Mato Grosso do Sul, 16 de maio de 2025
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Água para viver: projeto leva abastecimento seguro a três mil indígenas Yanomami na Amazônia

Microssistemas de tratamento, diálogo contínuo e capacitação marcam avanço histórico em saúde e dignidade no território Yanomami
Imagem - MDS/Divulgação
Imagem - MDS/Divulgação

Com o avanço do projeto conduzido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), cerca de três mil indígenas Yanomami passaram a ter acesso regular e seguro à água tratada por meio da instalação de trinta microssistemas de abastecimento nas aldeias situadas no território amazônico. A iniciativa, além de levar infraestrutura hídrica essencial para a vida, promove também um processo educativo, dialogado e contínuo com as lideranças e comunidades indígenas envolvidas.

A proposta integra o Programa Cisternas e recebeu investimento federal de R$ 5 milhões. O foco está na construção de sistemas coletivos de captação, filtragem e distribuição da água, com estruturação voltada para o uso sustentável e a gestão comunitária. As aldeias beneficiadas estão localizadas às margens dos rios Preto, Marauiá, Cauaburis e Demeni, nos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, no Amazonas.

A iniciativa vai além da simples instalação de estruturas físicas. Ela representa um novo capítulo na luta histórica dos povos Yanomami por direitos básicos e respeito à vida. A implementação dos sistemas inclui escuta atenta, respeito à cultura e formação técnica continuada dos moradores. Segundo Stanny Saraiva, coordenadora do Programa de Educação em Saúde da organização Aflora, parceira do governo no projeto, o diferencial está justamente na forma como tudo é construído. “Esse processo é guiado por um protocolo de consulta, garantindo que as decisões sejam tomadas em conjunto. Cada sistema é mais do que uma estrutura física – é um compromisso com a dignidade e a saúde desses povos”, afirmou.

O funcionamento dos microssistemas é baseado na captação direta da água dos rios, com tratamento por meio de filtros lentos de areia e distribuição por chafarizes instalados nos centros das aldeias. A tecnologia dispensa o uso de cloro e utiliza energia solar para acionar as bombas de captação, com quatro painéis solares de 380 watts alimentando uma bomba de meio cavalo. Essa simplicidade operacional garante a autossuficiência e facilita a manutenção comunitária.

Segundo Jovino Neto, supervisor técnico do projeto, essa escolha tecnológica respeita as condições ambientais e culturais da região. “O sistema é simples e eficaz. Além de não usar cloro, não depende de energia elétrica convencional, o que é essencial em locais tão isolados. Trata-se de uma solução acessível e funcional, pensada para atender com respeito e eficiência.”

A logística desafiadora da Amazônia impõe obstáculos significativos. Muitas aldeias só são acessíveis por embarcações leves, exigindo articulação com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para viabilizar o transporte dos equipamentos e das equipes técnicas. Mesmo diante das dificuldades, o projeto já entregou onze sistemas completos e tem outros quatro em fase final de implantação. A meta é concluir os trinta microssistemas até o fim de 2026, sendo quatorze em Santa Isabel do Rio Negro e dezesseis em Barcelos.

As memórias da escassez e da vulnerabilidade à contaminação ainda estão vivas nas comunidades. “Antes, nós sofríamos quando bebíamos água contaminada”, recorda Lívio Yanomami, liderança da aldeia de Lajinha, no Rio Preto. “As cisternas vão ajudar muito a nossa saúde, principalmente a das crianças e dos idosos, que sofriam com diarreias e vermes. Por isso, estou muito feliz com essa instalação na nossa comunidade”, completou.

Há mais de uma década, diagnósticos apontavam a ausência de acesso à água potável como um dos maiores fatores de risco sanitário entre os Yanomami. O contato direto com mercúrio presente em rios, utilizado em atividades de garimpo ilegal, agravava ainda mais o cenário de insegurança hídrica e sanitária.

A organização Aflora, com mais de trinta anos de atuação junto aos povos da floresta, tem papel central na condução do projeto. As assessoras de campo da instituição passam por formação intensiva e sensibilização cultural antes de acompanhar as obras, garantindo que cada etapa do processo respeite a língua, os costumes e o modo de vida dos Yanomami.

“Cada sistema de água é a semente do futuro. Temos plantado junto com as comunidades essa semente e seguimos com o coração aberto e o compromisso firme nesse caminhar ao lado do povo Yanomami, aprendendo e construindo juntos um caminho de cuidado, de respeito, de saúde”, concluiu Stanny Saraiva, com emoção.

Ao unir tecnologia simples, conhecimento tradicional, formação humanizada e participação comunitária, o projeto não apenas leva água às aldeias – ele leva esperança, segurança e cidadania. A água, que sempre foi símbolo de vida, torna-se também um símbolo de justiça, de reparação e de compromisso com um Brasil que reconhece e protege seus povos originários.

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