A onça-pintada que chocou moradores da região pantaneira após atacar e devorar um caseiro em um pesqueiro no final de abril foi oficialmente transferida para um recinto de manejo de fauna silvestre no município de Amparo, interior de São Paulo. A operação de transferência ocorreu na última quarta-feira, 15 de maio, e marca o encerramento de um período intensivo de cuidados veterinários realizados no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande, onde o felino esteve sob constante monitoramento desde sua captura.
O animal, um macho adulto de aproximadamente nove anos, foi capturado pela Polícia Militar Ambiental no dia 24 de abril, nas imediações do encontro dos rios Miranda e Aquidauana, próximo ao conhecido pesqueiro Touro Morto, no coração do Pantanal sul-mato-grossense. A ação contou com o suporte de instituições científicas e ambientais como o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o centro de pesquisas Reprocon (Reprodução para Conservação), coordenado pelo professor Gediendson Araújo, especialista em grandes felinos.
Na ocasião da captura, o animal apresentava estado físico debilitado, pesando 94 quilos — muito abaixo da média esperada para um espécime de seu porte, estimada em cerca de 120 quilos. Exames iniciais apontaram desidratação acentuada, perda muscular e alterações hepáticas. Desde então, a onça foi submetida a uma rotina de reidratação, suplementação nutricional e acompanhamento médico-veterinário diário. Após três semanas de tratamento contínuo, o felino ganhou 13 quilos, alcançando 107 quilos no momento da transferência para o novo habitat.
A veterinária Aline Duarte, gestora do Hospital Veterinário Ayty e coordenadora do CRAS, foi uma das profissionais responsáveis pela reabilitação do animal. Segundo ela, o processo foi delicado, mas apresentou uma evolução positiva.
“Ele chegou com sinais de fraqueza, com exames alterados e bastante abaixo do peso. Foi preciso um suporte nutricional intensivo, além de medicações específicas para garantir a função hepática e estabilizar seu estado clínico. Felizmente, respondeu bem ao tratamento, ganhou massa corporal e não apresentou nenhuma condição grave que impedisse a sua recuperação”, relatou Aline.
O destino da onça-pintada é agora o Instituto Ampara Animal, que mantém sob custódia permanente animais silvestres que, por diferentes razões, não podem retornar à vida livre. A unidade especializada abriga atualmente oito grandes felinos — cinco onças-pintadas e três onças-pardas — em recintos amplos, cercados por vegetação nativa e isolados de contato humano, garantindo bem-estar e segurança tanto para os animais quanto para a sociedade.
Jorge Salomão, veterinário e responsável técnico da Ampara Silvestre, explicou que a nova morada da onça está alinhada aos padrões mais exigentes de proteção ambiental.
“Nossos recintos variam de mil a seis mil metros quadrados, todos cobertos por mata nativa e projetados para simular, o máximo possível, o ambiente que o animal encontraria na natureza. O local não é aberto à visitação pública. Nosso foco é o cuidado, a tranquilidade e o respeito à individualidade de cada espécime que chega aqui”, explicou.
Embora a decisão de não reintroduzir o animal em seu habitat natural tenha sido pautada por critérios técnicos e de segurança, o caso reacende o debate sobre os desafios de convivência entre humanos e grandes predadores em regiões de intensa atividade turística e econômica. A onça-pintada é considerada um indicador-chave da saúde dos ecossistemas pantaneiros, desempenhando papel crucial no equilíbrio da cadeia alimentar.
“A presença da onça é sinônimo de um ambiente preservado. Ela é um ícone da fauna brasileira e uma espécie emblemática do Pantanal. Infelizmente, a interação com áreas ocupadas pelo homem muitas vezes leva a conflitos, mas é nossa responsabilidade buscar formas de preservar a espécie sem colocar vidas em risco”, afirmou Salomão.

Durante o período em que esteve no CRAS, a onça foi submetida a diversos exames clínicos, incluindo raio-x, ultrassonografia, hemogramas e avaliações comportamentais. Os resultados indicaram que as alterações de saúde apresentadas eram passageiras, fruto do desgaste sofrido antes da captura. Mesmo assim, sua reinserção em ambiente natural foi descartada, principalmente devido ao episódio que culminou na morte do caseiro e ao risco de reincidência comportamental.
A captura do animal, conduzida com extremo cuidado técnico e apoio interinstitucional, foi concluída com sucesso e representa um exemplo de ação coordenada entre autoridades ambientais, pesquisadores e veterinários. A destinação da onça para um centro especializado reflete o esforço coletivo de garantir o bem-estar animal e a segurança das comunidades locais.
A experiência também reforça a importância da existência de estruturas como o CRAS e o Instituto Ampara Animal, capazes de acolher, tratar e oferecer uma nova chance a animais silvestres que, por qualquer razão, perderam a capacidade de sobreviver sozinhos na natureza.
No encerramento da transferência, a veterinária Aline Duarte destacou o sentimento de missão cumprida: “Receber uma onça-pintada, tratar, estabilizar e entregar para um local seguro é uma enorme responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma grande honra. A espécie é o símbolo maior do Pantanal e merece toda nossa dedicação”.
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