O setor de carne de frango brasileiro enfrenta uma das mais delicadas crises sanitárias e comerciais dos últimos anos. Até a última sexta-feira, dia 25 de maio, um total de 23 mercados internacionais suspendeu as importações da carne de frango produzida no Brasil, em função do foco de gripe aviária detectado no estado do Rio Grande do Sul. A extensão dessas restrições afeta diretamente 45% das exportações brasileiras da proteína registradas no mês de abril.
Segundo dados oficiais do Agrostat, plataforma de estatísticas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os países que anunciaram o bloqueio compraram, no último mês, 212 mil toneladas de carne de frango, de um total exportado de 462,9 mil toneladas. Em termos financeiros, essas operações representaram um faturamento de US$ 413,9 milhões, em comparação aos US$ 906,1 milhões exportados pelo Brasil no mesmo período.
Apesar da gravidade inicial, o impacto sobre as exportações a partir de maio, quando a presença do vírus foi confirmada em uma granja comercial, não deve ter a mesma proporção, conforme avaliação de representantes do governo e de fontes ligadas ao setor produtivo. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, a adoção de medidas estratégicas pelas empresas, como o estocamento da produção e o redirecionamento das vendas para mercados com restrições sanitárias mais brandas, pode suavizar significativamente a retração das vendas externas.
Ao mesmo tempo, há uma expectativa moderada em Brasília de que, já a partir desta semana, ocorra uma flexibilização gradual das restrições sanitárias, permitindo a retomada progressiva das exportações brasileiras. Tal avaliação se baseia em episódios semelhantes vivenciados recentemente pela indústria avícola nacional.
Em 2024, um surto da doença de Newcastle, registrado em Anta Gorda, no Rio Grande do Sul, levou ao bloqueio temporário de exportações para vários países. À época, a redução nas vendas foi de cerca de 18%. O foco foi detectado em meados de julho, e, mesmo assim, as exportações daquele mês somaram 451,3 mil toneladas, um aumento de 25 mil toneladas em relação a junho.
A retração mais expressiva nas vendas ocorreu em agosto, quando as exportações caíram para 369,3 mil toneladas, com uma redução de quase US$ 100 milhões no faturamento do setor. Em setembro, contudo, a situação foi rapidamente normalizada, com o Brasil exportando 471,9 mil toneladas e registrando um faturamento superior a US$ 935 milhões. Até dezembro de 2024, o ritmo permaneceu estável, com embarques mensais próximos a 450 mil toneladas.
Com base neste histórico e na similaridade dos protocolos sanitários aplicados em casos de gripe aviária, a perspectiva predominante é de que o impacto atual também seja temporário. Caso o mesmo padrão se repita, estima-se que cerca de 83 mil toneladas de carne de frango deixarão de ser exportadas em um único mês, o que poderá acarretar uma perda de aproximadamente US$ 150 milhões em receitas.
“Estamos pensando em um cenário parecido. Por mais que as restrições neste momento atinjam 45% de todas as exportações, imaginamos que pode ter um impacto menor, considerando as medidas empresariais, com a estocagem, a possibilidade de enviar a outros mercados e a evolução das flexibilizações”, afirmou uma fonte do governo federal, sob condição de anonimato.
Em Brasília, a avaliação geral é de que o impacto, embora expressivo, será mitigado dentro da cadeia avícola nacional, principalmente em razão do perfil de consumo interno. Estima-se que aproximadamente 70% da carne de frango produzida no Brasil seja destinada ao mercado doméstico, que apresenta uma média per capita de consumo próxima a 50 quilos por habitante ao ano. Assim, o volume impactado pelas suspensões – em torno de 210,8 mil toneladas – representa cerca de 14% da produção total brasileira da proteína.
Com o intuito de mitigar os prejuízos logísticos e financeiros das empresas produtoras, o Ministério da Agricultura autorizou o uso de contêineres refrigerados para a estocagem de produtos acabados nos pátios dos estabelecimentos industriais. Além disso, permitiu o transporte dessas mercadorias entre unidades sob fiscalização do Ministério ou até entrepostos comerciais, utilizando um documento simplificado, diferente do certificado sanitário usualmente emitido por servidores federais.
As suspensões das exportações afetam mercados de grande relevância comercial para o Brasil. Entre os países que fecharam temporariamente suas portas para a carne de frango brasileira estão: China, União Europeia, México, Iraque, Coreia do Sul, Chile, Filipinas, África do Sul, Jordânia, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Timor-Leste, Marrocos, Bolívia, Namíbia, Albânia, Índia, Sri Lanka e Paquistão. Destes, Índia e Paquistão realizaram importações significativas da proteína brasileira em abril deste ano.
O episódio, mais uma vez, evidencia a vulnerabilidade do comércio internacional de produtos agropecuários frente a crises sanitárias, bem como a necessidade constante de aprimoramento das medidas preventivas e dos sistemas de vigilância epidemiológica. Ao mesmo tempo, reforça a importância da capacidade do setor produtivo nacional em adotar rapidamente estratégias de mitigação e adaptação, preservando sua posição de liderança global no mercado de carne de frango.
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