É preocupante quando, em menos de dois meses após sua inauguração, uma obra de R$ 84,6 milhões começa a apresentar sinais claros de falhas estruturais. Esse é o caso da Avenida Wilson Paes de Barros, em Campo Grande, cuja nova pavimentação, entregue ao tráfego no final de 2024, já está sendo corrigida com remendos. Um cenário que levanta questões sobre a qualidade da execução, o uso de recursos públicos e o impacto social de um investimento tão expressivo.
A nova avenida, que liga a região do aeroporto de Campo Grande a bairros como Nova Campo Grande e Polo Empresarial Oeste, foi planejada para melhorar a mobilidade na cidade e foi construída com verba federal, um dos maiores investimentos da gestão da então prefeita bolsonarista Adriane Lopes. Entretanto, pouco tempo após a liberação da via, as falhas começam a surgir. O pavimento se esfarela, e o que era para ser uma solução de infraestrutura moderna, torna-se um problema.
Problemas Visíveis e Falta de Planejamento
A Avenida Wilson Paes de Barros foi projetada para facilitar o tráfego de veículos, mas, infelizmente, o que deveria ser um símbolo de progresso tornou-se uma evidência da falta de planejamento. O projeto previu o uso de colchões drenantes, uma tecnologia para evitar alagamentos, mas, segundo moradores e trabalhadores da área, a aplicação pareceu insuficiente diante da realidade da região. A água que se acumula sobre o asfalto evidencia a falha de um projeto que, mesmo com soluções propostas, não garantiu a durabilidade do pavimento.
A via foi instalada praticamente no mesmo nível do terreno, sem a devida consideração para as particularidades geográficas do local, como o lençol freático raso. Isso resultou em um asfalto que não resiste ao acúmulo de água e que já precisa de reparos manuais, feitos com picaretas e enxadas. Tal situação levanta a pergunta: como é possível que uma obra com um custo tão alto já apresente tais problemas tão cedo?
Uma Obra Com Benefícios Questionáveis
Outro ponto que chama a atenção nesse investimento é o fato de que uma parte considerável da obra beneficia diretamente alguns proprietários rurais de destaque na região, como Glaucos da Costa Marques e José Carlos Bumlai, ambos com estreitas relações com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a operação Lava Jato, Glaucos foi apontado como um dos envolvidos nas tramas de corrupção que marcaram o governo petista. Já Bumlai, amigo pessoal de Lula, chegou a ser preso por crimes ligados à corrupção.
Esses dois pecuaristas possuem grandes propriedades nas imediações da nova avenida, e é inegável que a melhoria da infraestrutura da região eleva o valor de suas terras. O investimento público, que deveria beneficiar a população de Campo Grande como um todo, acaba por valorizar as propriedades de algumas figuras ilustres. A justificativa da administração municipal para essa obra “estrutural” parece conveniente, principalmente quando se observa que o projeto não atende a uma necessidade urgente da população, mas sim favorece uma região rural, em grande parte ocupada por pastagens e lavouras.
Falta de Planejamento e Tragédias no Caminho
Além dos problemas estruturais, a falta de elementos básicos como sinalização adequada, iluminação pública e redutores de velocidade já resultou em mortes na nova via. Em novembro de 2024, um casal perdeu a vida em um acidente, possivelmente causado por um monte de terra que ainda não havia sido retirado da pista. Em fevereiro de 2025, um motociclista também morreu após bater em um caminhão que fazia uma conversão inesperada. A ausência de iluminação pública na avenida, uma falha flagrante em um projeto dessa magnitude, agrava ainda mais os riscos. Durante a noite, a via se torna um local de difícil visibilidade, aumentando o perigo para motoristas e pedestres.
Essas mortes são um reflexo do despreparo no planejamento e execução da obra, que falhou em garantir não apenas a durabilidade do pavimento, mas também a segurança dos motoristas. O fato de o asfalto já necessitar de reparos em tempo recorde, e de a via não contar com todos os itens essenciais de segurança, é um indício claro de que a obra não recebeu a devida atenção durante sua execução.
A Realidade da Gestão Pública em Campo Grande
Essa obra é um retrato das contradições e falhas na gestão pública de Campo Grande. Ao mesmo tempo que o governo municipal se orgulha de uma “grande realização” com a pavimentação da Avenida Wilson Paes de Barros, a população sente na pele as consequências de um investimento mal executado e com interesses questionáveis por trás. Com uma parte significativa do projeto sendo direcionada a áreas pertencentes a figuras próximas ao poder político, fica claro que a obra não se destinava unicamente ao benefício da população de Campo Grande, mas também a valorizar terras de interesse privado.
É inaceitável que uma obra dessa magnitude, que consumiu tanto recurso público, comece a se deteriorar tão rapidamente. A Avenida Wilson Paes de Barros não é apenas um símbolo da ineficiência na execução de grandes projetos, mas também um reflexo da falta de prioridade nas políticas públicas de Campo Grande. Investimentos estruturais são importantes, mas precisam ser feitos com qualidade, eficiência e transparência. A população não pode ser penalizada com obras mal planejadas que, além de não atenderem às suas necessidades, ainda custam vidas.
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