vulnerabilidade da capital, o pedreiro Josimar Oliveira resumiu o sentimento geral: “A gente que acorda 4 da manhã pra ganhar R$ 100 por dia tá cansado desses políticos que só olham pra eles. Eles falam em escalonar salário, mas nunca escalonam o aumento da cesta básica ou do aluguel, né?”

O recuo da prefeita foi anunciado pelo presidente da Câmara Municipal, vereador Epaminondas Neto, o Papy. Segundo ele, um acordo já havia sido firmado entre a prefeitura, o Ministério Público e o Tribunal de Justiça. No entanto, após reunião de última hora com os sindicatos, Adriane voltou atrás alegando “falta de recursos” e propôs que o aumento fosse feito de forma escalonada ao longo de três anos ainda sem nenhuma garantia formal ou plano definido.

“Agora o papo é escalonamento, mas a prefeitura nem sabe explicar como isso vai acontecer. É só mais um jeito de empurrar o assunto com a barriga”, criticou o servidor administrativo Paulo César, que trabalha há 22 anos no setor de tributos da prefeitura. “Se fosse pra valorizar o servidor mesmo, já teria começado de baixo pra cima, não de cima pra cima.”

A tentativa de reajuste foi, na verdade, o desfecho de uma série de iniciativas para aumentar os salários do topo da estrutura municipal. Em fevereiro, o Tribunal de Justiça já havia barrado outro projeto que previa salários ainda maiores, de até R$ 41,8 mil. As leis foram consideradas inconstitucionais por não apresentarem o impacto financeiro, além de provocarem o chamado efeito cascata, elevando automaticamente o teto salarial de outras categorias do funcionalismo.

Um estudo anexado pela própria prefeitura apontava que, caso o aumento fosse implementado, o impacto mensal nas contas públicas poderia chegar a R$ 8 milhões. Mesmo assim, a proposta voltou à tona, mas não resistiu ao peso das críticas e da pressão nas ruas.

Para os sindicatos, a situação deixou claro que a valorização do servidor só entra em pauta quando há repercussão negativa. “Se não fosse o barulho da população, esse aumento já estaria aprovado. Foi a força das vozes das periferias, das salas de aula, dos postos de saúde, que fez a prefeita voltar atrás”, afirmou uma representante do sindicato dos trabalhadores da educação, que preferiu não se identificar.

Com a proposta retirada, a prefeitura agora promete dialogar com os sindicatos e buscar alternativas. Enquanto isso, a população segue esperando por investimentos reais nos bairros, nos serviços essenciais e em políticas públicas que façam diferença na vida de quem mais precisa.

#politica #campo grande #aumentosalario #prefeiturarecuou #dinheiropublico #servidoresmunicipais #valorizacaodotrabalhador #revoltapopular #vozdaperiferia #pressaonaspoliticas #transparenciaja #respeitocomdinheiropublico

Suas preferências de cookies

Usamos cookies para otimizar nosso site e coletar estatísticas de uso.