A desigualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho continua pesando não só na vida de milhões de brasileiras, mas também no bolso do próprio Brasil. Se a igualdade salarial fosse realidade no país, a economia brasileira teria recebido um impulso de R$ 95 bilhões somente em 2024. Esse dado veio à tona durante um evento realizado no restaurante Tia Zélia, em Brasília, reunindo o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, que não pouparam críticas ao atraso social que ainda marca a estrutura do trabalho no país.
O ministro Luiz Marinho foi direto: “Não tem lógica nenhuma uma mulher ganhar menos que um homem fazendo o mesmo serviço. A única explicação possível é o preconceito. É pura discriminação”. O recado foi dado de forma clara, com a firmeza de quem reconhece que o problema é antigo, mas que precisa ser enfrentado com novas estratégias e ações práticas.
Hoje, enquanto os homens recebem, em média, R$ 4.745,53, as mulheres ficam com R$ 3.755,01 — uma diferença de quase mil reais todo mês. Quando se olha para as mulheres negras, a situação é ainda mais crítica: elas ganham, em média, apenas R$ 2.864,39. Isso representa menos da metade do que recebem os homens brancos, que têm rendimento médio de R$ 6.027,21. Ou seja, além da desigualdade de gênero, o racismo estrutural escancara a exclusão de mulheres negras do topo das oportunidades.
Esses dados constam no Relatório de Transparência Salarial e de Igualdade, elaborado pelo Ministério das Mulheres em parceria com o Ministério do Trabalho e institutos de pesquisa. A última versão foi publicada em abril deste ano e mostra que, mesmo com algumas melhorias, a diferença média de remuneração entre homens e mulheres ainda é de 20,9%.
A ministra Cida Gonçalves reconheceu que houve avanços pontuais, como o aumento na participação das mulheres negras no mercado, que saltou de 3,2 milhões para mais de 3,8 milhões. Ela também destacou que cresceu o número de empresas onde a diferença de salário entre homens e mulheres está abaixo dos 5%. Mas, para ela, isso ainda é pouco diante da realidade de tantas outras brasileiras: “A maioria das mulheres ainda carrega o peso da desigualdade, da jornada dupla, da falta de reconhecimento. E quem mais sofre são as mulheres negras, que continuam sendo as mais vulneráveis”.
Outra boa notícia é que cresceu o número de vínculos formais de emprego ocupados por mulheres. Segundo o Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS), o país passou de 18 para 19 milhões de vínculos, e metade deles são de trabalhadoras. Ainda assim, esse crescimento não se traduz, necessariamente, em condições mais justas. Muitas ainda ocupam cargos inferiores, mesmo com maior qualificação.
Para tentar corrigir esse cenário, foi sancionada em julho de 2023 a Lei nº 14.611, que obriga empresas com mais de 100 funcionários a garantir igualdade salarial e a adotar medidas concretas, como publicar relatórios de transparência, criar canais de denúncia e desenvolver programas de inclusão. A ideia é forçar as empresas a olharem para dentro e corrigirem distorções que, até pouco tempo atrás, eram tratadas como normais.
Além disso, o governo federal lançou o Movimento pela Igualdade no Trabalho, um pacto firmado com empresas de diversos setores para estimular a equidade e a valorização das mulheres nos ambientes profissionais. A adesão é voluntária, mas a cobrança social vem crescendo, especialmente nas redes, onde pautas de equidade têm ganhado força.
Apesar dos esforços, o ministro Luiz Marinho deixou claro que não basta boa vontade. Para ele, é preciso incluir esse tema nas convenções coletivas, nas negociações sindicais e nos debates dentro das próprias empresas. “Só vamos resolver isso quando igualdade salarial deixar de ser uma exceção e virar regra”, afirmou.
A igualdade de gênero no trabalho não é só uma questão de justiça social — é uma oportunidade econômica gigantesca. Com mais dinheiro nas mãos das mulheres, cresce o consumo, gira a economia, aumenta a arrecadação e melhora a vida de todos. Quando uma mulher é valorizada, toda a sociedade avança junto.
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