O reconhecimento do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação, concedido oficialmente pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), marca um divisor de águas na história da pecuária brasileira. O certificado, obtido após décadas de esforço sanitário, é celebrado por autoridades e representantes da indústria como um passaporte para os mais exigentes e lucrativos mercados internacionais.
Nesta sexta-feira, 6 de junho, durante cerimônia realizada em Paris, representantes da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma carta estratégica. No documento, a entidade, que representa frigoríficos responsáveis por 98% das exportações de carne bovina do país, delineia as ações prioritárias para consolidar esse novo patamar sanitário e converter prestígio internacional em ganhos comerciais concretos.
Carta ao Planalto antecipa prioridades e elenca destinos estratégicos
A carta da Abiec destaca que o novo status sanitário do Brasil abre portas para uma negociação mais robusta com nações conhecidas por manterem rígidos protocolos sanitários. Entre os principais mercados citados estão Japão, Coreia do Sul e Turquia, países tradicionalmente fechados à carne bovina brasileira devido ao histórico sanitário.
O Japão, que figurava como um dos destinos mais cobiçados, agora pode ser abordado com bases mais sólidas. O presidente Lula confirmou ter tratado do tema com autoridades japonesas recentemente, enquanto o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o país asiático já iniciou verificações técnicas para reconhecer oficialmente a carne brasileira.
A Coreia do Sul também desponta como nova fronteira. Segundo a Abiec, a imagem sanitária do Brasil melhorou substancialmente aos olhos dos sul-coreanos, graças às garantias técnicas acumuladas. A Turquia, por sua vez, está posicionada no mesmo nível estratégico dos dois países asiáticos.
Filipinas, Indonésia, Canadá e México são mencionados como destinos potenciais para miúdos bovinos, produtos com elevado valor agregado. Já a China, maior compradora da carne brasileira, aparece na agenda com foco na inclusão de carne com osso e novos miúdos, além da revisão do atual protocolo sanitário bilateral.
Demandas por ajustes regulatórios e modernização institucional
A Abiec também dedica parte substancial do documento à necessidade de reformulações regulatórias e técnicas. A principal demanda é a regulamentação definitiva do Decreto do Autocontrole, que trata da habilitação de profissionais para inspeção sanitária nas plantas frigoríficas. A medida encontra resistência entre fiscais federais, que enxergam na proposta uma ameaça à atuação do Estado no controle da saúde pública e animal.
Outra prioridade listada é a aprovação do Projeto de Lei 3179/2024, que trata das horas extras dos auditores fiscais agropecuários. A indústria argumenta que a medida é essencial para assegurar a continuidade das ações de fiscalização, certificação e manutenção da credibilidade internacional do sistema sanitário brasileiro.
A carta ainda propõe uma ampla renegociação dos Certificados Sanitários Internacionais (CSIs), que, segundo a entidade, precisam refletir a nova condição sanitária do Brasil. Por fim, reforça a importância de iniciar negociações para exportação de carne com osso e miúdos a mercados que exigem status sanitário avançado.
Posicionamento institucional e expectativa de ganhos para o interior do país
Durante a cerimônia em Paris, o presidente da Abiec, Roberto Perosa, exaltou o reconhecimento internacional como fruto de uma estratégia de país bem-sucedida. Ele lembrou que cerca de 30 empresas brasileiras do setor estavam presentes no evento, o que demonstra o peso econômico do marco sanitário.
“Consumimos 70% do que produzimos e exportamos o excedente. Agora será possível aumentar os mercados, vender carne com osso, miúdos, acessar mercados mais exigentes, como o Japão, aumentar a exportação para a Europa. Será um novo momento da pecuária e da indústria, trazendo renda para o interior do país”, declarou Perosa.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), complementou afirmando que o reconhecimento internacional traz um ganho simbólico de imagem ao Brasil e fortalece o papel do país como ator global na segurança alimentar. “Ajuda a fazer justiça social, com mais valor agregado à produção dos pequenos criadores do interior”, afirmou. Santin ainda frisou que o Brasil não renunciará à responsabilidade com padrões globais de produção e sustentabilidade.
Oportunidade histórica e vigilância contínua
Embora o status de país livre de febre aftosa sem vacinação represente um marco, ele impõe ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Manter o país livre da doença será uma tarefa contínua e complexa, exigindo vigilância sanitária intensa, articulação entre governos estaduais e federal, e uma rigorosa política de rastreabilidade animal.
O cenário que se apresenta é duplo: de um lado, a oportunidade inédita de alcançar mercados antes inalcançáveis e alavancar o valor da carne bovina brasileira; de outro, a necessidade de blindar o país contra reintroduções da doença que poderiam comprometer não apenas a credibilidade sanitária, mas toda a cadeia econômica envolvida.
Assim, o Brasil se vê diante de uma encruzilhada histórica. A conquista sanitária é apenas o ponto de partida para um novo ciclo. A depender da articulação entre governo, indústria e produtores, o país poderá transformar esse reconhecimento internacional em desenvolvimento rural, inovação tecnológica, geração de emprego e ampliação da sua influência no comércio mundial de alimentos.
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