Em meio a um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas, produtores rurais do Brasil estão apostando em um modelo inovador e sustentável: a agricultura regenerativa. Mais do que uma simples alternativa ecológica, essa abordagem busca integrar produção e preservação ambiental, garantindo alimentos mais saudáveis e um futuro sustentável para as próximas gerações.
A adoção desse modelo, no entanto, não acontece da noite para o dia. Muitos agricultores hesitam em mudar suas práticas devido aos custos iniciais e à falta de apoio técnico. No entanto, aqueles que já deram esse passo afirmam que os benefícios superam os desafios. E para fortalecer essa rede, um grupo de produtores criou a Frente Empresarial para Regeneração da Agricultura (FERA), uma iniciativa que busca ampliar o acesso a recursos, conhecimento e políticas públicas voltadas à sustentabilidade no campo.
A revolução sustentável no campo
Um dos pioneiros desse movimento é o veterinário e ex-professor da Esalq-USP, Luis Fernando Laranja, que há dez anos investe no modelo regenerativo na produção de leite. Sua fazenda, em Itirapina (SP), foi a primeira no Brasil a obter certificação de leite carbono neutro, além de ser certificada em produção orgânica e bem-estar animal.
Laranja expandiu seu trabalho para a pecuária de corte e, hoje, opera em 16 mil hectares espalhados por quatro estados brasileiros. Em sua fazenda, 6 mil hectares são manejados no sistema silvopastoril, uma técnica que combina árvores, pastagens e gado para melhorar a produtividade, garantir bem-estar animal e recuperar solos degradados. “Esse sistema aumenta a fertilidade do solo e proporciona sombra e conforto térmico para os animais”, explica Laranja.
A inovação não parou por aí. Junto aos sócios da Caaporã Agrosilvopastoril, ele desenvolveu um modelo de compensação de carbono para ser replicado em outras fazendas, provando que sustentabilidade e produtividade podem andar juntas. Embora o investimento inicial gire em torno de R$ 8 mil a R$ 10 mil por hectare, o retorno financeiro começa a aparecer a partir do terceiro ano. “Definitivamente tem desafios, mas aprender algo novo sempre vale a pena”, afirma.
Queijo orgânico e manejo sustentável
Outro exemplo inspirador é o do agrônomo Vinícius Ferreira Soares, criador do programa O Bem Orgânicos, responsável pelo primeiro queijo Canastra orgânico certificado do Brasil. Localizada em Piumhi (MG), na microrregião da Serra da Canastra, sua propriedade tem 25 hectares, sendo 11 deles de mata nativa preservada.
Desde que adotou práticas agroecológicas e regenerativas, em 2019, Soares viu benefícios não apenas na qualidade do solo, mas também no sabor do queijo. Além disso, a nascente da fazenda, que antes estava seca, voltou a fluir, alimentando o ribeirão Araras e, consequentemente, o rio São Francisco. “A diversidade de plantas e microorganismos influencia positivamente no sabor do queijo, além de tornar o sistema mais resiliente”, destaca.
Outro ganho é o bem-estar do rebanho, já que a presença de árvores e arbustos na propriedade oferece sombra natural para os animais, reduzindo o estresse térmico e melhorando a produtividade do leite.
Economia circular e inovação no agronegócio
A agricultura regenerativa também pode impulsionar a economia circular, como mostra a experiência da Auma Agronegócios, liderada por Lucimar Silva. Em sua fazenda de café, em Patos de Minas (MG), a energia elétrica é gerada por biodigestores que aproveitam resíduos da suinocultura, reduzindo custos e impactos ambientais. Além disso, os resíduos orgânicos das diversas culturas são transformados em fertilizantes naturais, fechando um ciclo sustentável.
“Acreditamos no potencial do sistema circular como ferramenta de proteção ao meio ambiente. Além disso, fazemos um manejo eficiente dos recursos hídricos, utilizando plantas de cobertura e tecnologia para monitoramento em tempo real”, explica Silva, que também faz parte da FERA.
Mobilização para um futuro sustentável
A criação da Frente Empresarial para Regeneração da Agricultura (FERA) é um marco na busca por políticas públicas que incentivem a adoção de práticas sustentáveis. O projeto, liderado por Alexandre Mansur e um grupo de oito conselheiros, tem como objetivo principal aproximar legisladores, cientistas, produtores e consumidores para discutir soluções viáveis para o setor agropecuário.
“Queremos criar uma representatividade forte para facilitar o diálogo e estimular ações tanto regionais quanto nacionais”, destaca Mansur, que é diretor de projetos do Instituto O Mundo que Queremos. Segundo ele, a frente busca facilitar o acesso ao crédito para agricultores dispostos a migrar para o modelo regenerativo, além de incentivar a capacitação técnica e conscientizar os consumidores sobre o valor dos produtos sustentáveis.
Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela pressão global por alimentos mais saudáveis e ambientalmente responsáveis, a agricultura regenerativa surge como uma resposta promissora. Com a união de produtores, cientistas e consumidores, o Brasil pode se tornar referência mundial nesse modelo de produção, garantindo um futuro mais equilibrado para o planeta e para as próximas gerações.
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