Aos poucos, um ingrediente outrora marginalizado nas cozinhas brasileiras retorna ao centro do debate nutricional: a banha de porco. Tida por décadas como vilã das artérias e da balança, essa gordura de origem animal ressurge agora amparada por pesquisas que apontam possíveis vantagens frente ao óleo de soja, atualmente o mais utilizado nas residências e estabelecimentos comerciais do país.
O estudo conduzido pelas pesquisadoras Polyana Pastorelo Niehues e Sonia Bordi, da Faculdade União das Américas, propõe uma revisão nos paradigmas alimentares que se estabeleceram no século XX e início do século XXI. Em testes comparativos entre a banha de porco e o óleo de soja, os resultados surpreenderam até os mais céticos. Os dados indicam que, ao contrário do óleo vegetal, a banha manteve os níveis de colesterol HDL o chamado “colesterol bom” estáveis, enquanto o óleo de soja provocou uma queda de 20,5% nessa taxa. Além disso, enquanto o consumo de óleo de soja foi associado ao aumento do peso corporal e da gordura, a banha não apresentou os mesmos efeitos adversos.
Esse panorama coloca em xeque uma crença arraigada na cultura alimentar moderna: a de que gorduras de origem animal, especialmente a banha, seriam inevitavelmente prejudiciais à saúde cardiovascular. O estudo destaca que a composição da banha é rica em ácidos graxos monoinsaturados representando cerca de 45% da substância e ácidos graxos saturados em torno de 40% a 45%. Essa proporção confere à banha uma estabilidade térmica superior, especialmente em altas temperaturas, o que a torna mais adequada para o preparo de frituras, com menor produção de compostos tóxicos, comuns quando se utiliza óleo vegetal.
Outro fator relevante observado no estudo é a presença de vitaminas lipossolúveis na banha, como a vitamina D, essencial para a saúde óssea e o funcionamento do sistema imunológico, e a vitamina E, conhecida pelo seu poder antioxidante. Tais nutrientes são ausentes no óleo de soja, que, apesar de sua popularidade e custo acessível, não oferece os mesmos benefícios vitamínicos.
O histórico da banha no Brasil remonta à tradição rural, quando ela era usada diariamente no preparo dos alimentos, com sabor inconfundível e aroma marcante. Contudo, com a chegada da modernidade e a crescente indústria de alimentos processados, ela foi sendo substituída por óleos vegetais considerados “mais leves” e “mais saudáveis” pela propaganda da época. Agora, estudos como este reacendem a possibilidade de seu retorno às panelas das famílias brasileiras, desta vez respaldado pela ciência.
A questão central que se impõe é o uso consciente da gordura. Nutricionistas alertam que, embora a banha apresente vantagens nutricionais e metabólicas em relação ao óleo de soja, o consumo exagerado de qualquer gordura seja ela animal ou vegetal pode ser prejudicial. O ideal é utilizá-la com moderação, em uma dieta balanceada, associada a outros alimentos naturais, como frutas, verduras e grãos integrais.
É importante destacar ainda que a qualidade da banha também varia conforme a alimentação e o manejo dos animais dos quais ela é extraída. A banha industrializada, processada e vendida em grande escala, pode conter aditivos e conservantes, enquanto a banha artesanal, proveniente de porcos criados sem hormônios e com alimentação natural, tende a manter suas propriedades nutricionais intactas.
O redirecionamento das escolhas alimentares, portanto, não se resume a substituir um óleo por outro, mas exige um olhar mais crítico sobre o que consumimos. A banha de porco, que durante anos foi condenada ao ostracismo nutricional, ressurge agora como símbolo de uma alimentação mais natural, com raízes na tradição e amparo na ciência.
Com isso, abre-se espaço para um novo capítulo na relação entre saúde e alimentação no Brasil — um capítulo que valoriza o conhecimento popular aliado à pesquisa científica, respeitando os limites da moderação e o papel fundamental da informação para o bem-estar da população.
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